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    • Sudanesa é condenada à morte por abandonar Islã por marido cristão

    A Justiça do Sudão condenou à morte por enforcamento uma mulher muçulmana acusada de apostasia - abandono da religião - depois que ela se afastou do Islã para se casar com um cristão. O grupo de direitos humanos Anistia Internacional condenou a decisão. Paula Mendlowicz comenta.

    • Data :27/07/2014
    • Categoria :

    28 de julho de 2014

    Sudanesa é condenada à morte por abandonar Islã por marido cristão

    A Justiça do Sudão condenou à morte por enforcamento uma mulher muçulmana acusada de apostasia - abandono da religião - depois que ela se afastou do Islã para se casar com um cristão.

    “Demos a você três dias para se retratar mas você insiste em não voltar para o Islã. Sentencio você a ser enforcada até a morte”, disse o juiz, segundo a agência de notícias AFP, se referindo ao prazo dado para que a mulher aceitasse o islamismo.

    O grupo de defesa de direitos humanos Anistia Internacional condenou a decisão e afirmou que a sentença é “espantosa e repugnante”.

    A imprensa local informou que, como a mulher está grávida, a sentença só será executada dois anos depois do nascimento da criança.

    A mulher foi identificada como Meriam Yehya Ibrahim Ishag e alega que é cristã.

    A maioria da população sudanesa é muçulmana e o país segue as leis islâmicas. Segundo estas leis, a apostasia é um crime.

    Chibatadas

    Embaixadas de países ocidentais e grupos de defesa de direitos humanos pediram que o governo do Sudão respeite o direito da mulher de escolher a própria religião.

    As embaixadas dos Estados Unidos, Canadá, Grã-Bretanha e Holanda divulgaram uma declaração conjunta na qual afirmaram que os países estavam muito preocupados com o caso e pediram que o governo do Sudão respeite a liberdade de religião.

    Mas, além da pena de morte, o juiz do caso também sentenciou a mulher a receber 100 chibatada por adultério, já que o casamento com o homem cristão não é considerado válido segundo a lei islâmica.

    A sentença das chibatadas será executada assim que a mulher se recuperar do parto.

    A condenação por adultério se deve ao fato de, segundo a lei islâmica do Sudão, uma mulher muçulmana não pode se casar com homens de outra religião. Meriam se casou com um cristão do Sudão do Sul.

    Durante a audiência, Meriam, cujo nome islâmico é Adraf Al-Hadi Mohammed Abdullah, foi interrogada por um clérigo islâmico e disse ao juiz que era uma “cristã e nunca cometi apostasia”.

    Segundo a Anistia Internacional, a mulher foi criada como cristã ortodoxa, a religião da mãe, pois ela teria tido um pai ausente durante a infância.

    A Anistia informou que a mulher foi presa e acusada de adultério em agosto de 2013 e a Justiça sudanesa adicionou a acusação de apostasia em fevereiro de 2014, quando Meriam disse que era cristã.

    O pesquisador da organização especializado em assuntos ligados ao Sudão, Manar Idriss, condenou a sentença e afirmou que apostasia e adultério nem deveriam ser considerados crimes.

    “O fato de uma mulher ter sido sentenciada à morte por sua escolha religiosa e à chibatadas por adultério por ser casada com um homem que, supostamente, tem outra religião, é espantoso e repugnante”, disse.

    A condenação gerou polêmica no país de acordo com a AFP. Pequenos grupos de manifestantes, contra e a favor da sentença, se reuniram em frente à corte onde Meriam foi julgada.

    O correspondente da BBC em Cartum Osman Mohamed, afirmou que sentenças de morte raramente são executadas no Sudão.

    E um dos advogados de Meriam disse à AFP que vai entrar com um recurso em instâncias superiores.

    Notícia publicada na BBC Brasil , em 15 de maio de 2014.

    Paula Mendlowicz comenta*

    O Sudão é o maior país do continente africano, com um território de 2,5 milhões de quilômetros quadrados. É banhado pelo Mar Vermelho e possui fronteiras com o Egito, Líbia, Chade, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, Uganda, Quênia, Eritreia e Etiópia.

    Até 1953 o país era controlado pelo Egito e pelo Reino Unido. Devido a pressões internas, os dois países concordaram em conceder autonomia gradual ao Sudão, culminando na independência do país em 1956.

    Em 1983, no governo de Gaafar Nimeiri houve a imposição da lei islâmica em todo o território sudanês, fazendo com que em 2005, durante uma espécie de plebiscito, mais de 90% da população optasse pela divisão do país, em Sudão e Sudão do Sul, onde o Sudão possui maioria da população islâmica, e no sul, população majoritariamente cristã.

    Inicialmente a Constituição elaborada em 2005 reconhecia a pluralidade étnica, cultural e religiosa, mas esta constituição tinha prazo de validade. Em 2011, o presidente Omar Hassan Ahmad al Bashir declarou: “99% do povo do norte do Sudão é muçulmano. A Constituição atual será modificada e, então, não haverá forma de falar de uma pluralidade cultural e étnica (…) O islã será a religião oficial e o árabe a língua oficial”.

    Meriam foi julgada e condenada por intitular-se cristã e ter se casado com um cristão. Segundo sua explicação, não tendo contato e convivência com o pai, ela teria seguido a religião cristã da mãe. De acordo com as leis do país, isso é cometer apostasia, isto é, ela teria renegado a religião, o que constitui crime e é passível de punição.

    Em pleno século XXI, como é possível observarmos tanta intolerância religiosa e violência?

    De acordo com a Doutrina Espírita, nosso planeta Terra encontra-se na categoria de mundo de expiações e provas, sendo habitado por diferentes categorias de Espíritos. Isto significa que dividimos espaço com companheiros que se encontram em diversos graus evolutivos, com distintos graus de entendimento e necessidade. Devido ao nosso egoísmo e orgulho, temos dificuldade de aceitar ideias e convicções alheias. Além disso, a religião ainda é usada como ferramenta de dominação.

    Mas o que podemos aprender sobre a escolha da religião? Será que existe mesmo uma preferência de Deus por alguma crença?

    Vejamos a questão 654, em O Livro dos Espíritos:

    - Tem Deus preferência pelos que o adoram desta ou daquela maneira?

    “Deus prefere os que o adoram do fundo do coração, com sinceridade, fazendo o bem e evitando o mal, aos que julgam honrá-lo com cerimônias que os não tornam melhores para com os seus semelhantes. Todos os homens são irmãos e filhos de Deus. Ele atrai a si todos os que lhe obedecem às leis, qualquer que seja a forma sob que as exprimam (…) Não pergunteis, pois, se alguma forma de adoração há que mais convenha, porque equivaleria a perguntardes se mais agrada a Deus ser adorado num idioma do que noutro. Ainda uma vez vos digo: até ele não chegam os cânticos, senão quando passam pela porta do coração.”

    E sobre a condenação à morte imposta em nome de Deus, podemos esclarecer, lendo a questão 765, também em O Livro dos Espíritos:

    - Que se deve pensar da pena de morte imposta em nome de Deus?

    “É tomar o homem o lugar de Deus na distribuição da justiça. Os que assim procedem mostram quão longe estão de compreender Deus e que muito ainda têm que expiar. A pena de morte é um crime, quando aplicada em nome de Deus; e os que a impõem se sobrecarregam de outros tantos assassínios.”

    O Espiritismo não tem a pretensão de contrariar qualquer outra crença, pois entendemos que não existe a religião certa ou errada. Já sabemos que somos “salvos” dos nossos sofrimentos a partir do momento em que aceitamos que “Fora da Caridade não há Salvação” . (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XV.)

    Necessário é que aprendamos a conviver harmoniosamente com as diferenças, sejam étnicas, religiosas ou culturais, respeitando-as e aceitando-as, mesmo que não concordemos com elas.

    Quando questionado pelos fariseus sobre o maior mandamento da lei, Jesus respondeu: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu espírito; este o maior e o primeiro mandamento. E aqui tendes o segundo, semelhante a esse: Amarás o teu próximo, como a ti mesmo. – Toda a lei e os profetas se acham contidos nesses dois mandamentos.” (“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XV.)

    Felizmente organizações internacionais que trabalham pela instauração dos direitos humanos em todo o mundo conseguiram intervir a favor de Meriam e ela foi libertada: http://www.dgabc.com.br/Noticia/536799/sudao-liberta-mulher-condenada-por-casar-se-com-cristao?referencia=minuto-a-minuto-topo .

    Bibliografia

    Livros:

    • O Livro dos Espíritos – Allan Kardec;

    • O Evangelho Segundo o Espiritismo – Allan Kardec.

    Internet:

    • Paula Mendlowicz é carioca e formada em ciências biológicas pela UERJ. É espírita e colaboradora do Espiritismo.net.