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  • Suicídio, Suprema Rebeldia à Vontade De Deus

Émile Durkheim registra que a causa do suicídio quase sempre é de matriz social, ou seja, o ser individual é abatido pelo ser social. Absorvido pelos valores (sem valor), como o consumismo, a busca do prazer imediato, a competitividade, a necessidade de não ser um perdedor, de ser o melhor, de não falhar, o homem se afasta de si e de sua natureza. Sobrevive de “aparências” para representar um “papel social”, como protagonista do meio. E, nesta vivência neurotizante, ele deixa de desenvolver suas potencialidades, não se abre, nem expõe suas emoções e se esmaga na sua intimidade solitária.

O suicídio é um ato exclusivamente humano e está presente em todas as culturas. Suas matrizes causais são numerosas e complexas. Pesquisas assinalam que o comportamento suicida tende a ser mais expressivo nas famílias em que os fatores biológicos e genéticos desempenham maior probabilidade de risco.

Os determinantes do suicídio patológico estão nas perturbações mentais, depressões graves, melancolias, desequilíbrios emocionais, delírios crônicos. Algumas pessoas nascem com certas desordens psiquiátricas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que aumenta o risco de suicídio. Há os processos depressivos, onde existem perdas de energia vital no organismo, desvitalizando-o, e, conseqüentemente, interferindo em todo o mecanismo imunológico do ser. Sob o ponto de vista sociológico, o suicídio é um ato que se produz no marco de situações anômicas, em que os indivíduos se vêem forçados a tirar a própria vida para evitar conflitos ou tensões inter-humanas, para eles insuportáveis. Émile Durkheim registra que a causa do suicídio quase sempre é de matriz social, ou seja, o ser individual é abatido pelo ser social. Absorvido pelos valores (sem valor), como o consumismo, a busca do prazer imediato, a competitividade, a necessidade de não ser um perdedor, de ser o melhor, de não falhar, o homem se afasta de si e de sua natureza. Sobrevive de “aparências” para representar um “papel social”, como protagonista do meio. E, nesta vivência neurotizante, ele deixa de desenvolver suas potencialidades, não se abre, nem expõe suas emoções e se esmaga na sua intimidade solitária.

Sociologicamente corresponde a uma situação em que há divergência ou conflito entre normas sociais, tornando-se difícil para o indivíduo respeitá-las igualmente. Há estudos, indicando que de 30 a 40% da população mundial terão depressão uma vez ao longo da vida, pelo menos, mormente na juventude. Até porque, o jovem sofre muito por não conseguir entender, nem se sentir entendido. Muitas vezes a sociedade se revela para ele, como referência de amarguras e instabilidade. Deste modo, age e sente de forma volúvel, sem entender o porquê dessa volubilidade. Sente um vazio em si mesmo e se sente muito só. Destarte, passa facilmente do riso às lagrimas, da alegria à tristeza, e da tristeza, muitas vezes, à depressão, que se instala devoradora, silenciosa, perversa, emudecendo-o, asfixiando-o, sobrevindo uma irritabilidade constante, o cansaço, o desânimo, as idéias de inutilidade e, por fim, o suicídio. Geralmente, inconsciente de que “de todos os desvios da vida humana o suicídio é, talvez, o maior deles pela sua característica de falso heroísmo, de negação absoluta da lei do amor e de suprema rebeldia à vontade de Deus, cuja justiça nunca se fez sentir, junto dos homens, sem a luz da misericórdia”(1). O autocídio é o ponto máximo da insatisfação interior e é, equivocadamente, a solução de extremo desespero, como sendo o único meio para fugir da depressão. O “self” do suicida, naquele momento, está tão fragilizado, que o instinto da morte o domina. Em termos percentuais, 70% das pessoas que cometem suicídio, certamente sofriam de um distúrbio bipolar (maníaco-depressivo); ou de um distúrbio do humor; ou de exaltação/euforia (mania), que desencadearam uma severa depressão súbita, nos últimos minutos que antecederam aos de suas mortes. O suicídio pode ocorrer, tanto na fase depressiva, quanto na fase da mania, sempre conseqüente do estado mental.

