31 de julho de 2015
Por que existem crianças prodígios no mundo da música?
Clement Burton-Hill BBC Culture
Recentemente, tive o prazer de entrevistar Alma Deutscher. Compositora de sonatas para piano e violino, peças para quarteto de cordas e até uma ópera completa, ela toca violino e piano maravilhosamente. E acaba de completar dez anos de idade.
Apelidada de Little Miss Mozart (pequena senhorita Mozart) pela imprensa, a menina britânica cita, como suas fontes de inspiração, “Mozart, Schubert e Tchaikovsky - compositores das melodias mais lindas já escritas”.
Como compositora, Deutscher está cheia de melodias charmosas, que com frequência chegam prontas, inteiras. “Mesmo quando tento fazer outra coisa, quando as pessoas estão falando comigo sobre algo totalmente diferente, ouço essas lindas melodias tocando dentro da minha cabeça”, disse Deutscher. “Às vezes pode ser uma voz cantando, ou um piano, às vezes um violino.”
Há dois anos, no meio da noite, uma série completa de variações para o piano em Mi bemol surgiu em seu subconsciente. “Acordei e não queria perder as melodias, então peguei meu caderno e escrevi tudo - o que demorou quase três horas. Meus pais não entenderam por que eu estava tão cansada de manhã e não queria me levantar!”
Em tempos modernos, crianças prodígios às vezes são recebidas com cinismo. “Uma coisa é certa, música arte, séria, não pode jamais ser escrita por uma criança”, disse o crítico e romancista Philip Hensher em 2007, após ouvir a Sinfonia número 5 de Jay Greenberg, um prodígio educado na Juilliard School, em Nova York, que tinha, na época, 15 anos.
É verdade que a maioria das crianças com dez anos de idade provavelmente não vai expandir as fronteiras da tonalidade e da forma. Quanto mais tempo passarem imersas em música, mais sua sensibilidade se refinará. Mas a ideia de que crianças, por definição, não são maduras o suficiente para compreender a complexidade de obras eruditas, e muito menos para criá-las, subestima a propensão humana para música, algo que trazemos do berço, ou ainda antes dele.
O naturalista inglês Charles Darwin, criador da teoria da Evolução das Espécies, explorou em seus livros a possibilidade de que tenha existido uma protolíngua baseada inteiramente em música. Segundo Darwin, o homem primitivo, ou talvez um de seus ancestrais, teria, provavelmente, usado sua voz primeiro para produzir verdadeiras cadências musicais - ou seja, para cantar.
Segundo o naturalista, essa língua musical teria expressado várias emoções, como amor, ciúme e triunfo. “Portanto, é provável que a imitação de gritos musicais por sons articulados tenha dado origem às palavras”, escreveu Darwin.
Em palestras na Harvard University, nos Estados Unidos, em 1973, o maestro americano Leonard Bernstein descreveu tonalidade musical como “aquela terra universal” de onde tudo brota, ecoando a teoria do linguista americano Noam Chomsky de uma “gramática universal” para defender o argumento de que música tonal é uma linguagem natural na qual a melodia funciona como o substantivo, a harmonia como o adjetivo e o ritmo como o verbo.
Qualquer que seja sua opinião sobre a música de Deutscher, é evidente que ela tem fluência instintiva nesses fundamentos desde que era muito pequena - seu pai, Guy, disse que ela já cantava antes de começar a falar. E para alguém tão jovem, sua musicalidade e imaginação são algo a ser celebrado, especialmente nos dias de hoje, em que a música erudita é tida como algo sem relevância.
No canal de Alma Deutscher no YouTube há comentários como “Você vai mudar o mundo” e “Minha vida inteira foi transformada (por sua música), toda a minha visão do universo”. Veja, na lista a seguir, os nomes de cinco compositores prodígios cuja música de fato mudou o mundo.
Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791)
O mais famoso de todos, Mozart já tocava melodias ao piano aos dois anos de idade e começou a compor aos quatro. Sua primeira peça publicada foi escrita em 1761, quando ele tinha cinco anos.
Aos 12 anos, já havia composto dez importantes sinfonias e se apresentava nas cortes europeias. Morto aos 35 anos, Mozart nos deixou algumas das obras artísticas mais gloriosas já criadas pelo homem.
Franz Schubert (1797-1828)
Schubert começou a compor canções artísticas e sofisticadas na adolescência. Aos 17 anos, já havia composto Gretchen am Spinnrade (Margarida à Roda de Fiar), considerada uma obra-prima na tradição do Lied Romântico (a canção romântica alemã).
“Como pôde um rapaz de 17 anos, criado no conforto da classe média vienense, sentir tanta empatia por uma jovem apaixonada, dolorosamente consciente de que ela estava prestes a ser traída?”, maravilha-se o crítico Stephen Johnson.
Quando morreu, de sífilis, com apenas 31 anos de idade, Schubert já tinha produzido, nas palavras de Johnson, “duas das mais cintilantes joias da música orquestral do século 19 (as sinfonias Inacabada e Grande em Dó Maior), quatro (peças para) quarteto de cordas profundamente originais e uma ainda mais bela (peça para) quinteto de cordas, várias gloriosas composições para piano, algumas das mais originais obras para coral da era romântica e um assombroso legado de mais de 600 canções”.
Felix Mendelssohn (1809-1847)
O escritor alemão Johann Wolfgang von Goethe foi a primeira pessoa a defender a ideia de que Mendelssohn, e não Mozart, foi a verdadeira criança prodígio. Comparar suas produções na mesma idade era como comparar “o barulho de uma criança” à “conversa culta de um adulto”.
Antes de alcançar os 18 anos, Mendelssohn já havia composto 13 sinfonias para cordas, quatro óperas, uma sinfonia completa, vários concertos instrumentais, música de câmara, peças corais, importantes sonatas para piano e outras composições menores, também para piano.
Ele estava no auge da puberdade quando, aos 16 anos, compôs seu inovador Octeto em Mi Bemol Maior. Ela continua sendo uma das maiores obras de música de câmara já compostas.
Camille Saint-Saëns (1835-1921)
Saint-Saëns tinha ouvido perfeito. Ele escreveu sua primeira composição aos três anos e meio de idade. Hoje, a partitura original faz parte do acervo da Bibliothèque Nationale, na França.
Ele fez sua estreia nos palcos aos cinco anos, tocando, no piano, o acompanhamento de uma sonata para violino composta por Beethoven. Mais tarde, ganhou os principais prêmios no Paris Conservatoire.
Sua carreira foi longa e prolífica. Um virtuoso do órgão, foi um dos primeiros pianistas a fazer uma gravação e o primeiro compositor importante a compor para o cinema, em 1908.
Sua primeira sinfonia foi publicada quando ele tinha 16 anos. Saint-Saëns escreveu outras quatro, assim como cinco concertos para piano, três concertos para violino, dois concertos para violoncelo e dezenas de obras para solista e orquestra.
Erich Wolfgang Korngold (1897-1957)
Mahler e Richard Strauss disseram que o adolescente Korngold era um “gênio”, Sibelius o descreveu como uma “jovem águia” e Puccini teria declarado que “ele tem tanto talento que poderia doar metade e ainda sobraria o suficiente”.
A primeira ópera de Korngold, O Boneco de Neve, foi composta quando ele tinha 12 anos. Ele escreveu sua primeira abertura orquestral aos 14 e revolucionou a música para filmes em Hollywood. Seu legado está presente hoje em salas de cinema em todo o mundo.
Notícia publicada na BBC Brasil , em 27 de maio de 2015.
Jorge Hessen comenta*
Quem são os guris e gurias prodigiosos? O que é a genialidade, o virtuosismo? O que faz na Terra um supertalentoso? Qual é o seu futuro? Perguntas essas que somente podem ser respondidas tendo a pluralidade das existências como verdade inconteste e mecanismo natural de evolução do Espírito. Sem a pluralidade das existências não há como explicar os fenômenos dos gênios mirins.
Pesquisadores acadêmicos, por mais que investiguem e arrisquem explicar as atuações de crianças e jovens com inteligências muito acima da média, oferecem frágeis hipóteses, discorrendo sobre causas obscuras, influências enigmáticas, recalcamentos e complexos mágicos. Os teólogos, laborando na inaptidão de elucidação racional e experimental, adjudicam tudo aos insondáveis mistérios da vontade do Altíssimo. Em verdade, a temática sobre reencarnação, sob o ponto de vista espírita, não foge à ciência, não teme debate, não se enlaça a dogmas e repele o materialismo. A Doutrina dos Espíritos está inteiramente habilitada para explicar o admirável fenômeno das crianças e jovens prodígios pelas considerações reencarnacionistas.
Por cabível, citemos a título de ilustração alguns nomes para lá de prodigiosos. Mozart e Chopin, por exemplo, trouxeram de reencarnações anteriores um nível de habilidade para a música extremamente superior aos músicos comuns. Quando tais virtuoses reencarnaram, simplesmente complementaram os conhecimentos e habilidades que permitiram acrescentar aquele degrau que passaria a habilitá-los à classe de Gênios. Assim, tais espíritos, em vez de trazerem somente um potencial latente, apresentam no cérebro físico a porta aberta do setor da memória espiritual. Recordando não como intuição, mas como lembrança concreta daquela habilidade desenvolvida no passado.
Miguel Ângelo, aos doze anos já era um magistral artista; Balzac, aos oito já compunha pequenas comedias; Wagner, aos 6 já havia lido a história de Mozart; Carlyle aprendeu a ler aos 4; Alexandre Dumas, aos 4 lia a História Natural de Buffon. Walter Scott aprendeu a ler entre 3 e 4 anos. Voltaire, educado por um padre, aprendeu a ler aos 3. Antes dos 12 versejava com admirável fluência; Goethe, aos 7 compunha versos em latim e, antes dos 9, fazia um poema, parte em latim, parte em grego e parte em alemão; Hermógenes, aos 15 ensinava retórica ao imperador Marco Aurélio; Victor Hugo, aos 13 ganhava um prêmio nos jogos florais de Toulouse; Stuart Mill, aos 8 já conhecia o grego perfeitamente e aos 10 aprendeu o latim.
