27 de maio de 2014
Três gerações de família somali encaram drama da mutilação genital feminina
Todos os anos, milhares de meninas da África e do Oriente Médio sofrem mutilação genital .
Segundo as Nações Unidas, o procedimento, que consiste na remoção parcial ou total da genitália externa feminina, afeta cerca de 125 milhões de mulheres em todo o mundo.
Embora duramente criticada por organizações humanitárias, a prática resiste culturamente em muitas comunidades.
É o caso de uma família somali que emigrou para o Reino Unido vinte anos atrás. Duas gerações dela foram submetidas às mutilações.
A avó Fatma e sua filha Lu passaram pelo ritual, mas a neta Samira, que nasceu em Londres, não.
Fatma apresenta o tipo mais severo de mutilação genital, realizada sem anestesia.
Ela conta que tinha sete anos e foi submetida ao procedimento junto com outras quatro meninas. Fatma diz que não poderia fugir sob pena de ser vítima de humilhação.
Ainda assim, Fatma diz que submeteu sua filha à mesma mutilação, pois acreditava que era a coisa certa a fazer de acordo com a pregação do Islã.
Já a estudante e modelo Samira foi a única das três gerações da família a não ter seguido o mesmo caminho. A jovem, porém, pôde ver ao vivo a prática que marcou para sempre sua mãe e sua avó.
Samira voltou à Somália a convite da BBC como parte de um documentário sobre mutilações femininas. Ela conta ter ficado horrizada com o que viu.
A jovem diz considerar errada a prática, especialmente com crianças que, segundo ela, não tem a menor ideia do que está acontecendo.
Ajuda
Em Londres, clínicas espalhadas pela cidade ajudam mulheres submetidas a mutilações genitais.
A responsável pelo local classifica o procedimento como abuso infantil. Mas quem o pratica não o vê dessa forma.
Comfort Momoh diz que os pais consideram a mutilação um ato de amor com suas filhas, uma forma de prepará-las para a vida adulta, um rito de passagem ou até mesmo uma obrigação.
Para ajudar as mulheres vítimas de mutilação, o governo britânico criou um serviço de atendimento via telefone.
A Promotoria, por sua vez, está tentando levar a julgamento alguns dos mutiladores, mas até agora ninguém foi preso pela prática.
Parlamentares acreditam que os dados colhidos nos hospitais podem ajudar a acabar com o ritual.
Para a parlamentar Jane Ellison, os hospitais têm de oferecer um atendimento especializado para as vítimas e garantir sua prevenção e proteção.
Ativistas, no entanto, cobram uma solução mais dura para impedir que uma prática considerada arcaica perdure.
Notícia publicada na BBC Brasil , em 6 de fevereiro de 2014.
Claudio Conti comenta*
Um ponto interessante é que todos os acontecimentos devem ser analisados sob a premissa básica do nível moral da humanidade como um todo. Assim sendo, partimos da condição do planeta.
O planeta Terra é classificado, segundo a Doutrina Espírita, como sendo um mundo de expiações e provas. Mundos deste tipo são caracterizados como locais apropriados para espíritos que ainda praticam o mal conscientemente, isto é, a sua natureza se aproxima mais da inferioridade do que da elevação.
Em vista disso, não é de se espantar que práticas como esta em análise continuem existindo, pois há a necessidade da coexistência de vários graus evolutivos, onde crenças das mais diversas partilham o espaço.
Nós, do denominado “mundo civilizado”, podemos nos perguntar do porquê de habitarmos o globo com práticas tão grosseiras? A resposta, todavia, é simples: nós ainda não estamos completamente libertos de padrão mental semelhante.
A prática absurda de que trata a notícia em análise também é praticada no considerado “mundo civilizado”, talvez não exatamente a mesma, porém equivalente. A convivência com culturas diversas, especialmente aquelas que nos chocam, devem servir para que façamos uma auto avaliação sobre o nosso próprio comportamento, pois o que realmente devemos analisar deve versar sobre “causar sofrimento a outrem”. Por “outrem” precisamos considerar todos os seres que são passíveis de sofrimento, portanto, todos os seres vivos, sejam humanos, animais ou vegetais.
Estou ciente de que, segundo a avaliação científica, os humanos são animais, referenciado como “racional” para distinguir daqueloutros referenciados como “irracionais”. Todavia, já se faz necessário considerar que “irracional” é uma terminologia arcaica em decorrência dos avanços do conhecimento com relação aos animais. Portanto, foi feita a distinção como humanos e animais.
De volta ao tema, quanto sofrimento os humanos infligem nos seus semelhantes em decorrência do orgulho e do egoísmo? Quantos ultrajes são cometidos? Agressões sem fim, usurpação dos meios de sobrevivência de muitos, cometidos pelo indivíduo comum e governantes. A falta de piedade e caridade causam cicatrizes profundas que podem não ser completamente trabalhadas durante a encarnação, se estendendo para mais adiante.
Aqueles que participam de atividades de atendimento a espíritos desencarnados verificam os efeitos duradouros destes tipos de desatinos infligidos a si mesmos e aos outros.
Se analisarmos o comportamento do “mundo civilizado” com relação aos animais, verificaremos a barbárie em que ainda vivemos. O homem civilizado causa sofrimentos inomináveis a estes seres que também fazem parte da Criação e também estão em processo evolutivo.
Sim, as ocorrências registradas na notícia em análise precisam cessar o quanto antes, e, para isso, o esclarecimento é uma arma poderosa.
Também devemos dizer que as ocorrências equivalentes no “mundo civilizado” também precisam cessar o quanto antes, mas, neste caso, o esclarecimento não basta, pois muito da informação necessária já está disponível, é preciso desenvolver o amor pelos seres.
Daí temos as palavras de Jesus: “Amar ao próximo como a si mesmo”. Por próximo devemos considerar todos os seres da Criação, pois, conforme conta a história, Jesus escolheu nascer entre os animais, demonstrando a importância deles na nossa vida.