Um garoto de 11 anos chegou em segurança à Eslováquia após viajar 1.200 km a partir do leste da Ucrânia com nada mais do que uma sacola plástica, uma mochila, o passaporte e o número de telefone de parentes no país anotado na mão.
Ele embarcou em um trem e, quando finalmente cruzou a fronteira, foi recebido por funcionários da alfândega.
Já em território eslovaco, foi recebido como herói.
Com seus poucos pertences, o garoto recebeu comida e água de voluntários enquanto era feito contato com os parentes em Bratislava, a capital eslovaca.
A mãe de Hassan, em um vídeo postado pela polícia eslovaca, agradeceu a todos por cuidar do filho e explicou a decisão de colocar o filho sozinho em um trem.
“Perto da minha cidade está a usina nuclear atingida pelos russos. Eu não podia deixar minha mãe - ela precisa de ajuda para se locomover. Então decidi mandar meu filho para a Eslováquia”, disse Julia Pisecka, que é viúva.
A usina nuclear em Zaporizhzhia é a maior da Europa. Foi tomada pelas forças militares russas no último fim de semana. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky disse que havia risco de um desastre maior do que o ocorrido em Chernobyl em 1986.
Hassan é uma das mais de 2 milhões de pessoas que fugiram da Ucrânia após o início da ofensiva russa. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 1,2 milhão de refugiados seguiram para a Polônia. A Eslováquia recebeu mais de 140 mil.
Muito emocionada, a mãe de Hassan pediu que todos as crianças ucranianas encontrem um lugar seguro do conflito.
Um funcionário do Ministério do Interior da Eslováquia afirmou que Hassan ganhou a todos com seu sorriso, determinação e coragem.
Após contato telefônico, os parentes em Bratislava buscaram Hassan.
O ministro Roman Mikulec se encontrou com o garoto na última segunda (07/03) e disse que foi pedida proteção temporária na Eslováquia.
Mikulec afirmou que doações para a mãe e a avó de Hassan está sendo feitas através da associação cristã ZKSM.
Notícia publicada no portal da BBC em 08 de março de 2022
A reportagem acima nos relata um caso surpreendente sobre a coragem de uma mãe e de um filho (criança) frente às consequências assoladoras da guerra atual entre Rússia e Ucrânia. Nos causa surpresa em um primeiro momento, o fato de uma criança de 11 anos ser levada a fazer um percurso de mais de 1000 quilômetros sem sua família para se proteger da guerra. Nesse evento, no entanto, não somos levados a questionar a decisão da mãe, uma vez que o repertório de alternativas que ela tinha para proteger sua família era muito pequeno. Morando perto de uma usina nuclear que fora atingida pela guerra, os riscos que esta família corre de ser acometida por mais doenças e mais bombardeios é altíssimo. Dessa forma, na medida em que outros locais tem oferecido ajuda a refugiados, graças a sempre existente solidariedade humana, faz-se necessário refletirmos sobre a nobreza da atitude do garoto e a estratégia da mãe em seu salvar seu filho.
Em uma perspectiva espírita, este caso nos leva a pensar em algo mais profundo. Não seria essa atitude uma expressão do ensinamento do Cristo de oferecer a outra face àqueles que nos fazem mal? Esta família, sofrendo os revezes da guerra, não se revoltou e muito menos se entregou passivamente às atrocidades humanas. Jesus, ao nos convidar que apresentemos a outra face àquele que nos haja batido numa, não parece ter afirmado que devemos ficar impotentes diante do mal. Como bem afirmam os espíritos em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (no capítulo 12), o Cristo “disse, sob outra forma, que não se deve pagar o mal com o mal; que maior glória lhe advém de ser ofendido do que de ofender, de suportar pacientemente uma injustiça do que de praticar alguma; que mais vale ser enganado do que enganador, arruinado do que arruinar os outros”. Assim, quando Jesus afirmou: “Não resistam ao que vos fizer mal “, não quis proibir os meios de defesa para se livrar do agressor, mas quis condenar a vingança.
Nesse sentido, o sacrifício da mãe e da criança em se deslocar para tão longe, deixando seus familiares, em meio às incertezas do futuro material que lhes aguarda é um verdadeiro exemplo do oferecimento da outra face às injustiças do mundo. “Dar a outra face é mudar a paisagem, é uma ação positiva diante de uma negativa”.
Além disso, é preciso que entendamos a guerra sob a ótica de “O Livro dos Espíritos”. Segundo os imortais, no item “Guerra” do supracitado livro, as lutas sangrentas na humanidade refletem a “predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem — o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos freqüente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas, fazendo-a com humanidade, quando a sente necessária.” No entanto, os espíritos dialogando com a nobre atitude do garotinho de 11 anos, nos dão a esperança de que as guerras um dia terão fim, quando os homens compreenderem a justiça e praticarem a lei de Deus. Nessa época, todos os povos serão irmãos.”
Portanto, a ação de sacrifício dessa mãe e de seu filho que conseguiu chegar à Eslováquia, acompanhado do suporte de pessoas que se voltaram para a caridade e para o bem, nos faz lembrar desses indivíduos cujas ações passam a ser um exemplo para todos. Só Como bem dizem os espíritos, sugestivamente no item “Duelo” de O Evangelho Segundo o Espiritismo “é verdadeiramente grande aquele que, considerando a vida uma viagem que o há de conduzir a determinado ponto, pouco caso faz das asperezas da jornada e não deixa que seus passos se desviem do caminho reto. Com o olhar constantemente dirigido para o termo a alcançar, nada lhe importa que as urzes e os espinhos ameacem produzir-lhe arranhaduras; umas e outros lhe roçam a epiderme, sem o ferirem, nem impedirem de prosseguir na caminhada”.
*Alessandra Belo é colaboradora do Espiritismo.net, pós-graduada e professora de História da Rede Municipal de Praia Grande, em SP.