Rachel Nuwer
Da BBC Future
Em O Planeta dos Macacos , um homem se encontra em um mundo governado por primatas superinteligentes que dão ordens a escravos humanos. Pierre Boulle, autor do livro de 1963 que deu origem à franquia do cinema, dizia que se tratava de uma “fantasia social”.
Mas e se a fantasia se expandisse para incluir não apenas os símios com inteligência humana como também todas as espécies da Terra? O que aconteceria se todos os animais do planeta se tornassem seres racionais e autoconscientes da noite para o dia? Será que uma criatura acabaria dominando as outras, como o homem fez, ou chegaríamos a uma coexistência pacífica?
Apesar de a possibilidade de isso acontecer ser nula, explorar a questão pode trazer revelações intrigantes (e até tristes) sobre a natureza humana e sobre nosso lugar como espécie dominante.
Infelizmente, a resposta para a hipótese não é das mais agradáveis: “Se isso acontecesse, caos seria pouco para definir as consequências”, afirma Innes Cuthill, ecologista comportamental da Universidade de Bristol, na Grã-Bretanha. “Não devemos assumir que a inteligência é algo bom”.
“Nós acabaríamos por exterminar uns aos outros”, concorda Robin Dunbar, psicólogo evolucionista da Universidade de Oxford. “O ser humano não é particularmente elogiado pela curiosidade e pela maneira pacífica de agir quando se trata de conhecer novas pessoas.”
Josep Call, psicólogo na Universiade de St. Andrews, também é da mesma opinião. “Se olharmos a história humana, sou pessimista até no que se refere a fazer amigos”, diz. “Talvez hoje estejamos um pouco melhores do que no passado, mas basta olhar o mundo para ver se isso é mesmo verdade.”
Terceira Guerra Mundial
Dado o nosso longo histórico de exterminar outras espécies além de nossos próprios semelhantes, não há por que acreditar que nós ou os animais dotados de inteligência agiriam de forma diferente.
Essencialmente, teríamos uma grande chance de começar a Terceira Guerra Mundial. “Nós reagimos de maneira muito negativa a estranhos e a ameaças”, diz Cuthill.
E quem ganharia essa guerra? Muitas espécies, claro, não teriam muitas chances. Os herbívoros, por exemplo, precisam passar a maior parte do tempo se alimentando para conseguir energia. Isso limitaria seus investimentos em comunicações, fabricação de ferramentas e até mesmo em uma batalha.
Aqueles que ingerem mais proteínas de origem animal teriam uma vantagem. Tubarões, golfinhos e orcas talvez ficassem de fora do páreo porque estão confinados aos oceanos - apesar de essas espécies também poderem querer travar uma guerra subaquática.
Da mesma forma, animais que não podem sobreviver fora de seu habitat - pântanos, copas das árvores ou desertos - também não conseguiriam conquistar o mundo.
Os grandes predadores, como leões, tigres, ursos e lobos, e até alguns gigantes não-predadores, como elefantes e rinocerontes, poderiam tentar dominar o resto dos seres vivos. A curto prazo, eles provavelmente seriam a maior ameaça para nós, humanos. Mas como possuímos armas modernas e somos muito mais numerosos do que qualquer uma dessas espécies, essas criaturas talvez só conseguissem sobreviver por um tempo antes de desaparecerem por nossas mãos (o que, aliás, já estamos fazendo em certa escala).
Primatas seriam ameaça?
Sem os mais formidáveis carnívoros, um novo rival surgiria: os primatas, nossos parentes mais próximos. Cuthill destaca que nossa tecnologia nos permitiu avançar como espécie, e os primatas possuem a mesma fisiologia que nos deixa utilizar essa tecnologia.
Chimpanzés, orangotangos, bonobos e gorilas poderiam acessar nossos computadores e manejar nossas armas, tirando partido ainda do fato de serem mais fortes e terem corpos mais ágeis. Eles poderiam rapidamente criar novas ferramentas e novas tecnologias.
Mas a capacidade dos primatas de fazer tudo isso dependeria de eles conseguirem hackear os conhecimentos que nós já temos - de como usar tecnologias a como entender seus inimigos. Apoderar-se desse conhecimento seria fundamental para que eles conseguissem nos dominar, mas trata-se de algo que provavelmente demoraria para acontecer - e neste interim, poderíamos dar cabo deles também.
“Se eles tivessem os mesmos conhecimentos que nós, teríamos um empate nessa guerra”, afirma Call. “Mas sem isso eles não seriam a espécie dominante.”
As armas mais poderosas - e seus donos
Entretanto, com tempo suficiente, a capacidade de se adaptar rapidamente a novos ambientes e circunstâncias seria a arma mais poderosa na conquista do mundo. Tanto que essa é uma das habilidades que possibilitaram o homem dominar a Terra.
Outro fator importante para ganhar a guerra seria a quantidade de “soldados”, assim como a capacidade de evitar ser detectado.
Em outras palavras, todas as evidências apontam para as bactérias e outros micróbios como os futuros donos do mundo - muito mais do que eles já fazem hoje. “As bactérias estão em toda parte, inclusive dentro de nós. Elas seriam um rival muito, muito poderoso”, diz Call.
Dunbar concorda. “Não me surpreenderia se um ser vivo muito menor que nós acabasse dominando o mundo. Somos muito mais vulneráveis a essas formas de vida primitivas, como bactérias e vírus”, afirma.
“O ser humano estaria em sérios apuros se tivesse que lutar contra bactérias inteligentes, principalmente as mais nocivas. O problema é que não poderíamos exterminar todas elas porque muitas são fundamentais para a nossa própria sobrevivência”, pondera Call.
