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O filme Jogos Vorazes, em cartaz ao final de 2013 em sua segunda sequência, pode parecer ao espectador despreocupado, um simples filme pós-fim de mundo como muitos outros, com a violência típica de Hollywood e um monte de elementos para atrair o público jovem. Mas um olhar mais atento sobre o que pode estar por traz do filme, nos leva a reflexões mais profundas.

O filme Jogos Vorazes, em cartaz ao final de 2013 em sua segunda sequência, pode parecer ao espectador despreocupado, um simples filme pós-fim de mundo como muitos outros, com a violência típica de Hollywood e um monte de elementos para atrair o público jovem.

No filme, que lembra os espetáculos das arenas romanas e conta com muitas referências à crueldade nazista da Segunda Guerra Mundial, jogadores representantes de comunidades, os “distritos”, de uma nação chamada Panem, dominadas por um governo autoritário e fortemente militarizado, devem disputar entrem si até que só um sobreviva. O jogo violento, transmitido ao vivo para toda a população, é um instrumento usado pelo tal governo para divertir as massas e amenizar sua insatisfação que parece oculta, e até mesmo evitar possíveis rebeliões. É o velho conceito romano do “pão e circo”, aplicado numa sociedade do futuro, altamente tecnológica.

Mas um olhar mais atento sobre o que pode estar por traz do filme nos leva a reflexões mais profundas. Não seria isso que, de certa forma, estamos vivendo hoje? A sociedade mundial globalizada, estoura os índices de audiência de reality shows e lutas, tais como os BBB’s, MMA’s; concursos de música, de moda, decoração, culinária, etc, normalmente como parte da programação dos maiores veículos de comunicação de massa do momento: a televisão e a internet. É o que a própria autora dos livros que deram origem à saga, Suzanne Collins, revela ter sido a inspiração para a história, além das guerras atuais, verdadeiros espetáculos da mídia mundial.

A intenção aqui não é tanto uma provocação iconoclasta, mas um convite à análise sobre aspectos que as vezes não nos damos conta. É que o pior desses programas pode não ser a violência de alguns, o vazio ou a futilidade de outros. E justiça seja feita, nem todos são tão ruins assim. O pior talvez seja o fato de que sua característica principal é a competição.

É fácil culpar o sistema ou os grupos que dominam os meios de comunicação, pelo uso de artifícios que julgamos inapropriados, como a sensualidade exagerada, violência, polêmicas, voyerismo e outros mais, com o objetivo de obter audiência, e finalmente gerar lucros. Evidentemente, aqueles que detém o poder da mídia e das decisões tem sua parcela de responsabilidade. Mas tudo isso só funciona porque as massas se deixam levar… e pelo pior dos seus instintos.

A necessidade de destruir o outro, de se ter apenas um vencedor, lembra os instintos naturais dos quais os animais dependem para sobreviver. Para conseguir alimento as vezes escasso, para se alimentar mesmo às custas de outros seres vivos, para eliminar predadores, é preciso competir e derrotar.

O Livro dos Espíritos, na questão 895, nos diz que “o apego às coisas materiais constitui sinal notório de inferioridade, porque, quanto mais se aferrar aos bens deste mundo, tanto menos compreende o homem o seu destino”*. Não seria essa sede de competição, de certa forma, um sinal de apego às coisas materiais, resquício ainda de nossa luta pela sobrevivência? E o fato de sermos o todo tempo bombardeados com esses estímulos que as vezes beiram a insanidade, não seria uma forma de nos mantermos longe de nossa destinação espiritual? É claro que o mercado de trabalho,o comércio, a vida mesmo em si, ainda é muito competitiva, mas precisamos criar disputas onde elas não existem?

Esse tempo já passou e enquanto somos quase que escravizados por essas batalhas frenéticas, deixamos de nos dedicar ou cultivar valores mais importantes. Jesus e outros tantos mestres da sabedoria nos orientaram a abandonar os antigos traços do egoísmo e abraçar a fraternidade, a solidariedade, a colaboração, como formas mais produtivas e felizes de viver e crescer como seres humanos, ou melhor ainda, como seres espirituais.

E se ainda precisamos de competição, se ainda sentimos falta dessa adrenalina, existem maneiras mais saudáveis e até mesmo educativas para se canalizar esta “energia”. O esporte por exemplo, cujo o objetivo intrínseco é derrotar o outro, desde que seja praticado com respeito e ética, nos dá a possibilidade de disputar, sem “destruir” o adversário e pode mesmo ser um fator de união ou socialização entre competidores, torcedores e nações. Isso sem falar que a luta por superar a nós mesmos em nossas habilidades, conhecimentos, conquistas, já pode ser algo suficientemente excitante.

Apesar de tudo, esperamos que não esteja tão longe, o dia em que a rivalidade entre as nações, os torcedores, os times, as pessoas, fique só nas olimpíadas, nas quadras, nos tabuleiros, e que nossa sensação de felicidade não dependa tanto de competirmos uns contra os outros.

15 de fevereiro de 2014

Fontes: