Carregando...

  • Início
  • Menino envia carta a juiz que liberou presa para viver últimos dias em casa

A decisão de um juiz de execuções penais de libertar uma presa em estado terminal para que pudesse passar os últimos dias de vida em casa, ao lado da família, motivou o filho dela, um menino de 11 anos, a escrever uma mensagem ao magistrado, enviada pela internet. Glória Alves comenta.

  • Data :20/04/2016
  • Categoria :

20 de abril de 2016

Menino envia carta a juiz que liberou presa para viver últimos dias em casa

Ele agradeceu decisão que permitiu a mãe com HIV ‘morrer com dignidade’. Mulher estava com lesão cerebral e algemada em hospital de Joinville, SC. Mariana FaracoDo G1 SC A decisão de um juiz de execuções penais de libertar uma presa em estado terminal para que pudesse passar os últimos dias de vida em casa, ao lado da família, motivou o filho dela, um menino de 11 anos, a escrever uma mensagem ao magistrado, enviada pela internet. O caso aconteceu em Joinville, no Norte de Santa Catarina. Em dezembro do ano passado, a sogra da mulher presa chegou de mãos dadas com o neto ao gabinete do juiz João Marcos Buch para fazer um pedido: que a mãe do menino, presa havia 6 anos por furto e então hospitalizada, tivesse o direito de morrer em casa, “com dignidade”. O juiz decidiu ir até o hospital onde a presa estava internada com uma lesão cerebral provocada pela toxoplasmose, adquirida em decorrência da aids.

Paralisada e algemada “Embora estivesse com metade do corpo paralisado, ela estava algemada pelo tornozelo. Compreendo que é um protocolo de segurança, mas não era razoável”, contou o juiz. Ele decidiu, então, autorizar a prisão domiciliar, o que foi feito assim que a presa recebeu alta. No dia 25 de março, a mulher morreu num hospital de Florianópolis, após passar os últimos dias de vida na casa de uma irmã, ao lado dos filhos de 11 e 9 anos, que ela não via fazia mais de um ano. Sobre o tempo que passaram juntos, a avó do menino que escreveu a carta conta que a criança teve dedicação total à mãe. “Foram à praia, fizeram passeios. Ele dormia num colchão ao lado do sofá só pra cuidar dela, caso ela precisasse de alguma coisa. Deixou até de brincar para cuidar da mãe”, conta. A criança retornou a Joinville, e hoje vive com o irmão sob os cuidados da avó paterna. Com 20 anos de magistratura, Buch se surpreendeu quando leu a mensagem enviada pelo filho da presa, semanas depois. Na carta, o menino agradece pela decisão de dar “dignidade” à morte da mãe, revela também ser soropositivo e se mostra esperançoso com o futuro.

Leia a íntegra da carta: Olá, senhor juiz. Minha avó disse que eu podia deixar um recado aqui, que o senhor ia ver. Tenho 11 anos e sou filho da … Sei que o senhor vai lembrar, sou neto da… e só queria agradecer ao senhor. Cresci vendo meus pais fazendo coisa errada e sendo presos. Por muitas vezes entrei na prisão para visitar meu pai ou minha mãe. Por muitas vezes vi eles ganharem a liberdade e novamente serem presos. Mas hoje esse é um passado que não faz mais parte do meu presente. Quis Deus que meu pai saísse da prisão em dezembro, de condicional e fosse trabalhar. Minha mãe, quis Deus que ela ficasse bem doente e o senhor foi lá soltar. Eu tava segurando a mão da minha vó quando ela foi na sua sala pedir para aquelas moças que alguém fizesse alguma coisa pra minha mãe morrer com dignidade e o senhor fez. Também sou soropositivo, essa escolha não fui eu quem fez, mas tenho direito às próximas. E desde já quero ser um homem honesto. Obrigado, senhor juiz João Marcos.