O fim do mundo?
Mesmo se a humanidade fosse extinta, os conflitos continuariam acontecendo. Não há por que acreditar que animais com a inteligência do Homo sapiens se comportariam de maneira diferente de nós, em termos de exploração de recursos e de outras espécies.
Da mesma maneira, conflitos entre indivíduos da mesma espécie também apareceriam. “Os animais não resolvem problemas para o bem de sua própria espécie. Eles competem para que seu grupo ou sua família tenham a vantagem”, explica Alex Kacelnik, biólogo comportamental da Universidade de Oxford.
Ou seja, a situação provavelmente acabaria mal para todas as espécies. Com muitas delas exterminadas, os ecossistemas entrariam em colapso, deixando apenas os sobreviventes mais vigorosos - bactérias, baratas e ratazanas - habitando o planeta.
Ainda assim, o mundo não conseguiria passar a viver em uma utopia pós-apocalíptica. Como diz Cuthill, qualquer espécie que sobrar “provavalmente estragaria o planeta como já estamos fazendo”.
“Não vejo por que outras espécies seriam mais altruístas do que nós”, diz. “O equilíbrio que vemos na natureza só existe por causa de um equilíbrio de forças.”
Notícia publicada na BBC Brasil , em 7 de setembro de 2016.
Humberto Souza de Arruda* comenta
Nesta matéria da BBC, http://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-37274684 , nos é mostrada esta possibilidade fictícia.
Que interessante esta possibilidade! Ainda que remota, realmente fica difícil não imaginar um cenário caótico como sugeriu a matéria da BBC Future. Principalmente por terem acrescentada a possibilidade de que isso aconteceria da noite pro dia.
Num dia estaríamos confortavelmente no topo da escala dominante do planeta. No outro dia, já acordaríamos sendo apenas mais um dos animais que têm capacidade de conhecer, compreender e aprender. Quais os sentimentos que experimentaríamos? Medo de sermos massacrados por outros animais, por uma questão de vingança? Ou teríamos ajuda deles por uma visão de solidariedade pelo orbe que habitamos mutuamente?
São realmente muitas dúvidas. E, para ajudar, precisamos relembrar como ficamos inteligentes. Somos Espíritos que fomos criados simples e ignorantes. A inteligência que desfrutamos hoje, adquirimos por merecimento no passar de muitas existências. Assim, em uma nova existência, e ainda que de forma angelical, uma criança já traz consigo os caracteres adquiridos em suas experiências de outras existências. Por isso estes pequenos seres não agem por instinto. Já são inteligentes. E cada uma com a sua individualidade de aptidões e dons. Vamos a cada existência ficando cada vez mais inteligentes.
Entendemos, então, que seria também um caos para nós se ficássemos inteligentes de um dia para outro. Mesmo que vivêssemos sem outra espécie de animal próximo. Poderíamos nos autodestruir. Necessitamos de crescimento gradativo. Não resistiríamos se fosse de outra forma. Mas e com os animais, como seria?
Não seria diferente este pensamento. É claro que no capítulo II - Os animais e o Homem, de O Livro dos Espíritos , aprendemos que os animais têm alma, mas seu nível evolutivo distancia da nossa como nós de Deus. Aprendemos também neste capitulo que alguns deles têm também uma inteligência limitada.
Desta forma, dá para imaginar os danos trazidos por uma inteligência repentina para os animais, que têm fundamentalmente mais instinto que uma inteligência, ainda que limitada, como o caso dos que não foram domesticados. Mas sejam violentos como predadores ou totalmente passivos como as minhocas. Será que conseguiriam continuar com o seu papel na natureza sem pensar em conquistas que seriam danosas à própria espécie?
De outra forma, poderíamos imaginar um cenário diferente com relação aos animais que foram domesticados. Como o princípio inteligente está mais desenvolvido, até pela proximidade com o homem. Os cães, gatos, macacos, gados, cavalos, etc são animais que conseguem perceber muito as nossas variações de humor, pela proximidade que são criados por nós. É mais racional imaginarmos uma situação de solidariedade com o homem na busca da ascensão do Todo.
Vejamos o seguinte:
A humanidade não levou nenhum animal à extinção. Alguns humanos fizeram isso.
As pessoas não maltratam animais em cativeiros não apropriados, em zoológicos clandestinos e em experimentos maldosos. Algumas pessoas fazem isso.
Assim como o Homem não está destruindo o planeta. Alguns homens estão fazendo isso.
Olha só… Para que os animais que já têm hoje uma inteligência limitada passassem a ser inteligente como nós, eles precisariam ter consciência. E com este atributo, não levaria muito tempo para que eles tivessem consciência da nossa dificuldade em coexistirmos em total harmonia. E como estão bem próximos de nós poderiam muito bem serem parceiros nossos.
Bom, um exercício muito interessante comentar esta possibilidade, mesmo sabendo que é uma situação descartada. Mas prazerosa de imaginar, colocando à frente Deus que é inteligência suprema e causa primeira de todas as coisas, como nos foi ensinado na questão de número 1 de O Livro dos Espíritos .
E relembrando os atributos de Deus: Eterno, Imutável, Imaterial, Único, Todo-poderoso e Soberanamente Bom e Justo. Podemos tranquilamente entender que estamos cada vez caminhando melhor na direção de um mundo melhor. Temos muitos a melhorar. Entao, sabendo da Inteligência que já merecemos ter, somos perfectíveis.