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Lonni Sue Johnson apresentou aos 64 anos uma encefalite viral que destruiu o ponto do cérebro onde são criadas e alojadas as memórias. Meses depois, porém, os médicos perceberam que, apesar de as memórias terem desaparecido, suas habilidades estavam preservadas. Claudio Conti comenta.

  • Data :31/07/2016
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31 de julho de 2016

Perder a memória não significa perder as habilidades

Helô D’Angelo, da Superinteressante

Ela era uma artista renomada, cujos trabalhos já foram capa da revista New Yorker seis vezes. Tocava violino em uma orquestra amadora e, como hobbie, aprendeu a pilotar um avião monomotor, com o qual realizou mais de 400 viagens.

Mas, aos 64 anos, tudo caiu por terra: uma encefalite viral destruiu o ponto do cérebro onde são criadas e alojadas as memórias - o hipocampo. Meses depois, porém, os médicos perceberam que, apesar de as memórias terem desaparecido completamente, as habilidades de Lonni Sue Johnson estavam preservadas.

A doença deixou o cérebro de Lonni com sérios danos. Hoje, ela não consegue lembrar nem de eventos importantes de sua vida - como o próprio casamento -, nem de coisas que ela acabou de fazer - como escovar os dentes.

Ela não consegue aprender nada novo, e não tem conhecimento de como o mundo funciona - incluindo o que era super conhecido por ela, como o mundo da arte.

Mas, quando questionada sobre como pilotar um avião, como pintar uma aquarela ou para que servem as cordas de um violino, ela responde rapidamente.

Lonni é um caso tão intrigante que passou a ser estudado pela Universidade John Hopkins, onde os cientistas determinaram o quanto as habilidades da ex-artista haviam sido mantidas.

Para isso, aplicaram um teste oral com perguntas específicas sobre cada uma das áreas que a mulher tinha mais facilidade - artes, música e voo.

As questões eram simples, como “qual a melhor forma de remover água em excesso da aquarela?” ou “como fazer para um avião não tombar para o lado?”.

O mesmo teste foi aplicado para outras 80 pessoas, com a mesma idade de Lonni - entre elas, experts nessas áreas. O resultado surpreendeu os pesquisadores: Lonni superou os leigos nas questões sobre aviação e música, e foi melhor do que os experts nas perguntas sobre arte.

O caso sugere que a concepção científica mais aceita do que é “memória” está errada. Até agora, os neurocientistas acreditavam que a memória só se diferenciava de habilidades mecânicas, como andar de bicicleta, mas o quadro de Lonni mostra que a coisa é diferente: as habilidades que ficaram marcadas na cabeça dela não são meramente corporais; são complexas como pilotar um avião e abstratas como a pintura e a música.

Matéria publicada na Revista Exame , em 24 de junho de 2016.

Claudio Conti comenta*

Na abordagem materialista, a mente é um subproduto do cérebro e, com isso, estaria definitivamente atrelada ao bom funcionamento deste último para que a pessoa possa laborar adequadamente.

Contudo, nos últimos anos, com o avanço das técnicas de diagnóstico, especialmente com o uso de imagens do interior e funcionamento dos órgãos do corpo humano, os paradigmas relacionados com a estrutura e funcionamento do cérebro sofreram drásticas mudanças, pois já é possível observar este órgão em funcionamento.

Importa ressaltar que, apesar de grandioso avanço, ainda muito pouco se sabe sobre este tão misterioso e intrigante órgão.

O médico Deepak Chopra, mundialmente conhecido em decorrência de sua vasta obra literária, publicou um livro especialmente dedicado ao cérebro, sugestivamente intitulado Super Cérebro (Super Brain no título original). Neste livro, Deepak Chopra lista e esclarece alguns mitos sobre o cérebro que, de alguma forma, limitam o entendimento e, com isso, impõem barreiras para que o indivíduo possa superar certos limites impostos.

Os mitos listados no livro Super Cérebro são:

  1. Os danos ao cérebro são irreversíveis: Hoje sabemos que o cérebro tem um surpreendente poder de cura, do qual não suspeitávamos no passado.

  2. Os circuitos cerebrais são imutáveis: Na verdade, a interação entre a estrutura física e a programação do cérebro é constante, e nossa capacidade de criar novos circuitos cerebrais permanece intacta do nascimento até o fim da vida.

  3. O envelhecimento do cérebro é inevitável e irreversível: Contrariando essa crença antiquada, surgem todos os dias novas técnicas para manter o cérebro jovem e preservar a acuidade mental.

  4. O cérebro perde milhões de células por dia, que não podem ser substituídas: Na verdade, o cérebro contém células-tronco que são capazes de desenvolver novas células cerebrais ao longo da vida. Saber como perdemos e ganhamos essas células ainda é uma questão complexa. A maior parte das novas descobertas trazem boas notícias para quem tem medo de perder a capacidade mental com o envelhecimento.

  5. Reações primitivas (medo, raiva, ciúme, agressividade) dominam o cérebro racional: Como em nosso cérebro estão gravadas memórias genéticas de milhares de gerações, o cérebro primitivo continua conosco, gerando impulsos primitivos muitas vezes prejudiciais, como o medo e a raiva. Mas o cérebro evolui constantemente, e conquistamos a capacidade de dominar o cérebro reptiliano com a liberdade de escolha. A psicologia positiva, um novo campo da ciência, está nos ensinando a usar melhor o livre-arbítrio para promover a felicidade e vencer o negativismo.

Desta forma, podemos observar que o cérebro é muito mais plástico do que se imaginava.

O Espiritismo vem, antes mesmo desta revolução científica do século XX e que continua no século XXI, esclarecer que o detentor da mente é o espírito que utiliza o cérebro físico como órgão de expressão. Assim, a memória não estaria “armazenada" no cérebro, mas no intrincado sistema energético do espírito, com isso, danos no órgão pode até dificultar o espírito de se expressar, contudo, não significa perda de informação e, por isso, o espírito poderá encontrar meios para se expressar materialmente.

Sob a ótica espírita, portanto, relatos como o apresentado no artigo em análise é compreensível, não trazendo nenhuma surpresa além da confirmação da essência espiritual de todos.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .