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Há um belíssimo ponto de encontro entre o texto mais popular dos cristãos e o texto mais popular dos hindus. Trata-se do Salmo 23 de Davi e o Bagavad Gita. O primeiro é o famoso salmo dirigido ao pastor, rogando-lhe que guie o discípulo pelos campos verdes e águas tranquilas. O segundo mostra o diálogo do discípulo em busca do caminho de vida com equilíbrio que leve a paz.

Há um belíssimo ponto de encontro entre o texto mais popular dos cristãos e o texto mais popular dos hindus.

Trata-se do Salmo 23 de Davi e o Bagavad Gita.

O primeiro é o famoso salmo dirigido ao pastor, rogando-lhe que guie o discípulo pelos campos verdes e águas tranquilas. O segundo mostra o diálogo do discípulo em busca do caminho de vida com equilíbrio que leve a paz.

Confiança e entrega absoluta a Deus, busca de paz… eis a essência de ambos os textos.

Interessante que ambos fazem referência aos inimigos.

Todo Bagavad Gita gira em torno do diálogo do guerreiro Arjuna com o Senhor Krisna, antes do início da batalha. Arjuna está confuso porque terá de enfrentar amigos e familiares que estão no exército inimigo. Então, inspirado pela sabedoria de Krisna entende que precisa cumprir seu dever (darma) sem esperar os frutos da ação. Agir sem apego, eis o caminho da felicidade!

No Bagavad Gita, capítulo 1 texto 23, Arjuna diz ao Senhor Krisna: “Deixe-me ver os que vieram lutar aqui, desejando comprazer o malévolo filho de Dhrtarastra.”

E no texto seguinte Arjuna é chamado gudakesa que significa aquele que conquista o sono.

Meditando um pouco sobre esses trechos, percebemos a relação entre olhar os inimigos da batalha e a conquista do sono tranquilo, a paz interior.

Ao fazer uma leitura espiritual, percebe-se que todo esse poema é um belíssimo tratado de autoconhecimento. Olhar os inimigos é olhar para dentro de si, os inimigos internos. Encarar de frente as suas questões íntimas, não recuar, agir como um guerreiro e enfrentar seus fantasmas interiores. Eis a fonte da paz, expressa naquele que conquista o sono tranquilo.

Porque o sono é onde se expressam as mazelas escondidas de cada um. E aquele que não quer se olhar de dia, acaba se vendo assustadoramente enquanto dorme.

Olhar os inimigos no campo de batalha é olhar para dentro de si mesmo, se conhecer (sem indulgência nem culpa) e conquistar a paz interior.

Agora sim pude entender o Salmo da ovelha para o pastor: “Preparas uma mesa para mim na presença dos meus inimigos.” E só assim a ovelha terá o refrigério da alma em pastos verdejantes e águas tranquilas. Na verdade eu sempre me senti muito bem ao ouvir ou recitar esse Salmo, mas confesso que tinha um incômodo com esse verso, pois não o compreendia. Agora, graças a leitura do Bagavad Gita, pude entendê-lo. (Esses são frutos doces do diálogo inter-religioso).

Busque a paz! Encontre os seus inimigos e seja feliz!

7 de abril de 2014