Menino em silêncio O juiz diz se lembrar de que, na ocasião da visita ao seu gabinete, o menino permaneceu em silêncio, “não chamou muita atenção”. “Mas o caso me sensibilizou. Não é razoável morrer no ambiente carcerário quando se tem uma família do lado de fora”, explicou o juiz. “Ela morreu com a liberdade que ansiou, teve tempo de se arrepender”, afirma a avó do menino. “E meu neto sentiu que tinha que agradecer, por isso escreveu a carta.” Buch diz que já havia tomado decisões anteriores do mesmo tipo, mas sem a mesma repercussão. Ele afirma que costuma receber pessoas em seu gabinete e mantém uma página não pessoal em uma rede social, onde mantém contato com egressos do sistema prisional e familiares. “Não posso aconselhar, mas é uma maneira de humanizar a Justiça", afirma o juiz. Na resposta à criança, Buch escreveu, de maneira simples e bem longe do complexo vocabulário jurídico: “Vc é um menino muito inteligente.” Notícia publicada no Portal G1 , em 15 de abril de 2015.

Glória Alves* comenta Duas atitudes me chamam atenção nessa matéria: A primeira é a do juiz de direito João Marcos Buch que se sensibiliza com o pedido de uma mãe, e liberta a filha, presa em estado terminal, para que pudesse passar os últimos momentos de sua vida junto aos seus familiares, além de manter uma página não pessoal em uma rede social, para conservar o contato com os ex-detentos e seus familiares, página essa usada pelo menino para escrever para ele em agradecimento; e uma de suas frases quando diz: “não posso aconselhar, mas é uma maneira de humanizar a Justiça". E a segunda é a atitude do menino, de 11 anos, que mesmo vivendo a dor de ter os pais presos, mãe falecida há pouco tempo, uma criança, consciente da sua vida, mostrar-se esperançoso quanto ao seu futuro e agradecido ao juiz por ter concedido a prisão domiciliar a sua mãezinha para morrer em casa, tendo a oportunidade de cuidar dela até o final. Nosso mundo vive o seu processo de transformação. Como planeta, também evolui, como evolui todos os seres que lhe estão agregados. Essa transformação, sabemos, não se faz de um dia para o outro. Estudando a Doutrina Espírita, verificamos que esse processo vem (se dá) desde que a Terra foi criada pelas mãos augustas do Arquiteto Divino, Jesus. Nós, Espíritos Imperfeitos, ou em construção para o Reino Angélico, acompanhamos esse processo de transformação; visto que tudo progride, tudo segue as leis de Progresso, lei de Deus. Estamos fadados a angelitude, e, mais cedo ou mais tarde, de acordo com nossa vontade ou pela força das coisas, avançaremos, é inexorável; acreditemos ou não nessa possibilidade, o fato é que o ser humano avança desenvolvendo o amor, embora ainda envolvido em suas sensações e desejos egoísticos, mas avança, rumo aos sentimentos. Diz-nos o Espírito Lázaro, em uma de suas mensagens, dada em Paris, em 1862, que “o ponto delicado do sentimento é o amor, não o amor no sentido vulgar do termo, mas esse sol interior que condensa e reúne em seu ardente foco todas as aspirações e todas as revelações sobre humanas”.(1) Lázaro, nessa linda mensagem, nos deixa claro que só o amor pode extinguir o egoísmo e as misérias sociais. “A lei de amor substitui a personalidade pela fusão dos seres; extingue as misérias sociais.”(2) O Mestre Incomparável, Jesus, Espírito Puro, um dos Ministros e mensageiros de Deus, veio até nós trazer a eterna mensagem do amor universal; ele próprio se sacrificou e encarnou entre nós, adensando seu perispírito, para assumir a condição de homem como nós, sabendo que muitos de seus irmãos não o entenderiam, contudo, de lá para cá, já avançamos, o amor ao próximo e a si mesmo, não é letra morta, está ínsito em nós, e a prova disso é que vemos todos os dias gestos de fraternidade e solidariedade partindo dos corações dos homens. A atitude do juiz João Marcos Buch prova que o ser humano existe antes do título e da função que está exercendo no momento presente. Um juiz, por ser juiz, para fazer cumprir as Leis, não precisa ser frio, indiferente com o seu semelhante. Independentemente de quem quer que seja e dos delitos que se tenha cometido, diante dele estará sempre um irmão, cuja ignorância, desconhecimento de Deus e das Suas