2 de fevereiro de 2017
“Quero matar um muçulmano”, disse homem ao esfaquear passageiro em trem
Por iG São Paulo Ataque a faca aconteceu na estação Forest Hill, no sul de Londres. Agressor foi detido no local pela polícia, que foi acionada por testemunhas; entenda Um passageiro foi esfaqueado no trem em Londres, na Inglaterra, nesta segunda-feira (12). O esfaqueamento ocorreu na estação Forest Hill, ao sul da cidade. Passageiros e consumidores na região procuraram abrigo em lojas e pubs a fim de fugir do agressor, que corria pelas ruas com a faca em mãos. De acordo com testemunhas, o homem esfaqueou múltiplas vezes o passageiro, que estava sentado no trem ao lado de sua esposa. Após o esfaqueamento, saiu correndo pela região da estação Forest Hill e gritava que “queria matar um mulçumano”. Por aproximadamente 15 minutos, o agressor aterrorizou pedestres próximos à estação, até que as autoridades chegaram ao local. Mais tarde, a polícia divulgou que o homem foi preso e está sob custódia por lesão corporal grave, que é a maior sentença por agressão na Inglaterra. O agressor tinha a intenção declarada de agredir mulçumanos. De acordo com o jornal britânico “The Mirror”, o homem gritava “quem é mulçumano? Eu quero matar um mulçumano” e “quem quer que seja mulçumano, eu vou te matar!”. Uma testemunha diz que ele chegou a apontar a faca para uma mulher com lenço no cabelo e perguntar onde estava seu marido. O acontecimento, que foi batizado ‘o esfaqueamento de Forest Hill’, foi amplamente discutido nas redes sociais. As pessoas no local publicaram informações e imagens do ataque e da ação da polícia via Twitter, Facebook e Snapchat.
Ataques em trens europeus O ataque em Forest Hill não é o primeiro deste ano. Em julho um jovem refugiado feriu cinco pessoas em um trem com um machado depois de supostamente gritar “Allahu alkbar” (Deus é grande, em tradução livre). O jovem foi detido pela polícia com um tiro e morreu no local. Em agosto, foram dois ataques. O primeiro ocorreu na Suíça, quando um homem ameaçou e feriu passageiro com uma faca e, em seguida, ateou fogo ao trem. No total, seis pessoas foram feridas, entre elas uma criança. Em ambos os ataques, o Estado Islâmico declarou responsabilidade. O segundo esfaqeuamento, apenas três dias após o ataque na Suíça, foi na Áustria. Um homem atacou dois jovens, de 17 e 19 anos, que foram levados ao hospital em estado grave. O agressor, que supostamente sofria de doença mental, foi morto durante sua fuga. Notícia publicada no Portal Último Segundo , em 12 de dezembro de 2016.
Carlos Miguel Pereira* comenta “Zaqueu, desce dessa árvore porque é preciso que eu me aloje hoje em tua casa.” - Jesus Em tempos absurdos, é urgente lembrar a suprema lucidez. Quando julgávamos que bastaria educar as pessoas para a fraternidade, ouvimos o discurso do ódio repetido por responsáveis políticos de países que eram o símbolo da liberdade. Quando pensávamos que o derrube do muro de Berlim era o início de uma nova era de aproximação entre os povos, assistimos com estupefação ao levantamento de mais barreiras, ao encerramento de fronteiras, à proibição de acesso por razões relacionadas com a nacionalidade e religião. Em tempos não muito distantes, os Homens construíram muros à volta das cidades para se defenderem dos ataques dos salteadores e dos exércitos inimigos. Reclusos dentro dos seus cárceres sentiam-se seguros e invioláveis, mesmo reconhecendo que a maior fortaleza poderia ser vergada pela persistência de um grande exército. O tempo foi transformando as muralhas em vestígios arqueológicos, mas o Homem não extinguiu a necessidade de levantar novas barreiras que o protegessem do medo e da suspeição que as diferenças continuavam a provocar-lhe. Umas mais visíveis do que outras, em todas as paredes de segregação que foram e continuam a ser construídas, ficam gravadas as dores e os vícios morais que ainda nos atormentam como Humanidade. “É preciso respeitar o direito à diferença” – ouve-se