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Por vocação, a administradora Carola Matarazzo se diz “uma sonhadora que conhece de perto a realidade”. Sua ocupação, ela própria define: “Minha vida e minha carreira se misturam com a filantropia”. Depois de 22 anos na Liga Solidária, com direito a passagem pela Liga das Senhoras Católicas e hoje como diretora executiva do Movimento Bem Maior, ela comanda uma luta para ampliar a capacidade de doação do PIB brasileiro. Tendo, no horizonte, uma certeza: “Doar não é caridade, é investimento”. Elaine Bayma comenta.

  • Data :01/03/2024
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Doar não é caridade, é investimento

A diretora do Movimento Bem Maior, Carola Matarazzo, tem uma certeza, como se pode ler no artigo: “Doar não é caridade, é investimento.” Ela administra a instituição que tem entre seus associados grandes empresários, doadores do próprio bolso, visando melhorar a filantropia no Brasil. O Movimento atua em favor de causas da ordem do dia, como a questão ambiental e o racismo, entre outras, e todos os associados são movidos pelo objetivo de minorar as “desigualdades inaceitáveis do país

A íntegra da matéria pode ser acessada em:https://www.terra.com.br/economia/doacao-nao-e-caridade-e-investimento-diz-diretora-executiva-do-movimento-bem-maior,b4daff24800cd989733c74f93224b938adc8l6r7.html

O comentário a seguir é de Elaine Bayma

Realmente vivemos em um Brasil de contrastes. Vez por outra nos chocamos quando vemos uns com tanto e outros com tão pouco. Todos nós certamente gostaríamos de estar em um mundo em que todos os habitantes tivessem a mesma quantidade de recursos ou bens necessários para a vida material em sociedade, a fim de que não faltasse nada a ninguém. Seria mais justo, diriam alguns. Mas isso seria possível? Não, de acordo com a Doutrina Espírita, levando-se em conta que não temos apenas uma existência.

A explicação do Espiritismo é que está “matematicamente demonstrado que a riqueza, repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente e o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito, pela diversidade dos caracteres e das aptidões”. Além disso, se cada um tivesse somente com que viver, “o resultado seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar da Humanidade” (“O Evangelho segundo o Espiritismo”, Allan Kardec, cap. XVI, Não se pode servir a Deus e a Mamon, item 8).

Como sabemos que temos inúmeras existências e temos de vivenciar condições alternadas de riqueza, pobreza e também situações financeiras medianas, aí é que surgem as instituições filantrópicas, a fim de atuar nas áreas em que as desigualdades sociais são mais intensas, principalmente em países como o Brasil.

Segundo os dicionários, filantropia é exatamente amor à humanidade, empreendimento do esforço na promoção do bem-estar dos semelhantes. E é exatamente isso a que se propõe o Movimento Bem Maior que, de acordo com a diretora Carola, trabalha visando à filantropia estratégica, que “difere da caridade porque usa metodologias e mudanças sistêmicas, que são interdependentes”.

Pode ser que no jargão corporativo doação seja apenas investimento. Bom que haja investimentos que gerem recursos e até empregos para muitos. No entanto, tudo isso, do ponto de vista espírita, são atos ou atitudes de benevolência. E a benevolência se insere na verdadeira caridade, tal como a entendia Jesus: “benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias e perdão das ofensas” (“O Livro dos Espíritos”, de Allan Kardec, pergunta 886).

Segundo Carola, ocorreu um declínio substancial de doações em 2022, mas por outro lado houve a ampliação de consciência quanto à interdependência e vulnerabilidade das pessoas. Vemos então que iniciativas como o Movimento Bem Maior podem chamar a atenção para os desfavorecidos em nossa sociedade, e no momento o objetivo da instituição é justamente reforçar essas iniciativas e tentar criar uma cultura de doação mais consistente, área em que no nosso país não há uma tradição forte como, por exemplo, nos Estados Unidos.

Pensar nas carências do próximo, sem dúvida, é atitude muito bem-vinda, já que, ainda de acordo com “O Livro dos Espíritos”, “o amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que lhe seja possível e que desejáramos nos fosse feito”. Lembramos que a caridade para Jesus, além de não se limitar à esmola, abrange todas as relações com nossos semelhantes, independentemente das posições que ocupem.

E a indulgência até nos proíbe que humilhemos os desafortunados, o que infelizmente não foi seguido, por exemplo, por uma rainha de França que deixou seu relato no capítulo II, “Meu reino não é deste mundo”, de “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Rainha entre os homens, em vez de ser recebida ( na espiritualidade) qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre!” As palavras da ex-soberana terrena ainda dizem que para se conquistar um lugar no reino celeste é necessário o desenvolvimento da abnegação, da humildade, da benevolência para com todos, ou seja, da verdadeira caridade.

Doação — investimento ou caridade afinal? Por que não os dois? O que importa é que progressivamente as consciências se ampliem quanto às desigualdades sociais e possamos ter um olhar cada vez mais fraterno dirigido ao próximo. Dito de uma outra forma, se não está bom para todos, não pode estar bom para mim. Que nossos corações se sensibilizem cada vez mais em relação aos desfavorecidos e possamos incluí-los na grande família universal. Como Jesus espera de nós.

  • Elaine Bayma é espírita e colaboradora do Espiritismo.net.