leis necessita da nossa misericórdia. Jesus, quando aqui esteve, nunca desprezou um desgraçado, um doente, um obsidiado, um pobre… Viveu entre o povo buscando desenvolver em seus corações o amor fraterno. Ter compaixão, se colocar no lugar do outro e refletir se estivesse na mesma posição como agiria. E é assim, até nossos dias; o Mestre busca as almas doentes, sofridas, enfermas, e débeis: nós. Cumprida a lei humana, respeitada em seus códigos, mas no momento em que aquela mulher doente, terminal, necessitou de ajuda para morrer junto à família, prontamente o nobre juiz entendeu, não julgou, mas agiu…. É certo que nesse momento, o juiz obedece a “Constituição Federal”, que dá ao preso o direito à assistência médica e lhe assegura um tratamento humano; porém vemos antes de tudo, um ser humano, que ama a Deus acima de todas as coisas, pois obedece a Lei Maior, a Lei de Amor. A compaixão e a empatia são partes da lei maior, a lei de amor. A empatia nos torna mais humanos, mais próximos da realidade do outro, de suas dificuldades e de seu caminho. O juiz João Marcos Buch foi empático. E diante de nós vemos uma criança, como muitas espalhadas pelo nosso Brasil, e por que não dizer pelo mundo, sofrida, amadurecida pela força das coisas, e em seu relato no Facebook, descreve seu sentimento diante dos fatos ocorridos em sua vida, em sua família: “Cresci vendo meus pais fazendo coisa errada e sendo presos. Por muitas vezes entrei na prisão para visitar meu pai ou minha mãe. Por muitas vezes vi eles ganharem a liberdade e novamente serem presos. Mas hoje esse é um passado que não faz mais parte do meu presente”, diz o menino. Resignação e fé no futuro; a fé é o remédio seguro do sofrimento, e podemos perceber isso através das palavras do menino, Espírito Imortal, com suas experiências adquiridas em várias existências e que hoje mais maduro espiritualmente sabe que tem que fazer escolhas, escolhas acertadas, diz ele: “Também sou soropositivo, essa escolha não fui eu quem fez, mas tenho direito às próximas. E desde já quero ser um homem honesto”. Mergulhado na atmosfera do vício, vivendo com os pais que não conseguiram vencer a si mesmos, deixando-se levar pelas paixões más, o pequeno pode, por uma vontade firme, pela fé em Deus e em si mesmo, resistir às tentações e não se deixar arrastar, fazendo escolhas com acerto. “O lar é o grande formador do caráter do educando. Muitas vezes, no entanto, lares infelizes, nos quais as pugnas por nonadas se fazem cruentas e constantes, não chegam a perturbar adolescentes equilibrados, porque são Espíritos saudáveis e ali se encontram para resgatar, mas também para educar os pais, servir de exemplo para os irmãos e demais familiares. Não seja, pois, de estranhar, os exemplos históricos de homens e mulheres notáveis que nasceram em lares modestos, em meios agressivos, em famílias degeneradas, e superaram os limites, as dificuldades impostas, conseguindo atingir as metas para as quais reencarnaram.”(3) Apesar das inúmeras notícias veiculada nas mídias, de violência e crueldade em todo o mundo, corrupções de todos os tipos em nosso país, não acreditemos “na esterilidade e no endurecimento do coração humano; ao amor verdadeiro, ele, a seu mau grado, cede. É um ímã a que não lhe é possível resistir”.(4) Trazemos em nós esse gérmen sagrado que vamos desenvolvendo no contato com os nossos irmãos de caminhada. Um dia nossa Terra estará purificada por essa energia, por esse sol interior, e todos nós praticaremos a caridade, a fraternidade, a solidariedade, a abnegação e o devotamento, a resignação e o sacrifício… Enfim, felizes praticaremos o AMOR!

Referências bibliográficas: (1) ESE – Cap. XI – Amar o Próximo como a Si Mesmo, item 8; (2) ESE – Cap. XI – Amar o Próximo como a Si Mesmo, item 8; (3) Adolescência e Vida. Pelo Espírito Joanna de Ângelis - Divaldo Franco; (4) ESE – Cap. XI – Amar o Próximo como a Si Mesmo, item 9.

  • Glória Alves nasceu em 1º de agosto de 1956, na cidade do Rio de Janeiro. Bacharel e licenciada em Física. É espírita e trabalhadora do Grupo Espírita Auta de Souza (GEAS). Colaboradora do Espiritismo.net no Serviço de Atendimento Fraterno off-line e estudos das Obras de André Luiz, no Paltalk.