Lembra Kardec: " Uma publicidade em larga escala , feita nos jornais de maior circulação, levaria ao mundo inteiro, até às localidades mais distantes, o conhecimento das idéias espíritas , despertaria o desejo de aprofundá-las e, multiplicando-lhes os adeptos, imporia silêncio aos detratores, que logo teriam de ceder, diante do ascendente da opinião geral." (1) (grifamos)
Divulgação em grande escala se consegue hoje através da Internet, conhecida como a maior rede de computadores do mundo, que permite trocar informações dos mais variados assuntos, enviar mensagens, conversar com milhões de pessoas ou apenas ler as informações de qualquer parte do planeta. Em face disso, cremos que ela tem o papel mais importante na divulgação do Espiritismo contemporâneo, até porque “recordemos que o Espiritismo nos solicita uma espécie permanente de caridade - a caridade da sua própria divulgação.” (2)
Na era da cibernética, da robótica, “vivemos épocas limítrofes na qual toda a antiga ordem das representações e dos saberes oscila para dar lugar a imaginários, modos de conhecimento e estilos de regulação social ainda poucos estabilizados. Vivemos um destes raros momentos em que, a partir de uma nova configuração técnica, quer dizer, de uma nova relação com o cosmos, um novo estilo de humanidade é inventado. “(3) Há quem compare um microcomputador ao médium, através do qual recebemos mensagens, sem que vejamos quem enviou a mensagem. Com um grau de interferência infinitamente menor que o médium humano, transmitindo assim mais fielmente as mensagens. Razão pelo qual é importante analisar as “mensagens” que recebemos, pois se queremos conhecer a pessoa que nos escreve, necessitamos analisar o seu conteúdo. Uma vez que se “a divulgação na internet deve ser livre, porém aqueles que querem divulgar o Espiritismo devem ter a consciência da responsabilidade, procurando sempre saber as finalidades da divulgação e as suas conseqüências, porque a Internet não é só livre, ela é abrangente. Ela atinge proporções globais, colocando o Espiritismo face a face com outras realidades.” (4)
É fato que através do computador não se é possível receber um abraço fraterno, podemos, porém, receber uma palavra amiga. Recordando que com o acelerado progresso tecnológico já é possível se obter comunicações audiovisuais o que sem dúvida vai aproximar ainda mais as pessoas. Cada um de nós, do conforto de nossos lares, pode enviar uma palavra amiga, disponibilizar as atividades do seu centro, integrar-se em grupo de estudo e de discussão, ouvir palestras edificantes e até conversar face a face através do computador com pessoas que precisam ser reconfortadas.
O pessimista e crítico contumaz lembra da exclusão digital, o que é uma realidade, mas e no futuro? Cremos que no porvir ter Internet em casa será tão comum quanto ter uma geladeira, uma televisão ou mesmo um telefone.
Existem inúmeros grupos de estudo e discussões sobre temas espíritas na Internet com um conteúdo magnífico. Não há dúvida que este é um excelente caminho, especialmente pelo fato de atingir lugares, e até outros países, onde o Espiritismo ainda é quase desconhecido. Cremos que os espíritas precisam se acostumar com isto, porque a próxima geração dominará esta linguagem e, se nós soubermos usá-la, temos um grande auxiliar do nosso trabalho, tanto para troca de idéias e textos como para pesquisa.
É importante lembrar que o Espiritismo é uma doutrina aberta aos avanços científicos. Transformações sociais, mudanças no panorama dos conhecimentos gerais do homem não as podem estagnar, não podem fechá-la em um pétreo corpo ortodoxo. A rigor, a Internet é um foro de discussão, de ligação entre todos que se dedicam ao estudo da doutrina, a pesquisa de suas novas fronteiras e a aplicação dos conhecimentos já firmados. “A Internet elimina as barreiras físicas e estabelece a ligação que permite que as notícias corram rapidamente o mundo, que novas idéias sejam apresentadas e debatidas, que exemplos sejam conhecidos e seguidos, que resultados sejam checados e validados. Nela estamos todos próximos, todos em condição de conhecer o que se passa nos vários cantos deste nosso mundo.” (5)
Óbvio que nessa nova tecnologia de informação se corre o perigo de qualquer pessoa falar em nome do Espiritismo, deturpando os seus conceitos, contudo problemas surgem em qualquer veículo de difusão doutrinária. Por mais que “instituíssemos” mecanismos de proteção, sempre haveria possibilidades de os ultrapassar. “Com o tempo as pessoas vão saber distinguir o joio do trigo. Não devemos ter medo da Internet, como a Inquisição teve medo dos livros. Tal como Kardec devemos aprender a enfrentar as investidas, sempre com a intenção de procurar a verdade e de esclarecer.” (6)
Precisamos confiar na força da mensagem virtual como meio poderoso de divulgação espírita. Cremos que em poucos anos a Internet vai ser a maior via de intercâmbio do movimento espírita. Por isso, Kardec já mencionava que “dois elementos hão de concorrer para o progresso do Espiritismo: o estabelecimento teórico da Doutrina e os meios de a popularizar .” (7) (grifamos).
