“Por que taxa de suicídios disparou nos EUA para maior nível em 83 anos”

Desde a virada do século, o número de suicídios nos Estados Unidos tem crescido de forma constante segundo o jornal BBC News. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças do país estadunidense, em 2022 confirmou-se o maior número de suicídios já documentado. Dentre as causas, a matéria cita: problemas de saúde mental, depressão, solidão e dificuldades econômicas. Cita-se, ainda, a epidemia de mortes por overdose de drogas que costuma ser de difícil distinção as mortes acidentais das intencionais. Segundo dados levantados pela plataforma, o método mais comum utilizado nos suicídios nos EUA é por arma de fogo que, por si só, não explica isoladamente o aumento recente nas taxas.

A íntegra da matéria pode ser acessada em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c0jvykd2e85o

Comentários de Jussara Macabu

O suicídio é uma grande questão que existe desde os tempos antigos até os dias atuais. É um tema que deve ser comentado, discutido, não somente no mês de setembro - mês destinado, desde 2015, no Brasil, à prevenção do suicídio. Deve ser falado a respeito sempre que possível, procurando esclarecer o assunto, sem tabus. Todos devemos agir a respeito, pois senão essa questão continuará a ser um grande problema de Saúde Pública brasileiro e mundial.
No dicionário Michaelis, suicídio é o ato ou efeito de suicidar-se; no sentido figurado, significa: Ruína ou desgraça, provocada em si mesmo, espontaneamente ou por falta de discernimento. ¹ Então, suicídio é uma ação humana, presente em todas as culturas, em todos os tempos; onde uma pessoa opta intencionalmente a pôr um fim em sua própria vida.
André Trigueiro em seu livro, Viver é a melhor opção, inicia-o com um comentário do escritor e filósofo, Albert Camus (1913-1960): “O suicídio é uma grande questão filosófica de nosso tempo…”.² Temos também na Revista Espírita de 1862 um artigo de Allan Kardec intitulado: “Estatísticas de suicídio”, o que nos demonstra que é um tema que merece toda a nossa atenção, há muito tempo.
Da pesquisa na internet verifica-se que o tema é comentado desde o início dos tempos: “Uma das primeiras pessoas históricas da Grécia Antiga a morrer por suicídio foi Empédocles por volta de 434 a.C.” “Empédocles morreu atirando-se no vulcão siciliano Monte Etna.” ³ Na Grécia antiga como em vários locais, encontramos relatos sobre o suicídio, desde a Antiguidade.

O que impulsiona uma pessoa a desrespeitar o seu instinto de autopreservação?

O significado de instinto de autopreservação: _“Autopreservação é a ação ou tendência, por parte de um indivíduo, para conservar a própria existência ou integridade. É o desejo inato de manter-se vivo, quase universal em todos os organismos, que assegura a sua sobrevivência. É o instinto básico para preservar a própria vida.” A autopreservação é o estímulo interno do ser humano de conservar sua existência, o estímulo de viver.⁴
O artigo da BBC Brasil, informa que “O número de suicídios nos Estados Unidos tem crescido de forma constante desde a virada do século e está agora no nível mais alto já registrado.” e que conforme o CDC – Centro de Controle de Prevenção de Doenças, “Os números ainda são preliminares e …. que podem aumentar, já que muitas mortes em investigação levam meses até serem confirmadas como suicídio.”
A Organização Mundial de Saúde (O.M.S.), declarou em 17 de junho de 2021, que “O suicídio continua sendo uma das principais causas de morte em todo o mundo”. ⁵
Na Revista Espírita de 1862, Kardec também comenta: “que os casos mais numerosos são determinados pelos reveses da fortuna, as decepções, os pesares de qualquer natureza… O que é certo é que todos os que se suicidam só recorrem a esse extremo, com ou sem razão, porque não estão contentes.” ⁶
Muitas pessoas optam por esse caminho acreditando fielmente que com a morte conseguirão se libertar dos pesares de suas vidas. Em “O Livro dos Espíritos”, à questão 943, os Espíritos respondem que a falta de fé é um dos pontos importantes para a pessoa cometer esse ato. Isso se dá quando a pessoa está com a sua fé divina adormecida, ou a fé em si mesmo, apagada.
Outros acreditam que ao optarem pelo suicídio sairão deste momento de suplício e ficarão melhores e com a “esperança de alcançar uma vida melhor” ⁷. Como consta na resposta à pergunta 950 de “O Livro dos Espíritos”.
A O.M.S. após vários estudos e levantamentos, elenca as seguintes causas do suicídio: distúrbios psicológicos, distúrbios orgânicos, emocionais, sociais e econômicos. Um dos fatores apontados pela O.M.S., que me chamou a atenção foi a desesperança. Kardec no “O Evangelho segundo Espiritismo” (E.S.E.) nos informa que “para o que não crê na eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, se os infortúnios e as aflições o acabrunham, unicamente na morte vê uma solução para suas amarguras. Nada esperando, acha muito natural, muito lógico mesmo, abreviar pelo suicídio as suas misérias.” ⁸
Humberto de Campos na obra “Estante da vida”, em um de seus capítulos, descreve a resposta de uma suicida para a pergunta feita por ele: “A irmã possuía alguma fé religiosa, que lhe desse convicção na vida depois da morte?” A resposta foi: “Seguia a fé religiosa, como acontece a muita gente que acompanha os outros no jeito de crer, na mesma situação com que se atende aos caprichos da moda.” ⁹ Nesta citação vemos que não existia uma fé religiosa consistente.
Kardec em artigo da Revista Espírita, pergunta: “Que é, pois, a vida humana em relação à eternidade, senão menos que um dia?” ¹⁰ E afirma que “A incredulidade, a simples dúvida quanto ao futuro, as ideias materialistas são, numa palavra, os maiores excitantes do suicídio” ¹¹
Se torna primordial entendermos que precisamos agir para que esses índices venham a reduzir. Mas, agir como? A O.M.S. comenta a necessidade de uma aceleração significativa na redução de 1/3 desses números até o ano de 2030. Para apoiar essas ações eles lançaram uma cartilha com orientações, abarcando quatro abordagens:

