“Se a humanidade fosse extinta, a Terra e os animais seriam mais felizes”, afirmou Raphael Samuel, em entrevista à BBC

Por Tamires Vitorio

São Paulo — Raphael Samuel, um indiano de 27 anos, pretende processar os pais porque eles não perguntaram sobre a sua vontade de nascer.

“Não fomos perguntados se queríamos nascer […] Nascer não foi sua decisão e você não pode ser responsabilizado por algo que não é uma decisão sua”, diz ele em um vídeo publicado no YouTube.

Participante de um grupo antinatalidade, Samuel defende que as pessoas não deveriam nascer para sofrer e que os pais não têm o direito de ter um filho sem o consentimento da criança.

Em entrevista para a BBC, Samuel afirmou que “a humanidade não faz sentido”, uma vez que “muitas pessoas estão sofrendo”. “Se a humanidade fosse extinta, a Terra e os animais seriam mais felizes”, afirmou.

Usando barba falsa e óculos escuros, o indiano explica no vídeo porque vai processar os pais e diz que eles não são donos dos filhos. “Eles são indíviduos, não seus investimentos”, completa.

O indiano, no entanto, assume que seria impossível conseguir o consentimento de um ser humano que ainda não nasceu e está a procura de um advogado que aceite defender o caso.

Na terça-feira (6), a mãe do rapaz — advogada, assim como o pai de Samuel —, se pronunciou sobre a situação em uma postagem no perfil do filho no Facebook.

Segundo ela, se Samuel puder dar “uma explicação racional de como poderia ter consentido seu nascimento, ela aceitará a culpa” e que “está feliz que o filho cresceu destemido e independente”.

Também para a BBC, Raphael afirmou que “queria não ter nascido”. “Não é que eu esteja infeliz, minha vida é boa, mas não queria estar aqui”, contou.

Notícia publicada na Revista Exame , em 8 de fevereiro de 2019.

Jorge Hessen* comenta

Conquanto não queria ter nascido, Samuel afirma que não está infeliz, pois sua vida é boa, mas não queria estar aqui na Terra. Raphael é um adepto do estranho ideário antinatalista. Notório nos Estados Unidos e conhecido como childfree , o movimento antirreprodução ganhou popularidade com o trabalho acadêmico de David Benatar, professor de filosofia e autor do livro “Better Never to Have Been: The Harm of Coming into Existence”, onde defende que “nascer é uma profunda desgraça”.

O antinatalismo é a percepção de que o ser humano deve desistir de ter filhos, pois existir é sempre um dano; donde, procriar é cometer um dano sobre os filhos. Para Benatar, uma análise empírica da vida comprova que infelicidades são sempre maiores do que felicidades.

Por esta razão, os antinatalistas defendem que não precisariam nascer novas pessoas no mundo. Não se deveria dar vida para pessoas que no futuro vão enfrentar sofrimento. Com o passar do tempo as pessoas morrem, seja de câncer, das enfermidades infecciosas e outras doenças. Há muito sofrimento ao final da vida e muitas pessoas se esquecem disso.

Considerando a Terra superpovoada, onde falta água e comida para muitas pessoas, onde se destrói o meio ambiente, onde se consome sem controle os recursos naturais, os antinatalistas acham que não é ético ter filhos biológicos. Os antinatalistas afirmam que o aborto é ético e moralmente defensável, pois para eles é um contra-senso trazer novas pessoas ao mundo, por isso, o aborto é um dos meios para evitar isso.

A reprodução é uma lei da natureza, portanto é uma lei divina. Por meio dela é possível a existência da vida no orbe terrestre. Há os que elegem por não ter filhos biológicos e recorrem à adoção. Sem dúvida eis aí um grande ato de amor. Grandes homens da humanidade optaram por não ter filhos para dedicar-se a uma causa nobre e universal, o próprio Allan Kardec não teve filhos biológicos.

Na Terra há inúmeros casais dispostos a investir muito dinheiro e submeterem-se a tratamentos médicos, às vezes complexos, para conseguirem tornar realidade o sonho de procriarem. Há casais, no entanto, que beiram à paranóia, pensando justamente o contrário, ou seja, acreditam que trazer novas vidas (procriação) a um mundo superpovoado e com recursos limitados seria “uma falta de responsabilidade”.

A alucinação é tamanha que dizem que cada renascimento contribui com o sofrimento animal, pois os recém reencarnados vão consumir carne e contribuir com a matança de bois, frangos. (Pasme!!) Daí, expõem que o controle de natalidade, seria a única salvação para o mundo. Principalmente para a base da pirâmide social (os pobres).

Os antinatalistas afirmam que procriar é antiético e renascimento humano é uma tragédia cômica desnecessária que mergulha o ser renascido em um mundo de miserabilidade repleto de estupidez. Os adeptos do movimento de extinção humana voluntária, argumentam ainda que a atividade humana é a principal causa de degradação ambiental, e, portanto, se abster de procriar é a alternativa humanitária evitar os desastres humanos.

Com obviedade um ser que raciocina minimamente não pode acatar essa devastadora tese atrapalhada. Nós temos desejos: necessidades espirituais que a realidade muitas vezes é incapaz de satisfazer, e a espécie humana ainda existe porque limitamos a nossa consciência do que essa realidade realmente implica.

A existência humana equivale a uma rede emaranhada de mecanismos de defesa, que podem ser observados individualmente e socialmente, em nossos padrões de comportamento diários. Portanto, ao extinguir-se a procriação, traria para a Terra, de maneira inevitável, a destruição da espécie humana.

Por fortíssimas razões, o benefício geral da procriação é maior do que o prejuízo da biodiversidade planetária, e ademais, a procriação é moralmente necessária para o progresso do Espírito pelas leis naturais da reencarnação.

• Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros “eletrônicos” publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.