6 de maio de 2016
‘Me sinto destruída por dentro’: o diário da adolescente que se suicidou em clínica psiquiátrica
A jovem britânica Sara Green cometeu suicídio aos 17 anos, quando estava internada em uma unidade especial de tratamento psiquiátrico na Inglaterra.
Sara tinha um amplo histórico de problemas de saúde mental desde os 11 anos de idade. Ela gostava de escrever e em seu diário relatava as dificuldades que enfrentava no dia a dia.
A BBC teve acesso a este diário, divulgado para chamar a atenção à angústia que alguns pacientes jovens sofrem ao serem tratados em clínicas para adultos.
“Chorei muito hoje e sei que amanhã vai ser pior”, diz um dos trechos.
Autoflagelo
Antes de ser internada, Sara foi vítima de bullying no colégio e se autoflagelava para tentar aliviar seu sofrimento.
“Não me aceitavam na escola. Há um limite para o número de insultos que uma pessoa pode suportar. Me odeiam pelo que sou, mas tenho certeza que eu odeio a mim mesma. Não entendo como deixei que me afetassem assim”.
Ela também desenvolveu transtorno obsessivo compulsivo (TOC). Apesar disso, conquistou resultados excelentes nas provas escolares e esperava entrar na universidade.
Em 2011, três anos de morrer, teve uma overdose de antidepressivos. A família descobriu a tempo e a levou para uma unidade de terapia para jovens como paciente voluntária.
Ela chegou a receber alta, mas os problemas estavam longe de acabar.
“Quero dizer a verdade sobre como as coisas pioraram. Não estou bem. Estou destruída por dentro”, escreveu.
A ONG Insight, organização independente de ajuda legal que está apoiando a família Green, afirma que Sara seguiu cometendo atos de automutilação e, em 2013, teve outra overdose.
Nessa ocasião, tinha sido internada em uma unidade para adultos em uma clínica privada a 160 quilômetros de sua casa. A expectativa era de que ficasse por ali durante um curto período de tempo, mas ela permaneceu internada por nove meses.
No diário, Sara descreve como sentia falta da família e a dor de estar tão longe de casa.
“Quero ir para casa. Fico esperando o momento em que mamãe e Stacey (sua irmã) possam me visitar porque não poder vê-las tem me feito sentir muito pior”.
Apesar dos esforços do sistema de saúde mental, não foi possível encontrar um lugar para Sara em uma clínica mais próxima da casa dela.
E suas obsessões se agravavam. “O que acontece agora é que penso muito mais em suicídio do que quando cheguei a este lugar. Neste momento esses pensamentos são cada vez piores”, escreveu.
No intervalo de um mês, ela tentou se enforcar oito vezes.
Em março de 2014, Sara foi encontrada no chão do seu quarto, com um arame de caderno espiral no colo. Apesar das tentativas da equipe do centro e dos serviços de emergência, não foi possível reanimá-la.
O inquérito final sobre as circunstâncias e causas da morte fez duras críticas à clínica.
O médico forense concluiu que Sara não tinha intenção de morrer. Ele declarou ainda que não havia sido um suicídio, mas uma automutilação provocada pelo agravamento de suas ansiedades por causa do longo período que passou em um clínica para adultos longe de casa.
A clínica assegurou que mudaria os procedimentos e aprenderia lições.
“Sara estava assustada porque sabia o que estava acontecendo”, disse a mãe da jovem à BBC.
“Por isso é tão difícil, porque ela sabia que não poderia fazer nada a respeito. E nada pôde fazer a respeito”.
Tratamentos especiais
O caso de Sara não é único. Serviços de saúde mental, tanto no Reino Unido como em outros países, têm demonstrado falhas ao lidar com crianças e adolescentes.
Segundo a ONG Inquest, somente na Inglaterra, desde 2010 nove jovens morreram durante internações em clínicas de tratamento psiquiátrico.
O caso de Sara trouxe à tona a necessidade de se criar sistemas de tratamento dirigidos especificamente aos jovens, cuja vulnerabilidade é muito diferente dos pacientes adultos.
E Sara deixou isso registrado no seu diário.
“Não quero ser eu, (…) quero ser livre… necessito de um remédio para curar essa dor… sei que sorrio, mas faz tempo que não sou feliz”.
Notícia publicada na BBC Brasil , em 14 de abril de 2016.
Jorge Hessen comenta*
Não trataremos as eventuais falhas da clínica inglesa. Explanaremos rapidamente sobre os transtornos, as automutilações ou autolesões. Tais ocorrências são associadas a um distúrbio psicológico conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), classificada pelo psicanalista Adolph Ster como uma patologia entre a neurose e psicose que gera uma disfunção no metabolismo cerebral, desintegrando o ego e gerando um sentimento de perda desesperador.
A literatura específica anota que os sintomas (TPB) costumam surgir durante a adolescência, permanecendo por aproximadamente uma década na maioria dos casos. As pessoas acometidas desse transtorno sentem uma necessidade enorme de autopunição pelos insucessos e frustrações pessoais na vida cotidiana. Os pesquisadores acreditam que pode ter origem genética também associada a fatores traumáticos durante a infância ou adolescência, como possíveis abusos sexuais, negligências, separações e orfandade.
A pessoa acometida do Transtorno de Personalidade Borderline (TPB) sente alívio emocional cada vez que se machuca. Entre os frequentes ferimentos associados estão: esmurrar-se, chicotear-se, enforcar-se por alguns instantes, morder-se, apertar ou reabrir feridas, arrancar os cabelos, queimar-se, furar-se propositalmente com objetos pontiagudos, beliscar-se, ingerir agentes corrosivos e objetos, envenenar-se por overdose de remédios ou produtos químicos (sem intenção de suicídio), bater com a cabeça na parede, esmurrar superfícies duras.
O fato é que a ciência clássica não alcança elucidar suficientemente as razoáveis causas dos distúrbios psicológicos e mentais. A psiquiatria se mantém aprisionada aos limites do cérebro, fonte que, como nós espiritas sabemos, não é a raiz essencial das patologias mentais, mas tão somente a exteriorização do efeito da enfermidade.
Gostem ou não, aceitem ou não, em verdade, o Espiritismo abalou as estruturas da ciência mecanicista vigente e trouxe uma insurreição no campo das ideias materialistas, inovando as considerações religiosas e científicas. A ideia da existência de um ente extrafísico (Espírito) pôde elucidar a origem de muitos enigmas patológicos da psiquê.
Nesse sentido, o Espiritismo avança muito mais ao debater e analisar racionalmente a Lei da reencarnação, explicando a questão dos vínculos de causas atuais e passadas das doenças. A Lei de causa e efeito amplia o debate e auxilia a compreender, por exemplo, que a vida presente é reflexo do que temos sido até hoje, incluindo aí as nossas experiências pretéritas (reencarnações anteriores).
Os atuais quadros psicopatológicos devem ser analisados sob esse prisma (causa e efeito), como reflexo dos distúrbios morais de vidas anteriores, considerando sua manifestação de uma forma invariavelmente dramática, trazendo sofrimento tanto para o doente como para a família; daí concluir-se que realmente signifique repercussão de desvios éticos das existências pregressas.
A partir do momento da concessão da reencarnação com todas as fases, durante e após a concepção, o reencarnante imprime as suas necessidades e heranças genéticas nas moléculas de DNA do novo corpo físico, comprometendo ou até mesmo potencializando as funções dos neurotransmissores cerebrais. As experiências de vidas anteriores do Espírito, portanto, são os legados trazidos e construídos por si mesmo, plasmando-se-lhe o fadário. Se houver sincero desejo de redimir-se das faltas, o mecanismo da Lei de causa e efeito aplica-lhe o abrandamento correspondente aos ecos dos deslizes morais que lhe pesam na economia moral.
Isso equivale a assegurar que o gérmen da doença mental já estava registrado no perispírito do reencarnante. Da neurose mais simples, passando pela demência, histeria, ansiedade mórbida, esquizofrenia, a gênese é sempre espiritual. Destacando no debate que a doença mental é expiação ou prova também para os pais que podem ter sido coadjuvantes das culpas desses doentes.
Compreendemos que a cura integral dos quadros psicopatológicos é muito difícil porque consta do plano reencarnatório do Espírito, mas a dor, tanto do doente quanto da família, pode ser suavizada se houver em mente nos envolvidos no drama a certeza de que Deus não coloca fardos pesados em ombros frágeis.
Sob o ponto de vista espírita, a terapêutica no tratamento das tragédias psicopatológicas (obsessivas ou não) é essencialmente preventiva, pois o Espiritismo sugere a resignação ante às vicissitudes da vida que poderiam causar o acirramento ou a atenuação da doença. O autoconhecimento, a busca constante da reforma íntima e a transformação pessoal de cada envolvido constituem meios eficazes de manter a saúde psíquica de todos, já que qualquer um de nós pode ser doente em potencial.
Se atinarmos para a vida eterna, notaremos que sofremos hoje tão somente uma fase diminuta e transitória da existência. Urge reconhecer, por isso mesmo, que a cruz que transportamos, embora possa parecer excessivamente pesada, pode ser perfeitamente carregada se mantivermos a força moral e confiança na Providência Divina, e todo esforço será recompensado consoante estabelece os Estatutos do Criador, em cujos códigos jamais haverá espaços para dispositivos injustos.