1. “Limitar o acesso aos métodos de suicídio, como pesticidas e armas de fogo altamente perigosos;
2. educar a mídia sobre a cobertura responsável do suicídio;
3. promover habilidades socioemocionais para a vida em adolescentes; e
4. identificação precoce, avaliação, gestão e acompanhamento de qualquer pessoa afetada por pensamentos e comportamentos suicidas.” ¹²

A primeira abordagem tem a confirmação da necessidade de uma legislação limitando o acesso tanto aos pesticidas quanto, e principalmente, às armas de fogo. No artigo da BBC Brasil, quando lemos que “um aspecto em particular diferencia os Estados Unidos do resto do mundo: armas de fogo, que são facilmente obtidas no país, foram usadas em mais da metade dos casos em 2022.” ¹³ confirmamos que decorrente da facilidade na obtenção da arma, há um estímulo à concretização da ideia do suicídio.
A segunda abordagem cita a responsabilidade da mídia quanto à divulgação dos casos de suicídio, e a “conscientização e melhorar seus protocolos de identificação e remoção de conteúdo prejudicial.” ¹⁴ Esta questão do risco das notícias incentivarem ao ato, também foi comentada no artigo de Kardec na Revista Espírita de 1862: “Sob esse aspecto consideramos as descrições do gênero e que abundam nos jornais como uma das causas excitantes do suicídio: elas dão a coragem de morrer. Acontece o mesmo com os crimes, com a ajuda dos quais se excita a curiosidade pública, produzindo um verdadeiro contágio moral; jamais detiveram um criminoso, enquanto fizeram surgir mais de um.” ¹⁵
Nas duas últimas abordagens a O.M.S. cita a necessidade de ações de “promoção da saúde mental e programas anti-bullying, links para serviços de apoio e protocolos claros para pessoas que trabalham em escolas e universidades quando o risco de suicídio é identificado.” ¹⁶ para os adolescentes.
Já, para as pessoas que tentaram o suicídio ou que sejam identificadas em risco, é sugerido na cartilha, a capacitação de profissionais de saúde, e de outros profissionais para identificação, avaliação, gestão e acompanhamento dos casos.
A BBC em seu artigo comenta sobre a observação do psicólogo Reidemberg referente ao resultado positivo do grande foco de investimento na prevenção de suicídio entre os jovens, nos E.U.A. Apesar de ser pouco o tempo de análise, para se confirmar que essa tendência de queda irá se manter, a redução de 9% referente ao ano anterior, é animador.

O sentido da vida

“Ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, …, se não tivesse caridade, isso não me adiantaria. A caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade.” (I Coríntios, 13:3-6) ¹⁷
Paulo nesta primeira epístola aos Coríntios, mostra-nos que a caridade não é abstrata e se caracteriza pelo comportamento que ela provoca, nos que a praticam. Mostrando que com ela conseguimos nos manter nesta estrada, com todas as suas curvas, subidas e decidas, buracos, não importando a quilometragem percorrida, essa estrada, esse caminho é a vida. O sentido da vida está em percorrê-la da melhor maneira possível. Se cairmos devemos levantar-nos mesmo com “as mãos cansadas e os joelhos desconjuntados” ¹⁸, não devemos recuar diante da luta, mesmo com todas as dificuldades que a vida nos apresente; devemos seguir em frente, prosseguindo neste caminho a caminho do nosso crescimento espiritual, como nos aconselha Paulo.
Kardec em “O Evangelho Segundo Espiritismo”, também nos dá uma receita importante a ser considerada: “A calma e a resignação hauridas da maneira de considerar a vida terrestre e da confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo contra a loucura e o suicídio.” ¹⁹ Quando compreendemos que somos Espíritos imortais e que o corpo físico nos serve de veículo para vivermos essa atual encarnação, conseguimos a calma e a resignação falada por Kardec, e com elas conquistamos a possibilidade de passar pelos reveses da vida com mais serenidade, extraindo as lições que a vida nos passa.
“Recorda o conselho de Paulo e não te imobilizes. Movimenta as mãos cansadas para o trabalho e ergue os joelhos desconjuntados, na certeza de que para a obtenção da melhor parte da vida é preciso servir e marchar, incessantemente.” ²⁰
Não esqueça que cada reencarnação é um planejamento único, moldado especialmente para você. É um projeto que também tem a sua participação, na sua concepção. Sendo assim lembre-se sempre que VIVER É A MELHOR OPÇÃO (André Trigueiro).

• Jussara Macabu
  – Trabalhadora e palestrante da Seara Espírita Campo da Paz – Araruama – RJ e trabalhadora do Espiritismo.net - Rio de Janeiro - RJ

Referências Bibliográficas: