O Espiritismo é mesmo a religião que nos clareia o entendimento, permitindo-nos incorporá-la ao cotidiano. Eis que ela não pretende fazer teóricos de carteirinha, novos doutores que se orgulhem do muito saber. Mas oferece-nos as condições para que conheçamos as Verdades Eternas, a fim de vivermos mais felizes. Para tanto, é importante trazer os seus postulados para o íntimo dos nossos corações e de nossas mentes, educando-nos para o bem viver.
O Natal que se aproxima é oportunidade para tal experiência. É surpreendente verificar que toda a mídia, em geral a escrita, quando aborda o Natal, não se lembra de Jesus. Um título comum a muitas reportagens é: “ Arrume sua casa para o Natal!”, seguida de várias e lindas sugestões de decorações para a mesa da ceia, enfeites para as árvores, guirlandas para as portas, receitas deliciosas, para todos os gostos e bolsos…enfim, muitas coisas fazem parte da “arrumação” da casa para o Natal. Mas a incoerência predomina: comemoram um aniversário sem nem tocar no nome do aniversariante. Todos sabemos que natal significa natalício, mas quando é escrito com N maiúsculo, refere-se ao Natal de Jesus. Mesmo assim, mesmo o Natal sendo o tema, Jesus passa despercebido. Papai Noel é o dono da festa de aniversário de Jesus…
E isto vem de décadas, trazendo muito prejuízo à Humanidade!. Este momento é oportuníssimo para que os ensinos do Mestre, que nos permitem nos livrar da ignorância que nos mantém cativos das dores e dos sofrimentos, sejam trazidos à tona, sem os embaraços do dogmatismo religioso. Eis que Jesus não nos veio trazer religião alguma, mas sim um código moral em que pontifica o amor, possibilitando-nos a edificação da felicidade. Mas, temos preferido este paradoxo e quando vemos a mídia falar em Jesus ou é como um frágil neném num berço de palha ou, então, como um vencido crucificado.
Isto não significa não podermos enfeitar a nossa casa para o Natal, tampouco nos esmerar no capricho das boas receitas, alegrando-nos com as cores das fitas e das bolas brilhantes, das pequenas luzes que piscam, levando-nos a sorrir, mesmo estando sós. Claro que podemos. Mas, como espíritas sabemos com o aniversariante que “devemos viver no mundo sem ser do mundo!”
Quem nos ajuda a entender esta questão é o próprio Jesus, aquele a quem elegemos como modelo maior e a quem, portanto, devemos seguir. Em Lucas, 10-38 a 42, temos uma passagem interessante em que o Mestre é recebido na casa de Marta, que tinha uma irmã chamada Maria. Enquanto Marta (nome que significa dona-de-casa) estava na cozinha preparando o que comer para oferecer ao ilustre convidado, Maria sentou-se no chão, aos pés de Jesus, alimentando-se de suas palavras, de seus profundos ensinamentos. Nas idas e vindas, da cozinha para a sala, Marta reclamou com Jesus que sua irmã não a ajudava nos muitos serviços: “Senhor, a ti não importa que minha irmã me tenha deixado sozinha a servir? Dize-lhe, pois, que me ajude! Mas, respondendo-lhe, Jesus disse: Marta, Marta, estás ansiosa e preocupada com muitas coisas, no entanto, poucas são necessárias, ou melhor uma só: como Maria escolheu a parte boa, esta não lhe será tirada.”
Este fato parece ocorrer nos nossos dias! A nossa sociedade chora pelas tristes consequências de sua opção pelo materialismo e pelo consumismo exacerbado, que deixam nossas famílias famintas do pão do Espírito, aquele oferecido por Jesus.
Enquanto estamos inquietos na arrumação de nossas casas para o Natal, apenas focados e preocupados com as necessidades materiais, perdemos a boa parte, aquela que há de nos alimentar pela eternidade, possibilitando-nos, também, transferir este alimento aos nossos filhos, à nossa família. Enfim e além de tudo, servindo este alimento a tantos quanto conviverem conosco, auxiliando a edificar o bem, onde estivermos, contribuindo para a melhoria da sociedade em que vivemos.
O Natal de Jesus para nós, espíritas, deve ser, pois, comemorado com todas as alegrias materiais, dentro das possibilidades de cada um. Afinal, é o aniversário do nosso amado Mestre. Mas a essência da comemoração é a vinda de Jesus à Terra, com o fim superior de nos ensinar a ciência do bem viver, resumida por Jesus “na boa parte”, aquela que nos permitirá fazer da nossa casa o verdadeiro lar, onde nossa família, equilibradamente, respirará uma atmosfera psíquica em que reine a paz e a harmonia, onde todos saberão da responsabilidade que lhes cabe na edificação do próprio futuro. E Jesus, então, será o convidado ilustre e presente, pois nossa casa estará preparada para ele, arrumada para recebê-lo; não apenas em mais uma comemoração do seu Natal, mas em todos os dias do ano, quando estaremos felizes e aos seus pés, aprendendo a boa parte, aquela que ninguém nos tirará!
24 de Dezembro de 2015