Há diferentes talentos presentes nos gênios mirins contemporâneos. Vejamos: Kim Yong-Ung frequentou a Universidade aos 4 de idade e no seu quinto aniversário resolveu um complicado cálculo diferencial e integral; doutorou-se aos 15 anos. Kevin Michael Kearney falou suas primeiras palavras aos quatro meses, e quando tinha seis meses disse ao seu pediatra: “eu tenho uma infecção na orelha esquerda”, e aprendeu a ler aos 10 meses. Mikaela Irene Fudolig entrou para a Universidade das Filipinas aos 11 anos. Fez bacharelado em Ciências Físicas aos 16 anos e era a melhor aluna de sua turma de formandos.
Akrit Pran Jaswal (da Índia) se tornou conhecido quando realizou sua primeira cirurgia, com apenas sete anos de idade. Entrou na universidade de medicina aos 12 anos, e aos 17 já estava graduado em Química Aplicada. Taylor Ramon Wilson é a pessoa mais jovem do mundo a construir um fusor nuclear. Aos 10 anos, Taylor construiu uma bomba e aos 14, o fusor. Em maio de 2011, ganhou o prêmio International Science and Engineering Fair Intel, graças ao seu detector de radiação. Cameron Thompson é um prodígio da matemática do norte do País de Gales. Quando tinha quatro anos de idade corrigiu seu professor sobre sua afirmação de que zero é o menor número. Jacob Barnett, aos 10 anos de idade se matriculou na Universidade de Indiana. Enquanto estudava, afirmou que um dia poderia refutar a Teoria da Relatividade de Einstein. Atualmente ele está trabalhando em seu PhD em Física Quântica.
March Tian Boedihardjo nasceu em Hong Kong e é a pessoa mais jovem a se matricular na Universidade de Hong Kong, aos nove anos de idade. Balamurali Ambati nasceu em 29 de julho de 1977, e foi a pessoa mais jovem do mundo a se formar na carreira de medicina. Aos 13 anos já tinha se graduado da Universidade de Nova Iorque, e aos 20 terminou sua residência na Universidade de Harvard e se graduou como oftalmologista.
Gregory R. Smith, pode parecer brincadeira, mas aos 14 meses já sabia as 4 operações aritméticas e aos dois anos já lia perfeitamente, inclusive corrigindo os erros gramaticais que encontrava. Ruth Elke Lawrence, aos 8 anos já tinha atingido o nível intelectual de matemática mais alto que se pode obter – “Grau A em Matemática Pura”. Aos 11 anos, Ruth entrou na universidade de Oxford, onde se graduou com honras 3 anos mais tarde. Continuou seus estudos até obter seu doutorado, com 18 anos, sendo professora da Universidade Hebreia de Jerusalém. William Hamilton conhecia treze línguas em sua infância, e aos dezoito anos foi proclamado o melhor matemático de sua época.
Só a pluralidade das existências pode explicar a diversidade dos caracteres, a variedade das aptidões, a genialidade, a desproporção das qualidades morais; enfim, todas as desigualdades que alcançam a nossa vista. Fora dessa lei, indagar-se-ia, inutilmente, por que certos homens possuem supertalentos, sentimentos nobres, aspirações elevadas, enquanto muitos outros só manifestam paixões e instintos grosseiros. A influência do meio, a hereditariedade (privilégios biogenéticos) e as diferenças de educação não bastam, obviamente, para explicar esses fenômenos. Vemos os membros de uma família, semelhantes pela carne, pelo sangue, pelo histórico genético, e educados nos mesmos princípios, diferençarem-se ao infinito em muitos pontos.
No século XIX, numerosos pensadores renderam-se à reencarnação: Dupont de Nemours, Charles Bonnet, Lessing, Constant Savy, Pierre Leroux, Fourier, Jean Reynaud. A doutrina das vidas sucessivas foi vulgarizada para o grande público por autores como Balzac, Théophile Gautier, George Sand e Victor Hugo. Pesquisadores como Ian Stevenson, Brian L. Weiss, H. N. Banerjee, Raymond A. Moody Jr., Edite Fiore e outros trouxeram resultados notáveis sobre a tese reencarnacionista. É possível que, em um futuro próximo, os estudos nessa direção cheguem aos mesmos resultados já afirmados pelo Espiritismo. Grande parte das tentativas de estudar prodígios mirins, sem levar em conta a pré-existência do Espírito, esbarra em resultados nada satisfatórios ou em dificuldades insuperáveis, em face da necessidade de se considerar essa hipótese. Caso contrário, entra-se em um beco sem saída e o progresso da Ciência nessa área permanecerá na inércia.