Querido amigo palestrante espírita,
A Doutrina Espírita é realmente apaixonante por sua organização, por sua clareza, por sua profundidade, mas também por sua aplicabilidade às diferentes situações da vida. Ela abre espaço para todos os tipos de abordagem: desde a pesquisa pura como ciência espiritual até a ação direta na caridade, passando pelos estudos participativos e pelas palestras de cunho mais expositivo.
Por que os Espíritos Superiores se deram ao trabalho de organizar esse maravilhoso compêndio de ensinamentos? De outra forma perguntando: quando o Espiritismo efetivamente cumpre seu papel: quando apenas gera teses ou quando transforma a vida do mundo para melhor? O mundo atravessa um momento importante de disrupturas com posturas cristalizadas há séculos em 3 grandes eixos: com o meio ambiente, com a sociedade e consigo mesmo. As convulsões que vemos, os radicalismos, as doenças da alma, os descalabros sociais, refletem a ação da Lei de Destruição convidando o ser humano para um novo nível consciencial e de convivência nesses eixos, necessário para a construção de um mundo melhor.
E a Filosofia Espírita? Poderia ser uma alavanca, um guia, um suporte para ajudar a humanidade a entender e passar de forma mais efetiva e útil por essa crise? Certamente. Ela foi ditada com esse objetivo. Está sendo eficaz? Talvez, mas certamente há espaço de melhora. E parte desse espaço está nas suas mãos, caro palestrante!
É possível falar de perispírito para quem nunca ouviu falar de Espiritismo? E apresentar o capítulo de Astronomia Geral da Gênese para um público heterogêneo? Haveria possibilidade de falar sobre Mediunidade de Efeitos Físicos para crianças de 10 anos? Tudo isso é perfeitamente possível - embora não seja fácil.
É muito mais difícil sintetizar do que analisar. Aliás, os grandes gênios da humanidade foram os grandes sintetizadores, encontrando seu ápice no próprio Jesus, que trouxe as grandes verdades universais, cujos detalhes ele conhecia melhor do que ninguém, na forma de simples historinhas que o povo entendesse. Outros exemplos são encontrados na Ciência: prêmios Nobel como Einstein explicando a relatividade do tempo ou John Nash sua teoria econômica com situações cotidianas. Por que muitas vezes não vemos o mesmo esforço nas palestras públicas dos Centros Espíritas?
É preciso que haja o que corporativamente se conhece como “foco no resultado”, ou seja, adaptar o processo para que o objetivo seja atingido. O que se espera de uma palestra pública? Que forme filósofos ou cientistas? Que sirva de demonstração de erudição do palestrante? Ou que as pessoas que ali estão saiam com alguma ideia nova, com algum motivo para reflexão, por menor que seja, de forma a melhorarem sua postura perante a vida? Será útil detalhar o modelo de deslocamento da cúpula perispiritual de Hernani Guimarães Andrade, ou o conceito de capacitância mediúnica de André Luiz para alguém que ainda não entende que existe o Espírito? Será que, num evento público e rápido como a palestra, perscrutar as estratificações perispirituais ou detalhar os nomes dos protagonistas e datas exatas de eventos históricos fará o que sofre e busca a Sociedade Espírita mais consolado, mais feliz? Ou será que há locais mais indicados para esse aprofundamento, como grupos de estudo?
O Espiritismo, caro amigo, é, antes, o Consolador Prometido. Seu codinome é também a indicação clara de sua missão. Ele pode ser também o Explicador Prometido? Claro. Para aqueles que desejarem mergulhar nos meandros da ciência do Espírito, ele tem vastíssimo material. Para os demais, deve ter sempre os braços, os ouvidos e os sorrisos abertos. Pela linguagem da fraternidade, do interesse, da orientação da existência da Vida Espiritual, a Doutrina Espírita poderá tocar os corações e despertar as mentes para quem resolve ficar e quem se vai.
Deixo algumas dicas a você para sua organização de uma palestra “espiriticamente eficaz”:
Não leia. Converse. Use o mesmo padrão de vestimenta da assistência. Não vá de terno aonde todos vão de chinelo. Nem o contrário. Não faça referências a si mesmo. Use menos citações e mais aplicações na vida prática. Use metáforas do dia a dia. Conceitue primeiro de forma simples, dê exemplos depois. Escolha no máximo 4 ideias/palavras para serem lembradas de sua palestra. Deixe-as visíveis. É o número de informações que o cérebro consegue guardar em nível consciente. Sempre que for mudar de tema, avise. Conclua o tema anterior e introduza o novo. Prefira os termos mais conhecidos aos termos técnicos espíritas. Se for obrigado a usar um termo técnico, explique seu significado. Mostre a conexão do tema com outros conhecidos ou recentemente abordados para facilitar a construção do modelo mental na assistência. Use, mas não abuse de recursos tecnológicos. Se for usar slides, prefira imagens a textos. Use o quadro branco para construir um pensamento encadeado deixando marcado o que é importante. Se for usar vídeos, prefira os curtos (máximo 5 minutos). Eles não devem substituir sua palestra. O humor ajuda a fixar ideias, seu abuso tem o efeito oposto. Conclua sempre com uma mensagem de esperança e uma proposta de exercício interior de reflexão daquele tema. Se possível, deixe espaço para perguntas, uma ou duas são suficientes.
A palestra é o ambiente de preparar o solo, não de plantar a árvore inteira. Bom trabalho!
27 de Novembro de 2015