Fecho o jornal e os olhos.
Procuro não me deixar ficar sem esperanças no homem e no mundo. Mas é difícil, porque tantos são os descalabros, os níveis de imoralidade, corrupção e inversão de valores…
Gargalhadas dos incautos, vindo da jornalística foto, ecoam em minha mente. E penso: “estão sempre risonhos. Serão felizes?” Ouso arriscar: “não há solução para o mundo! Estas pessoas debocham de Jesus! Como falar em amor e fraternidade, justiça e caridade, em um antro de ignorância das leis divinas, em que os “donos do mundo” dominam as multidões com suas espadas ameaçadoras feitas de injustiça e antiética; em que os malfeitores assumem os lugares da dignidade e do bom senso?
Por um momento, vejo o Brasil descendo os degraus da iniquidade, perdendo de vez a possibilidade de ser “O Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho”.
Vem-me à mente a imagem de Jesus e de suas palavras eloquentes sobre o amor que deve se multiplicar para que o bem se faça em toda parte. Penso nos seus apóstolos, não só nos seus contemporâneos, mas naqueles que lhes seguiram as pegadas ao longo dos séculos para que sua mensagem salvadora não se perdesse. E minha angústia aumenta.
Foram tantos e tão dedicados… Estiveram na Literatura, nas Artes, na Ciência, na Filosofia e até na Política. Na Religião foram em menor número, proporcionalmente ao que receberam… Quase todos foram perseguidos, muitos assassinados, mas todos deixaram seu recado, seu exemplo. Os apóstolos do Bem são sempre perseguidos; em maior ou menor escala, mas são perseguidos. Mas não foi o próprio Jesus que lhes prometeu o galardão nos céus em virtude de tal perseguição?
Meu pensamento, desconectado da cronologia, faz-me passar por John Huss, por Ghandi, por Joana D’arc, por Francisco de Assis, Martin Luther King e tantos outros, deixando claro que nunca estivemos sós, como nos antecipou a Divina Providência: ”Nunca te deixarei nem te desampararei”.
Chego, enfim, a Chico Xavier, apóstolo da caridade, do amor e da coragem, tão próximo de nós! Penso em sua bondade, sua ternura e paciência, enfrentando adversidades físicas, morais e sociais para ratificar a teoria espírita trazida por outro apóstolo: Allan Kardec.
Percebi que aquela tristeza que sentia diante dos absurdos do mundo contemporâneo era fruto do meu orgulho pessoal e do afastamento da mensagem de Jesus, a que me permitia.
Saiba, prezado leitor, que me envergonhei.
Abri meus olhos e enxerguei o meu mundo exterior: um lar amigo que me protege e abençoa. A família querida, sempre presente e amorosa. Braços e pernas perfeitos, todas as funções orgânicas em quase-ordem. A inteligência mediana capaz de entender a mensagem de Jesus, clarificada pelo Espiritismo. E mais: exemplos sadios de um sem número de apóstolos que, muitas vezes, saíram da vida física sob completo anonimato, mas plenos de realizações felizes no campo do bem, dentro do mundo acanhado em que viveram.
Senti as esperanças renovadas. Perplexa ante minha hesitação, mas acordada para minha responsabilidade para com o trabalho e a modificação interior que preciso alcançar. “Conhece-se o verdadeiro espírita por sua transformação moral, pelo grande esforço que faz em combater suas más tendências”, lição imorredoura de Kardec para cada coração interessado em se aprimorar.
Lembrei-me, em seguida, de que Emmanuel, por meio da psicografia do Chico Xavier, diz que “não estamos na obra do mundo para aniquilar o que é imperfeito, mas para completar o que se encontra inacabado”.
Fechei os olhos, novamente, ainda envergonhada.
Por meio da prece, possibilidade comum a todos, pedi o amparo dos incansáveis trabalhadores do bem. E, quase que de imediato, alcancei a justeza daquele ensino de Jesus que vibra através dos séculos: “Não julgueis!”
Emocionada, entendi que no campo de aprendizado em que me detenho, resta-me, como ensina Emmanuel, “ a honra de ajudar, a prerrogativa de entender e a glória de servir.”
Que eu faça a minha parte.
4 de Maio de 2015