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O agravamento da pobreza no Iraque nos últimos anos está levando muitas famílias a apelar para a venda de órgãos. É o caso da família de Om Hussein, uma mãe iraquiana que chegou ao limite de suas forças e, desesperada, não viu outra saída. Claudio Conti comenta.

  • Data :08/05/2016
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8 de maio de 2016

Famílias iraquianas recorrem a venda de órgãos contra pobreza

Ahmed Maher Da BBC News em Bagdá

O agravamento da pobreza no Iraque nos últimos anos está levando muitas famílias a apelar para a venda de órgãos.

É o caso da família de Om Hussein, uma mãe iraquiana que chegou ao limite de suas forças e, desesperada, não viu outra saída.

Assim como milhões de pessoas no país marcado por mais de uma década de guerras e violência, ela, o marido e quatro filhos enfrentam fome e miséria para sobreviver.

O marido, Ali Hussein, está desempregado. Ele é diabético e tem problemas cardíacos. Há nove anos que a família é sustentada por Om, que trabalha como empregada doméstica.

Mas ela diz estar ficando sem condições de trabalhar.

“Estou cansada e ficamos sem dinheiro para pagar aluguel, remédios, comida e as necessidades das crianças”, conta ela, na casa de um quarto no leste de Bagdá, onde a família está morando temporariamente.

A casa onde a família morava estava tão deteriorada que desabou há alguns meses; eles têm sobrevivido graças à ajuda de amigos e parentes.

“Trabalhei em tudo o que você pode imaginar”, conta o marido, Ali. “Açougueiro, diarista, catador de lixo. Eu não pediria dinheiro, mas eles deram”, disse Ali.

“Eu diria para o meu filho pegar pão jogado fora na rua e nós comeríamos, mas nunca pedi comida ou dinheiro.”

Sacrifício

Em meio a tanta pobreza, Om Hussein decidiu fazer um grande sacrifício.

“Decidi vender um dos meus rins. Eu não podia mais sustentar minha família. Seria melhor do que vender meu corpo ou viver de caridade”, disse.

O casal encontrou um traficante de órgãos, mas exames iniciais mostraram que os rins de Om e de seu marido não eram saudáveis o bastante para aguentar um transplante.

Decepcionados, o casal pensou em uma solução desesperada.

“Por causa de nossa situação miserável até pensamos em vencer o rim de nosso filho”, disse Ali apontando para o filho de nove anos, Hussein.

“Faríamos qualquer coisa menos pedir esmolas. Por que nós chegamos a isso?”

A família não foi tão longe, mas dizem que só de pensar na possibilidade todos já ficaram desolados.

O comércio

A crescente pobreza no país deu grande impulso ao tráfico de rins e outros órgãos em Bagdá.

Segundo estatísticas do Banco Mundial relativas a 2014, cerca de 22,5% da população do Iraque, de quase 30 milhões de pessoas, vivem na miséria.

Gangues oferecem até US$ 10 mil (quase R$ 36 mil) por um rim e têm se aproximado dos iraquianos mais pobres, transformando o país em um novo centro do comércio de órgãos no Oriente Médio.

“O fenômeno é tão espalhado que as autoridades não tem como combatê-lo”, disse Firas al-Bayati, advogado ligado a defesa de direitos humanos.

“Nos últimos três meses lidei pessoalmente com 12 pessoas que foram presas por vender os próprios rins. E a pobreza era a razão por trás destes atos.”

“Imagine este cenário: um pai desempregado que não tem nenhuma fonte de renda para sustentar os filhos. Ele se sacrifica e ainda é preso. Considero-o uma vítima; tenho que defendê-lo”, diz ele.

Nova lei

Em 2012, o governo aprovou uma nova lei para combater o tráfico de pessoas e órgãos.

Apenas familiares podem doar os órgãos para outra pessoa e com consentimento mútuo.

Mas a partir daí, os traficantes passaram a usar documentos de identidade falsos, tanto do comprador como do vendedor, para provar que seriam da mesma família.

“É muito fácil falsificar documentos de identidade. Mas, em breve, o governo vai introduzir novas identidades biométricas, que são impossíveis de falsificar”, disse al-Bayati.

As penas por quem comercializa órgãos varia de três anos de prisão à pena de morte e, segundo Firas al-Bayati, os juízes não costumam aceitar a pobreza como justificativa para o crime.

Na prisão

A reportagem da BBC teve acesso a uma prisão iraquiana para se encontrar com um homem que foi preso depois de oferecer rins para vender.

