O Livro dos Médiuns e a religião do amor universal
Mensagem recebida no dia 4 de dezembro de 2021, durante o 2º Congresso do Espiritismo.net
A mediunidade sempre esteve presente na cultura das diversas civilizações espalhadas pelo globo. Das eras primevas à contemporaneidade, ela acompanhou e fecundou o progresso. Do horizonte agrário e mágico à positividade científica, a mediunidade, enquanto faculdade neutra, fez-se presente nos eventos mais marcantes da nossa cultura, nos desditosos e nos laureados de êxito.
Antes mesmo do “fogo de Prometeu ser entregue aos homens”, nas comunidades nômades de caçadores coletores, vamos encontrar os espíritos dos ancestrais fecundando líderes e xamãs, socorrendo-os e orientando-os.
Às religiões, não escapou a realidade do invisível. Na África continental, berço de muitos conhecimentos do invisível, verdadeiros tratados orais serão repassados de geração em geração, alcançando o seu ápice nos mistérios de Karnak, no Egito. Na Grécia, nos mistérios órficos e nos pitagóricos - ensinamentos fecundados pela mediunidade -, irá preparar os caminhos para a filosofia transcendental de Sócrates e Platão. Abraão e Moisés, os grandes iniciados do Judaísmo, encontraram nos ensinamentos do espírito guia de seu povo, Yaveh, os elementos basilares do monoteísmo que fecundou a semente da árvore da Boa Nova, pregada, vivida e sofrida pelo sublime médium de Deus.
No entanto, se por um lado, a mediunidade é porta para as realidades mais elevadas, essa faculdade pode abrir caminhos para a marcha de forças sombrias. Assim, veremos Saul sendo possuído por forças obscuras no intento de aniquilar Davi. Calígula e Nero, governando com auxílio de entidades renitentes ao mal, direcionam a civilização dos filhos da loba para a desdita. Judas, se conectando a forças fanáticas do invisível, muito embora estando sob o manto protetor do Cristo, o entrega ao Sinédrio despótico para seu martírio.
Assim, a humanidade, após glórias e quedas, alcançou a faina do progresso, encontrando na modernidade um certo nível de maturidade intelectual e moral. Neste sentido, encontramos esse fenômeno em Allan Kardec, tendo como base a obra O Livro dos Médiuns, a expressão racional, lógica e moral desta faculdade em nosso tempo.
Allan Kardec soube sintetizar toda marcha evolutiva da humanidade, frente aos mistérios do invisível. Racional, rasgou os véus, dando trato prático e claro; lógico, viu na mediunidade o microscópio da realidade espiritual invisível, entendendo que os elementos que o compõem são assaz semelhantes à nossa humanidade, com os virtuosos e os viciosos, sábios e ignorantes; moral, entendeu que, sendo bem empregada, ela pode ser fonte de elevação e virtude, propagando felicidade e paz.
Assim, O Livro dos Médiuns, alcançando sua marca de 160 anos, faz-se farol ante o mar revolto destes tempos, sendo as chaves para as portas do invisível superior. Chegando no momento exato, de maior amadurecimento intelectual e moral, Allan Kardec é o porta voz do convite do Espírito da Verdade, conclamando os homens de boa-vontade para a prática da caridade e da fraternidade, as virtudes da religião do futuro, a religião do amor universal, onde homens e espíritos, o visível e o invisível, se darão as mãos para construção do Mundo Novo que desponta no horizonte.
Jean Meyer
Mensagem recebida no dia 4 de dezembro de 2021, durante o 2º Congresso do Espiritismo.net
Jean Meyer (1855 – 1931): foi um filósofo, escritor, editor, pesquisador e filantropo espírita suíço.