A Doutrina Espírita esclarece que “o pensamento delituoso é assim como um fruto apodrecido que colocamos na casa de nossa mente. A irritação, a crítica, o ciúme, a queixa exagerada, qualquer dessas manifestações, aparentemente sem importância, pode ser o início de lamentável perturbação, suscitando, por vezes, processos obsessivos nos quais a criatura cai na delinqüência ou na agressão contra si mesma(2). “Quando um indivíduo perde a capacidade de se amar, quando a auto-estima está debilitada, passa a ter dificuldade de manter a saúde física, psíquica e somática. André Luiz cita, nas suas obras, que “os estados da mente são projetados sobre o corpo através dos bióforos que são unidades de força psicossomáticas, que se localizam nas mitocôndrias. A mente transmite seus estados felizes ou infelizes a todas as células do nosso organismo, através dos bióforos. Ela funciona ora como um sol irradiando calor e luz, equilibrando e harmonizando todas as células do nosso organismo, e ora como tempestades, gerando raios e faíscas destruidoras que desequilibram o ser, principalmente em atingindo as células nervosas”(3). A rigor, não existe pessoa “fraca”, a ponto de não suportar um problema, por julgá-lo superior às suas forças. O que de fato ocorre é que essa criatura não encontra forças para mobilizar a sua vontade própria e enfrentar os desafios. Joanna de Angelis assevera que o “suicídio é o ato sumamente covarde de quem opta por fugir, despertando em realidade mais vigorosa, sem outra alternativa de escapar”(4). O mais grave é que o suicida acarreta danos ao seu perispírito. Quando reencarnar, além de enfrentar os velhos problemas ainda não solucionados, verá acrescida a necessidade de reajustar a sua lesão perispiritual. Portanto, adiar dívida significa reencontrá-la mais tarde, com juros cuidadosamente calculados e cobrados, sem moratória. A questão 920, do Livro Espíritos, registra que a vida na Terra foi dada como prova e expiação, e depende do próprio homem lutar, com todas as forças, para ser feliz o quanto puder, amenizando as suas dores(5).

Além de sofrer no mundo espiritual as dolorosas conseqüências de seu gesto, o suicida ainda renascerá com todas as seqüelas físicas daí resultantes, e terá que arrostar, novamente, a mesma situação-provacional que a sua pouca fé e distanciamento de Deus não lhe permitiram o êxito existencial. Se os que precipitam a morte do corpo físico soubessem que após o ato suicida “o que [ocorrerá] é o choro convulso e inconsolável dos condenados que nunca se harmonizam! O que [ocorrerá] é a raiva envenenada daquele que já não pode chorar, porque ficou exausto sob o excesso das lágrimas! O que [ocorrerá] é o desaponto, a surpresa aterradora daquele que se sente vivo a despeito de se haver arrojado na morte!O que [ocorrerá] é a consciência conflagrada, a alma ofendida pela imprudência das ações cometidas, a mente revolucionada, as faculdades espirituais envolvidas nas trevas oriundas de si mesma! É o inferno, na mais hedionda e dramática exposição (…)"(6). Certamente não cometeriam o autocídio, pois as conseqüências desse ato, como vimos, são lastimáveis. Na Terra é preciso ter tranqüilidade para viver, até porque, não há tormentos e problemas que durem uma eternidade. Recordemos que Jesus nos assegurou que “O Pai não dá fardos mais pesados que nossos ombros” e “aquele que perseverar até o fim, será salvo”(7). Ante o impositivo da Lei da fraternidade, devemos orar pelos nossos irmãos que deram fim às suas vidas, compadecendo-nos de suas dores, sem condená-los.

Até porque, “Todos os suicidas, sem exceção, lamentam o erro praticado e são acordes na informação de que só a prece alivia os sofrimentos em que se encontram e que lhes pareciam eternos”(8). Tenhamos, pois, piedade dos que fugiram da vida pelas portas falsas do suicídio, pois eles carecem do amor, da graça e da misericórdia de Deus reveladas pela cruz, morte e ascensão de Jesus Cristo.

Referências:

1- Xavier, Francisco Cândido, O Consolador, Ditado pelo Espírito Emmanuel RJ: Ed. FEB - 13ª edição pergunta 154

2 - Mensagem extraída do livro “PACIÊNCIA”, de Emmanuel; psicografado por Francisco Cândido Xavier

3 - Xavier, Francisco Cândido, Missionário da Luz, Ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB 2003

4 - Franco, Divaldo, Momentos de Iluminação, Ditado pelo Espírito Joanna de Angelis, RJ: ed. FEB

5 - Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB, 2002, pergunta 920

6 - Pereira, Yvonne Amaral, Memórias de um Suicida, RJ: Ed FEB, 1975, Vale dos Suicidas

7 - MT 24:13

8 - INNOCÊNCIO, J. D. Suicídio. REFORMADOR, Rio de Janeiro, v. 112, n. 1.988, p. 332, nov. 1994

10 de novembro de 2014