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…eis que a pergunta por Jesus se faz viva novamente. Vários colegas cientistas, de diversas opiniões a respeito da fé, mas em geral, silenciosos a respeito desse tema nos meios onde há uma dominante cultura materialista, irão comemorar o Natal com seus familiares, e se verão mais uma vez, assim como eu, indagados acerca de Jesus.

O Natal se aproxima e como professor, trabalhando numa universidade, convivendo nos círculos acadêmicos, eis que a pergunta por Jesus se faz viva novamente.

Vários colegas cientistas, de diversas opiniões a respeito da fé, mas em geral, silenciosos a respeito desse tema nos meios onde há uma dominante cultura materialista, irão comemorar o Natal com seus familiares, e se verão mais uma vez, assim como eu, indagados acerca de Jesus.

Hoje, lendo um livrinho de Chico Xavier (e Emmanuel) onde eles comentam diversas passagens do Evangelho, encontrei essa que se dirige a todos nós: acadêmicos.

Está no livro chamado: Pão Nosso, no capítulo 161. E o trecho comentado é quando Jesus pergunta aos discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20).

O comentário é uma boa provocação, que gostaria de compartilhar nesse momento (sublinhando alguns trechos):

“Nas discussões propriamente do mundo, existirão sempre escritores e cientistas dispostos a examinar o Mestre, na pauta de suas impressões puramente intelectuais, sob os pruridos da presunção humana.

Esses amigos, porém, não tiveram contacto com a alma do Evangelho, não superaram os círculos acadêmicos e nem arriscam títulos convencionais, numa excursão desapaixonada através da revelação divina; naturalmente, portanto, continuarão enganados pela vaidade, pelo preconceito ou pelo temor que lhes são peculiares ao transitório modo de ser, até que se lhes renove a experiência nas estradas da vida imperecível.

Entretanto, na intimidade dos aprendizes sinceros e fiéis, a pergunta de Jesus reveste-­se de singular importância.

Cada um de nós deve possuir opiniões próprias, relativamente à sabedoria e à misericórdia com que temos sido agraciados.

Palestras vãs, acerca do Cristo, quadram bem apenas a espíritos desarvorados no caminho da vida. A nós outros, porém, compete o testemunho da intimidade com o Senhor, porque somos usufrutuários diretos de sua infinita bondade.

Meditemos e renovemos aspirações em seu Evangelho de Amor, compreendendo a impropriedade de mútuas interpelações, com respeito ao Mestre, porque a interrogação sublime vem d’Ele a cada um de nós e todos necessitamos conhecê­-lo, de modo a assinalá­-lo em nossas tarefas de cada dia.”

A reflexão aponta para a presunção do intelectualismo que não considera outras formas de conhecer a realidade, que não seja a racional. De fato, alguns de nós, ainda excessivamente modernos em matéria de epistemologia, ainda não percebemos o lugar das emoções, dos sentimentos, da sensibilidade, da corporeidade, da intuição e do impulso de transcendência na própria busca de conhecer a realidade que nos cerca.

O texto questiona ainda o obstáculo epistemológico dos sábios do mundo, que se alimentam de uma estranha articulação entre saber e poder, denunciando que nossa recusa em mudar paradigmas decorre de um apego ao título e ao lugar social que ocupamos.

E o que me toca profundamente é o desejo de participar dessa “intimidade dos aprendizes”. Conhecer é se fazer íntimo.

Tão belo isso!

Só aquele que ama pode conhecer o outro, dizia Victor Frankl. Erich Fromm mostra que o inverso também é verdadeiro: só se pode amar aquele que se conhece.

O convite à intimidade me soa como um convite a um viver perto, com abertura de coração. Só aqueles que já viveram intimamente com alguém podem saber do que se trata.

Entrega, aceitação do outro, aceitação de si mesmo. Intimidade dá medo porque o outro vai conhecer e descobrir que somos ridículos, vai entrar em contato com aquilo que a gente tenta esconder sob máscaras e “papéis sociais”.

Essa página me convida a debruçar-me filosoficamente ao significado do Natal. Para nós, que vivemos da pesquisa científica, é um convite a um outro paradigma, já anunciado por diversos pensadores. É sair do paradigma do saber-poder, e adentrar no paradigma do amor-saber.

Olhe nos olhos daqueles que convivem com você e se perguntem: quem é você? de onde você veio para partilhar dessa vida, e dessa intimidade, e dessa entrega absoluta que me amedronta porque vai além do controle da mente neurótica-racional-controladora? Quem é você?

O texto, ou ainda, o Natal, nos convidará a olhar para essa dimensão de transcendência com esses olhos inocentes.

Mais do que comunidade de cientistas ou sábios, quero participar dessa comunidade de aprendizes, aqui sim, poderá haver intimidade, porque, só como aprendizes podemos fazer aquele gesto de entrega dos que sabem que não sabem.

Sinto que esse é o retorno da boa filosofia.

Jesus tem muito mais afinidade com Sócrates e com todos os pensadores que tiveram a humildade do verdadeiro espírito científico, todos aqueles que tiveram verdadeira reverência ante ao mistério da vida.

E os pretensos sábios e doutos, continuaram falando às paredes, sob aplausos dos fantasmas sem vida que os rodeiam.

30 de junho de 2014