Quando a morte nos sobressalta, arrebatando- nos do convívio um ser amado ou mesmo uma figura ilustre, daquelas que fizeram da vida meta de realizações superiores, e que, por isto,são respeitadas… fica-nos após o susto, após o choque, o espaço para meditação.
Criaturas tão queridas ou admiradas, parecem-nos invulneráveis à morte, como se esta fosse feita apenas para os menos notáveis, ou, quem sabe, deva ela acontecer, unicamente, com outrem, deixando-nos e, aos que amamos, a salvo de tão implacável ação.
A morte, apesar da sua antiguidade, bem como da antiguidade do mundo, permanece como um desafio para aqueles que ficam. Desafio de dor, de saudade, que, sem o entendimento ministrado pela Doutrina Espírita, assume aspecto de desafio de Deus, ratificando-nos a impotência ante o Seu poderio.
A dor de quem fica, sob o impacto aterrador da “perda”, se multiplica ante a idéia da separação definitiva, do desconhecimento daquilo que se passará após a morte, e, feito tragédia, mostra-se incompatível com a justiça e bondade do Pai.
Ora, é preciso que creiamos em Deus mas sabendo porque Nele cremos.
Assim, parafraseando Vinícius de Moraes, que nos perdoem as outras religiöes, mas, para entendermos a morte, o Espiritismo é fundamental. Isto, porque esta doutrina veio lançar luz sobre o conceito de morte, permitindo-nos identificá-la não mais como a inimiga cruel e traiçoeira, tampouco como castigo divino e ainda menos como o recurso Dele, usado para “atrair os bons ao Seu reino”. Afinal bons e maus com ela se encontram e a bondade, neste caso, não significaria benefício algum.
Desde a publicação de “O Livro dos Espíritos”, em 1857, a morte sofreu uma flagrante derrota, restringindo o seu significado ao corpo físico. Apenas este, a ela está sujeito. O Espírito, que tem vida eterna, retorna ao mundo de onde proveio e de onde se afastou, temporariamente, para nova reencarnação.
Somos, pois, Espíritos em evolução, ocupando os corpos físicos adequados ás nossas necessidades individuais de aperfeiçoamento, permanecendo na Terra o tempo que nos foi concedido para a realização das tarefas que nos cabem. “Morrer não é o fim”, diz Roberto Carlos…
E, a mensagem racional do Espiritismo se faz altamente consoladora, pois, o conhecimento e assimilação do Evangelho de Jesus, nos permitem a todos, enfrentar as desencarnações dos entes queridos, chorando sim, mas nunca por revolta ou desconhecimento. A certeza da imortalidade, da transitoriedade da vida física, a convicção da justiça e do amor de Deus, fortalecem-nos a razão e o sentimento, preparando-nos para as horas difíceis das separaçöes, pelas quais precisamos, ainda, passar.
Assim, sabemos que ninguém morre.
Deus não brincaria com seus filhos, lançando-os às misérias do mundo para depois, traiçoeira e covardemente, arrebatá-los dos braços de seus entes queridos.
Todos retornamos ao mundo espiritual na razão das nossas necessidades, sob os ditames da lei de causa e efeito a que todos estamos vinculados. E o fazemos levando conosco todos os nosso tesouro, aquele que “a traça não corroi, a ferrugem não consome e o ladrão não rouba”.
Importante é ter sempre em mente que o tempo que nos for dado viver no corpo físico deve ser utilizado para dignificar-nos a existência, assegurando-nos uma libertação tranquila para a serenidade na vida espiritual. Lá, prosseguiremos no aprendizado, reestruturando-nos para uma próxima reencarnação, que, muitas vezes, se concretiza num breve espaço de tempo, permitindo-nos o reencontro com os entes queridos que aqui permaneceram.
Diz-nos, a propósito, Martins Peralva: “Que ninguém se entregue ao pranto inestancável, inconformado, ante o corpo estirado no esquife; que ninguém se envergonhe de ensopar os olhos com as lágrimas da saudade justa, compreensível ante o coração amado que demanda outras regiöes; mas que o trabalho do bem seja a melhor forma de lhe cultuarmos a lembrança”.
A dor de quem fica deve ser sublimada na tarefa suave do exercício da fraternidade, legando, ao que se foi, as melhores vibraçöes de paz e amor, concretizadas na alegria e na ternura que distribuiremos em seu nome. O conforto e a tranquilidade interiores serão consequências naturais destas atitudes.
Os que se foram para a Pátria Espiritual já cumpriram sua tarefa na escalada evolutiva.
Nós, os que ainda aqui estamos, continuemos nossa jornada. Apoiados nos ensinos cristãos, revividos pelo Espiritismo, que, como afirma Léon Dénis, “luariza de esperança a noite de nossas vidas”, empreendamos nossa melhoria interior, edificando a parte que nos cabe na construção de um mundo melhor.
Seguindo Jesus, deixemos que “os mortos enterrem os seus mortos”, e participemos da vida integral que ele nos oferece pela compreensão da Verdade que ele representa. Nela não há lugar para a morte, pontificando, apenas, um horizonte iluminado e feliz, a que alcançará, cada um por sua vez, a humanidade inteira!
27 de Julho de 2015