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Uma questão de grande importância no campo da divulgação dos postulados doutrinários vem merecendo significativa atenção dos espíritas: os livros versus a instrução.

Uma questão de grande importância no campo da divulgação dos postulados doutrinários vem merecendo significativa atenção dos espíritas: “os livros” versus “a instrução”.

Entre a euforia pelo volume de obras vendidas no Brasil, em especial os romances, e a preocupação com seu conteúdo, a realidade é que o interesse dos leitores demonstra uma procura cada vez maior por informações trazidas do mundo espiritual. Para se ter uma ideia, a Federação Espírita Brasileira estima que já foram vendidos mais de 100 milhões de exemplares até 2009 – e 10 milhões só neste ano –, dos mais de 4.000 títulos editados.

Entretanto, mais do que quantidade de livros, o objetivo das informações transmitidas precisa ser analisado e avaliado, pois tal estratégia, a de romancear as experiências dos Espíritos, tornou-se quase que uma rotina.

Esse método não é obra do acaso, nem uma situação inédita. Allan Kardec, já na sua época, divulgava entrevistas realizadas com desencarnados de diversas categorias nas edições da Revista Espírita, e mesmo no livro “O Céu e o Inferno”, obra do Pentateuco Espírita repleta de diálogos, porém, com um propósito secundário, que era o de ilustrar, com certo realismo, a teoria resultante das reflexões, investigações e instruções recebidas e estudadas por ele e pelos frequentadores da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, e por outras instituições espalhadas pelo mundo. Mas podemos supor que aquele sistema não se mostrou bem sucedido para atrair a atenção do público, visto que o rigor acadêmico não representava a preferência popular, nem mesmo nos dias atuais. Dessa forma, os Espíritos inverteram o processo, chamando a atenção com relatos reais ou com experiências baseadas em fatos, mas que disseminam ideias e orientações valiosas para os leitores, espíritas ou simpatizantes, para, somente depois, convidá-los ao estudo sistemático.

Essa situação foi bem tratada, e com muita seriedade, pelo Espírito Bezerra de Menezes, na obra “Dramas da Obsessão”, descrevendo as ações dos Espíritos para despertarem nossa atenção:

“(…) Mas porque vimos decifrando certa inércia mental entre os aprendizes atuais da mesma Revelação, eis-nos aderindo a um movimento de reexplicações daquilo mesmo que há um século foi dito e que agora procuraremos algo encenar ou romantizar, a fim de divertir uma geração enquanto tentamos instruí-la no melindroso assunto, geração que não dispensa a positivação dos exemplos. (…) Há dois mil anos, o Mestre da Seara em que militamos criou a suavidade das Parábolas, cujos atraentes rumores ainda ecoam em nossa sensibilidade, ensinando-nos lições inesquecíveis. Seus obreiros do momento criam, ou traduzem da realidade da vida cotidiana, tal qual Ele o fez, a exemplificação dos romances, ou lições romantizadas, expondo teses urgentes, ensinamentos indispensáveis, no sabor de uma narrativa da vida comum. É o mesmo método de há dois mil anos, criado pelo Divino Mestre, para instrução urgente e fácil das massas…”

Muitos são os que, partindo de um romance comprado ou presenteado, se aproximaram das instituições espíritas para aderir aos estudos da Codificação ou mesmo das obras lidas, o que se fez cumprir o objetivo primário destas publicações, que era instruir, numa trajetória que costuma ser comum à maioria, na sequência: uma experiência dolorosa; uma leitura consoladora; a procura de ajuda; a instrução.

O que concluímos nesse processo é que houve a inversão da estratégia para despertar as mentes das massas, mas não se deve perder o foco: “Espíritas! amai-vos, eis o primeiro mandamento; instrui-vos; eis o segundo”. (ESE)

Nossas instituições, portanto, precisam estar atentas ao trabalho conjunto que devem realizar com os Espíritos, não apenas se aproveitando das circunstâncias para receber os interessados nas instruções espíritas, mas fazer com que as obras do acervo espírita, assim como as demais mídias (escrita, falada, televisiva e cinematográfica), sejam parte da cadeia de divulgação doutrinária, fazendo o papel de “pontas de flecha” ou embaixadores da mensagem para que a verdade seja alcançada por todos através do estudo nos centros de instrução.