Em determinado evento espírita na cidade do Rio de Janeiro, tive o prazer de conhecer o professor, escritor e orador espírita Cezar Braga Said. Já sabia do seu poder retórico, e quando chegou o momento de sua explanação ao público, fiquei admirado pela sua fala, seja pela forma, seja pelo conteúdo. Ao final do evento conversamos e ali começou uma sólida amizade.
Passado certo tempo, recebi dele a proposta de escrevermos um livro espírita. Com a facilidade que a Internet proporciona, abraçamos este intento e escrevemos - à distância - o mencionado livro: eu em São Paulo-SP e ele em Nova Iguaçu-RJ. O livro foi escrito através de diálogos e, por meio de nossa comunicação via internet, foi produzido.
A seguir transcrevo, com algumas atualizações, um dos textos do livro, onde o Cezar faz uma pergunta e eu, Alkíndar, a respondo:
Alkíndar, como você entende devamos lidar com a homossexualidade em nosso movimento doutrinário?
Este é um tema, Cezar, que tive que pedir “ajuda aos universitários”. Recorri a alguns amigos. Solicitei a eles que me indicassem a literatura a respeito. Tomei todo este cuidado, primeiro, porque nunca me dediquei a este estudo e, segundo, porque tenho muito carinho pelos nossos irmãos homossexuais. Quando no ano de 1970 me mudei do interior do Estado de São Paulo para sua capital, fui trabalhar como auxiliar administrativo da VARIG. De todos os colegas de trabalho daquela época, o que mais merecia ser chamado de homem era um homossexual. Brilhante nas suas concepções de vida, íntegro, se destacava pelas atitudes dignas. Em nenhum momento procurava seduzir colegas, em nenhum momento brincava com o assunto sexo. Aprendi muito com este meu amigo. E passei a mais respeitar e entender os homossexuais.
Outra história: Residimos certa vez (eu e minha família) em Maringá-PR. Lá havia um espírita homossexual que liderava – com muito respeito e amor – a mocidade espírita. Era também um exemplo de bom homem. Jovem ainda, desencarnou tragicamente. Mas deixou um legado inesquecível. Até hoje – passadas algumas décadas – lembro-me do seu sorriso e do amor que dedicava ao próximo.
Sei que existem homossexuais que brincam com o sexo de forma indigna, que se desvalorizam enquanto seres humanos. Mas, não há heterossexuais que também assim agem? Por que este preconceito de um lado só?
Sob o ponto de vista de educação espiritual é bastante válida a observação do nosso confrade Raul Teixeira que diz: “Se um companheiro ou uma companheira percebe em si as inclinações homossexuais, que procure identificar nisso os gritos da expiação, induzindo à educação para que a vida seja vitoriosa."
No livro Ação e Reação, o espírito Emmanuel afirma que existem três modalidades de manifestações homossexuais. A primeira manifestação é aquela em que o espírito “feminino” encarna em corpo masculino; a segunda, o contrário: o espírito “masculino” encarna em corpo feminino. E, nestes dois casos, soma-se o fato da reencarnação ter finalidade corretiva com caráter expiatório. São espíritos que em existências passadas abusaram de companheiros do sexo oposto. Isto é o que ocorreu na maioria das vezes. Na vida atual estes nossos irmãos recebem a oportunidade de redimirem-se por meio da homossexualidade, para sentirem na “carne” o que os companheiros do sexo oposto sentiram. Nesta modalidade de programação reencarnatória, o ser teve em existências anteriores várias oportunidades de resolver suas questões de sexualidade através da provação. Mas insistindo no erro, veio então, em caráter educativo, a expiação.
O terceiro caso não se reveste de caráter expiatório. Sobre este assunto nos esclarece André Luiz: “(…) os grandes corações e os belos caracteres que, em muitas circunstâncias, reencarnam em corpos que lhes não correspondem aos mais recônditos sentimentos, posição solicitada por eles próprios, no intuito de operarem com mais segurança e valor, não só o acrisolamento moral de si mesmos, como também a execução de tarefas especializadas, através de estágios perigosos de solidão, em favor do campo social terrestre que se lhes vale da renúncia construtiva para acelerar o passo no entendimento da vida e no progresso espiritual”. Como diz o confrade Walter Barcelos em seu livro Sexo e Evolução , neste caso “espíritos cultos e sensíveis com a mente acentuadamente feminina ou marcadamente masculina, reencarnam em corpos diferentes de sua estrutura psicológica, para execução de tarefas especializadas no campo do desenvolvimento intelectual, moral e espiritual da Humanidade”.
Encerremos este texto com as palavras sábias de Walter Barcelos no livro já mencionado: “Respeitemos a vida afetiva e sexual de cada companheiro em experiência transitória da homossexualidade. Se encontrarmos dificuldades em aceitar, tolerar e conviver com esses irmãos em Deus meditemos se agora estivéssemos encarnados em corpo diferente do que a nossa mente determina em matéria de sexualidade. Logicamente, poderíamos estar passando pelas mesmas lutas sentimentais e psicológicas de nossos irmãos homossexuais femininos ou masculinos. As suas lutas espirituais poderão ser as nossas em futura encarnação. Devemos amá-los como eles são, com todas as características de sua personalidade psicológica, pois são também Espíritos imortais, com aquisições valorosas e respeitáveis virtudes, adquiridas em séculos e séculos de aprendizagem nas vidas pretéritas". “Se os homossexuais necessitam melhorar em alguns aspectos de conduta, moral e sexual, as criaturas heterossexuais, chamadas de „normais‟ na atividade sexual, têm também seus problemas morais e de caráter”.
P. S.: Além dos livros citados neste texto, recomendo aos amigos leitores um livro muito bom que trata do assunto homossexualidade. Trata-se da obra: Além do Rosa e do Azul – Recortes terapêuticos sobre homossexualidade à luz da Doutrina Espírita, de Gibson Bastos, CELD Edições.
28 de abril de 2015