gritar de forma convincente. É uma afirmação tão óbvia que nem deveria ser preciso repeti-la tantas vezes, mas uma coisa são as palavras que se atiram ao vento e outra bem distinta é o que se faz com elas. Vivemos numa época em que a informação é global, abundante e propaga-se a velocidades impensáveis. Basta um toque num minúsculo botão para ficarmos em contacto com outra pessoa em qualquer lugar do planeta, acumulamos amigos virtuais com quem partilhamos mensagens, ideias e opiniões, as redes sociais ostentam os mais minuciosos detalhes das vidas privadas e daquilo que queremos que os outros saibam sobre nós. Poderia pensar-se que esta é uma época que potencia a comunhão fraternal e a igualdade, mas não é. Ao sairmos do virtual para o real, não pode deixar de ser com incredulidade e muita preocupação que em pleno século XXI assistimos ao aprofundar das desigualdades socias, ao crescimento das ideias nacionalistas, do racismo e do preconceito contra grupos minoritários, à proliferação de atitudes xenófobas em recintos desportivos e de criação de leis cada vez mais rígidas contra os emigrantes e refugiados. Isto significa que esta sociedade da nanotecnologia, e que se julga tão avançada, ainda se encontra cheia de medos e perversidades medievais que, reconhecendo virtualmente o direito à diferença, demonstra muita dificuldade em libertar-se da ignorância, da desconfiança e dos preconceitos. No fundo, parece que a diferença é tolerada se estiver bem escondida, delimitada por altas muralhas ou reduzida à sua dimensão superficial, mas o caso muda de figura quando ela é ostentada no cenário da vida quotidiana e passa a criar incómodos às convicções íntimas ou aos interesses instalados. Os tiques nacionalistas, mascarados de patriotismo, acicatam a desconfiança, alimentam o ressentimento, promovem a exclusão e vão reduzindo o sentido de dignidade que reconhecemos ao outro que é diferente, ou seja, o direito que lhe atribuímos para ser tratado, compreendido e respeitado em toda a sua humanidade. Apesar do caminho percorrido, como indivíduos e sociedade, ainda há muito que caminhar em direcção à comunhão para com todos os que são, agem e pensam de forma diferente. Para alcançarmos esse objetivo seria necessário ter a coragem para galgar as fronteiras do nosso mundinho acanhado e bafiento, dos muros construídos pelo medo e pela ignorância. Muros que geram competição, ciúmes e dependências, que criam polaridades exaltando a urgência da posse, do poder e do domínio sobre os outros. Muros que têm retalhado o mundo entre o preto e o branco, o certo e o errado, o bom e o mau, o nosso e o deles, entre ricos e pobres, inteligentes e preguiçosos, evoluídos e sofredores, entre aqueles que são filhos de Deus e os que são meros enteados do criador. Muros que nos impedem de sentir o outro na sua singularidade, de tocar as suas dores, ambições e vontades, muros que não nos deixam compreender. A vivência de uma espiritualidade saudável precisa empurrar-nos em direção à fraternidade para com todos. Uma fraternidade que salta das páginas dos livros, da complexidade das ideologias e dos cómodos mundos virtuais, e que vem concretizar-se pela aproximação ao outro e à sociedade, através de uma solidariedade que faz cada um sentir-se responsável por todos, de uma humildade que reconhece que não existem senhores nem privilegiados e em que todos os seres humanos têm os mesmos direitos e dignidade. “É urgente o amor!” Escreveu o poeta Eugénio de Andrade. É urgente não desistir de lutar pelos princípios de liberdade, igualdade e fraternidade que sustentam o mundo democrático. Em cada muro derrubado, em cada preconceito vencido, em cada lágrima que não seja chorada em solidão, em cada gesto de bondade arrancado ao egoísmo, em cada passo dado na compreensão da diferença, todos ficaremos mais próximos da humanidade real. Ficaremos mais perto da concretização do sonho a que um bondoso carpinteiro dedicou a sua vida: a fraternidade universal.