18 de agosto de 2015
Cadeirante homenageia moça que o ajudou a tomar sorvete: “já somos amigos”
Renata TavaresDo UOL, em Uberlândia (MG) A atendente Lawane Rodrigues, 17 anos, e o cadeirante José Avelino, 49 anos, que aparecem em uma foto compartilhada milhares de vezes nas redes sociais nesta semana, voltaram a se encontrar na tarde de hoje. Ele reapareceu no quiosque de sorvetes do McDonald’s de um shopping de Uberlândia (537 quilômetros de Belo Horizonte, em Minas Gerais) em que ela trabalha. José Avelino, que ficou com os movimentos comprometidos depois de ficar sem oxigênio no cérebro na hora do parto e tem dificuldades na fala, entregou um buquê de rosas a Lawane e agradeceu à adolescente por tê-lo ajudado quando precisou. “Estou muito feliz. Ela merece essa homenagem”, disse ele. A adolescente ficou emocionada quando viu José Avelino chegando próximo ao quiosque com as flores no colo. “Embora eu já tenha o visto essa semana, não esperava que ele viesse até aqui. Uma homenagem como essa não se esquece, estou feliz com todo esse reconhecimento”, contou Lawane. Questionados pelo UOL se agora vão ficar amigos, José Avelino sorriu e Lawane completou a frase: “nós já somos [amigos]. Conheci a família dele e sei que são pessoas de bem”. Quem também esteve presente na homenagem foi o professor e músico Thiago Ferreira. Foi ele quem fez a foto de Lawane Rodrigues dando sorvete para José Avelino no dia 31 de maio. A foto comoveu internautas nas redes sociais. A reportagem do UOL sobre o assunto foi compartilhada por mais de 287 mil pessoas. “Não imaginava que ia fazer tanto barulho. Desde domingo recebi mais de 1,4 mil solicitações de amizades e tem sempre alguém me ligando, parando na rua para falar sobre a foto”, conta Thiago Ferreira.
Vida conturbada Desde o dia em que a foto foi postada, Lawane viu sua vida mudar de rumo. Ela revela que ainda não teve como trabalhar direito ou se sentar para conversar com amigos e familiares. “O telefone toca o tempo todo. São pessoas e imprensa de várias partes do Brasil querendo falar comigo. Nunca tinha vivido isso e estão acontecendo muitas coisas ao mesmo tempo”, disse. A reportagem acompanhou o trabalho da adolescente no quiosque de sorvetes, por alguns minutos e sempre aparecia alguém para parabenizá-la pelo gesto. Luiz Fernando de Jesus, Sinara Tanashi e Rosele Leão estavam entre essas pessoas. “É importante reconhecê-la. Hoje as pessoas são muito egoístas, param nas vagas destinadas a deficientes, não respeitam os idosos e quando há um gesto como esse deve ser valorizado”, disse Rosele. A mãe da adolescente, Silvia de Sousa, está orgulhosa e ao mesmo tempo surpresa com o momento em que a filha vive. “Ela sempre foi muito tímida. Quase não fala com as pessoas e quando eu vi a foto dela na rede social, sabia que era de coração. Foi algo que me fez chorar. Estou muito feliz com o reconhecimento que ela tem recebido.” Notícia publicada no Portal UOL , em 4 de junho de 2015.
Claudio Conti* comenta O fenômeno da internet é surpreendente. Nela, é possível observar o quanto perdidos e sequiosos de novidades são uma grande parte de seus usuários. Obviamente que não podemos, nem devemos, generalizar. Não desejamos, com estas palavras, denegrir a internet, pois se trata de uma importante ferramenta para disseminação de informação, sendo acessível em escala mundial. Além disso, considerando a dimensão do acervo disponibilizado, o custo associado é basicamente desprezível quando comparado com o preço envolvido se toda esta informação fosse adquirida na forma de jornais, revistas e livros. Quase qualquer coisa pode se tornar notícia de uma hora para outra, tomando proporções inimagináveis há pouco tempo atrás, desde alguém considerado como sendo uma celebridade, alguns por motivos banais, outros por motivos duvidosos, tecendo comentário ou fazendo declarações igualmente banais ou duvidosos, até um momento de carinho e atenção como o auxílio da garçonete ao cadeirante. Em meio a tanta banalidade, vez por outra, algum evento registrado por um dos muitos “repórteres” atuais, pois a grande quantidade de celulares com câmera fotográfica viabiliza que praticamente tudo que acontece esteja potencialmente sob a mira de uma ou mais destas câmeras e, com isso, possa ser registrado, aliado a facilidade de postagem nas mídias sociais, se torna motivo de enormes reações. Obviamente que o ato da moça foi louvável e de merecida admiração, contudo explorar um gesto de amor e as pessoas envolvidas é lamentável. A primeira foto pode ter sido por acaso, em decorrência, como mencionado anteriormente, que tudo e todos estão sendo observados por câmeras fotográficas de uma enorme quantidade de aparelhos celular. Contudo, é difícil supor que também foi por acaso que, não apenas o fotógrafo que registrou a cena, mas também toda uma equipe de reportagem estavam presentes no momento do agradecimento do gesto atencioso. Quem foi? Qual o motivo? Pouco importa. O importante mesmo é usarmos esta situação como aprendizado, para não incorrermos em equívocos de obter algum tipo de vantagem pessoal, explorando situações e/ou pessoas.