“Desde a popularização do rádio - inventado por Marconi, em 1895, e disseminado em grande parte do mundo até as décadas de 30 e 40 -, da TV - por John Baird, 1925, e disseminada no Brasil a partir dos anos 50 e da Internet, a partir da década de 90 - com a criação dos sistemas de rede (web) - creditada a Tim Berners Lee -, o nível de informação das pessoas aumentou consideravelmente. Mesmo aqueles considerados ignorantes na sociedade atual detêm um volume de informação muito maior que há algumas décadas.” (8) Em termos espíritas, isso pode proporcionar um aprofundamento sobre a Doutrina por parte daqueles que já se dizem adeptos e também atrair outros que têm alguma informação sobre o caráter conceitual do Espiritismo.
A Internet permitirá um contato mais rico com a monumental obra espírita. Onde se é possível elaborar cursos interativos, por exemplo, uma discussão da obra de André Luiz, apontando **links ** (9) relevantes entre os deferentes textos, e com comentários feitos por autores reconhecidos.
Os livros de referência poderão ser disponibilizados em **hipertexto ** (10), em versões de fácil consulta. Relatos específicos deverão ser colecionados e indexados para pesquisa rápida. Tudo isso poderá ser feito, de forma totalmente voluntária e colaborativa, usando para isso não apenas os recursos técnicos da rede, mas também a sua estrutura social, que foge de todos os parâmetros tradicionais.
Vai ser através da Internet que serão possíveis os estímulos de fraternidade entre as diversas instituições espíritas em nível mundial. “E é através da Internet que vai nascer um novo momento para o movimento, a diretriz dada por Ismael: Se Paulo teve que ir de cidade em cidade divulgar a boa nova, hoje a Providência dá-nos a oportunidade de estarmos no conforto da nossa casa e espalhar a boa nova aos quatro cantos do planeta.” (11)
Nosso irmão Divaldo expõe sua emoção ante a Internet quando diz: “comovo-me diante deste excelente recurso que diminui distância, ainda mais por sentir participando deste nosso convívio alguns benfeitores espirituais que estão a todos nos envolvendo em ondas de paz e vibrações de saúde, entre os quais os Espíritos Eurípedes Barsanulfo, Cairbar Schutel, Joanna de Ângelis e Vinícius, igualmente felizes, abençoando a tecnologia e a informática utilizadas para o bem.” (12)
É importante ressaltar o problema da credibilidade que poderá ser resolvido e atacado de inúmeras formas, seja através da tecnologia, seja através da divulgação. Mas também é imperioso refletir que: a ausência de informações claras da Doutrina Espírita na Internet, abre sem dúvida, espaço para que outros tipos de informação enganosos sejam espalhados pela rede. Este é um risco muito maior do que qualquer outro que possa ser assumido através da livre publicação do material espírita. Nesse tópico ressalte-se que é tecnicamente possível disponibilizar toda literatura espírita em meios eletrônicos.
Diante disso, como garantir que o material postado seja legítimo? Como evitar que surjam cópias falsas, ou apenas mal editadas, por aí? Ambas as questões são importantes e relevantes, para que possamos entender como aplicar a Internet corretamente ao ambiente espírita. Neste caso, a vigília equilibrada é fundamental para atingir uma abordagem balanceada, que possa explorar plenamente a tecnologia que temos disponível, e concomitantemente se protejam os objetivos maiores do trabalho que está sendo desenvolvido em nome da Terceira Revelação.
24/01/2006
FONTES:
1 - Kardec ,Allan. Obras Póstumas-Projeto 1868, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001;
2 - Xavier, Francisco Cândido. Estude e Viva, Ditada pelo Espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, Cap. 40;
3 - Pierre Lévy - As tecnologias da Inteligência - O futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 2004;
4 - Artigo de Sérgio e Carlos Alberto Iglesia Bernardo. “Sobre o Espiritismo e a Internet”, publicado no Boletim GEAE Número 280, de 17 de fevereiro de 1998;
5 - Artigo de Carlos Alberto Iglesia Bernardo. Espiritismo e a Internet, publicado no Boletim GEAE Número 282, de 3 de março de 1998;
6 - Entrevista de Sérgio Freitas. Internet: O Centro Espírita Virtual, publicado na Revista de Espiritismo nº 33, outubro/dezembro 1996. (Sérgio Freitas, licenciado em Engenharia Informática pela Universidade Federal de Uberlândia, é Mestre em Ciência da Computadorização pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Porto Alegre). É colaborador do Centro Espírita Perdão e Caridade, de Lisboa);
7 - Kardec, Allan. Obras Póstumas - Projeto 1868, Rio de Janeiro: Ed FEB, 2001;
8 - Ana Paula da Silva - O Espiritismo frente ao Homem da “Sociedade da Informação” - Palestra apresentada no Instituto de Cultura Espírita de Piracicaba (ICEP), em 23/10/03 - Jornalista; mestranda em Jornalismo na ECA/USP;
9 - LINK: significa um acesso eletrônico, seja por meio de imagens ou palavras, que permite a conexão a outras telas de um mesmo Site;
10 - Poderíamos adotar como noção de hipertexto, assim, o conjunto de informações textuais, podendo estar combinadas com imagens (animadas ou fixas) e sons, organizadas de forma a permitir uma leitura (ou navegação) não linear, baseada em indexações e associações de idéias e conceitos, sob a forma de links. Os links agem como portas virtuais que abrem caminhos para outras informações;
11 - Cf. Sérgio Freitas publicado na Revista de Espiritismo nº 33, outubro/dezembro 1996;
12 - Divaldo Pereira Franco, em palestra virtual realizada dia 17/03/2000.