Mohammed, que preferiu não dar o nome completo, está em uma prisão de segurança máxima junto com outras dez pessoas condenadas por tráfico de órgãos.

“No começo eu não me sentia culpado”, disse Mohammed, que tem dois filhos.

“Encarava como uma causa humanitária, mas depois de alguns meses neste negócio comecei a questionar a moralidade – principalmente por causa das condições miseráveis dos vendedores de órgãos. Partiu meu coração ver jovens fazendo isto por dinheiro.”

Ele foi preso em frente a um hospital público de Bagdá em novembro de 2015 depois que um policial fingiu ser um possível comprador.

A maioria dos transplantes ilegais de órgãos ocorre em hospitais particulares, especialmente no Curdistão iraquiano, segundo Mohammed. Nesta região há menos restrições do que em Bagdá.

Mas retiradas de órgãos ou transplantes acabam sendo realizados também em hospitais públicos; os cirurgiões dizem que é muito difícil analisar os documentos de cada caso.

“Não há lei no mundo que responsabilize o cirurgião por isso”, disse Rafe al-Akili, cirurgião no Centro de Doenças e Transplantes Renais de Bagdá.

“É verdade que, em alguns casos, temos dúvidas, mas não é o bastante para impedir a cirurgia pois, sem ela, as pessoas vão morrer.”

Notícia publicada na BBC Brasil , em 20 de abril de 2016.

Claudio Conti comenta*

Desde longa data a humanidade se digladia acerca do tipo de governo mais adequado. Grandes debates são mantidos chegando, muitas vezes, à agressão física e verbal.

Todos os lados apresentam as vantagens de suas convicções, enquanto que apontam as desvantagens dos outros modelos. Em geral, todos têm razão e, ao mesmo tempo, estão equivocados. Podemos dizer, sem medo de errar, que todos estão equivocados pelo simples motivo, que não tem nada de simples, de haver reportagens como esta em análise.

Independentemente de tudo e qualquer coisa, todo e qualquer sistema falirá no intuito principal de um governo, que é propiciar condições adequadas de vida para os governados, enquanto houver o orgulho e o egoísmo norteando ideias e ideais.

No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo , mais precisamente no capítulo VII, encontramos o seguinte: “Generaliza-se o mal-estar. A quem inculpar, senão a vós que incessantemente procurais esmagar-vos uns aos outros? Não podeis ser felizes, sem mútua benevolência; mas, como pode a benevolência coexistir com o orgulho? O orgulho, eis a fonte de todos os vossos males. Aplicai-vos, portanto, em destruí-lo, se não lhe quiserdes perpetuar as funestas consequências.” No capítulo XI, temos ainda: “Com o egoísmo e o orgulho, que andam de mãos dadas, a vida será sempre uma carreira em que vencerá o mais esperto, uma luta de interesses, em que se calcarão aos pés as mais santas afeições, em que nem sequer os sagrados laços da família merecerão respeito.”

O orgulho, no qual se busca uma luta incessante para a manutenção de poder ou posição, pode levar as pessoas às mais cruéis das torpezas contra, muitas vezes, os seus concidadãos, vizinhos e amigos. Em determinadas condições de insanidade, mental e moral, dependendo da posição que ocupar, o indivíduo poderá afetar aqueles que lhe estão ao redor, tais como os familiares, um grupo maior, tais como os funcionários de uma empresa, ou, no pior do extremo, um país inteiro, privando os cidadãos do mínimo necessário para a manutenção da vida pessoal e de seus dependentes.

Na condição de desespero a que pode chegar uma população sem esperanças de alcançar o sustento através do trabalho digno, qualquer opção passa a ser uma opção válida. O desespero turva a mente, obliterando o bom senso.

A memória é curta e o esquecimento cobra o seu preço. Em alguns casos, situações como esta se estabelece à força, noutras vezes é por “opção” da população diante do que lhes é apresentado. A educação da população é fundamental para que se desenvolva o discernimento e a capacidade de análise da informação divulgada.

  • Claudio Conti é graduado em Química, mestre e doutor em Engenharia Nuclear e integra o quadro de profissionais do Instituto de Radioproteção e Dosimetria - CNEN. Na área espírita, participa como instrutor em cursos sobre as obras básicas, mediunidade e correlação entre ciência e Espiritismo, é conferencista em palestras e seminários, além de ser médium pscógrafo e psicifônico (principalmente). Detalhes no site www.ccconti.com .