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    • Cientistas temem que pesquisas médicas criem macacos falantes

    Cientistas pedem ao governo britânico que estipule regras mais estritas para as pesquisas médicas envolvendo animais. O grupo teme que experimentos envolvendo transplante de células acabem criando anomalias. Breno Henrique de Sousa comenta.

    • Data :25/09/2011
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    Cientistas temem que pesquisas médicas criem macacos falantes

    A Academia de Ciências Médicas da Grã-Bretanha está pedindo ao governo que estipule regras mais estritas paras as pesquisas médicas envolvendo animais. O grupo teme que experimentos envolvendo transplante de células acabem criando anomalias, como macacos com a capacidade de pensar e falar como os humanos.

    O alerta ressalta o debate da questão dos limites da pesquisa científica. Um dos autores do relatório, o professor Christopher Shaw, do King’s College de Londres, diz que tais estudos “são extraordinariamente importantes”.

    A academia ressalta ainda que não é contrária a experimentos que envolvam, por exemplo, o implante de células e tecidos humanos em animais.

    Estudos atuais, por exemplo, transplantam células cancerígenas em ratos a fim de testar novas drogas contra o avanço da doença.

    A academia defende, no entanto, que com o avanço das técnicas estão surgindo novos temas que precisam ser urgentemente regulados.

    Avanço

    Os avanços científicos atuais já permitem a criação de ratos com lesões similares às causadas por um derrame cerebral, para que sejam depois injetadas células tronco humanas, a fim de corrigir os danos.

    Outro estudo com implante de um cromossomo humano no genoma de ratos com síndrome de Down também foi essencial para a compreensão da doença.

    Apesar de a maioria dos experimentos ser feita com ratos, os cientistas estão particularmente preocupados com os testes em macacos.

    Na Grã-Bretanha são proibidas as investigações com macacos de grande porte como gorilas, chipanzés e orangotango. Em outros países, como os Estados Unidos, são liberadas.

    “O que tememos é que se comece a introduzir um grande número de células cerebrais humanas no cérebro de primatas e que isso, de repente, faça com os que os primatas adquiram algumas das capacidades que se consideram exclusivamente humanas, como a linguagem”, diz o professor Thomas Baldwin, outro membro da academia.

    “Estas são possibilidades muito exploradas na ficção, mas precisamos começar a pensar nelas”, diz.

    Áreas ‘delicadas’

    O relatório indica três áreas particulamente “delicadas” na pesquisa com animais: a cognitiva, a de reprodução e a criação de características visuais que se percebam como humanas.

    “Uma questão fundamental é se o fato de povoar o cérebro de um animal com células humanas pode resultar em um animal com capacidade cognitiva humana, a consciência, por exemplo”, diz o relatório.

    O professor Martin Bobrow, principal autor do relatório, sugere o que chama de “prova do grande símio”: se um macaco que recebeu material genético humano começa a adquirir capacidades similares a de um chimpanzé, é hora de frear os experimentos.

    Na área de reprodução, recomenda-se que embriões animais produzidos a partir de óvulos ou esperma humano não se desenvolvam além de um período de 14 dias.

    O campo mais polêmico é o de animais com características “singularmente humanas”, os experimentos que o relatório chama de “tipo Frankestein, com animais humanizados”.

    Segundo o relatório, “criar características como a linguagem ou a aparência humana nos amimais, como forma facial ou a textura da pele, levanta questões éticas muito fortes”.

    Notícia publicada na BBC Brasil , em 25 de julho de 2011.

    Breno Henrique de Sousa comenta*

    Há alguns dias fui ao cinema assistir ao novo filme “Planeta dos Macacos”, que desta vez trata da origem da trama clássica que estreou no cinema em 1968, baseada no livro “La Planète des Singes ” do romancista francês Pierre Boulle, publicado em 1963. Como um bom apreciador da ficção científica, assisti ao novo filme impressionado com o avanço dos efeitos especiais que dão vida aos símios. Nas versões originais, como na clássica série “O Planeta dos Macacos”, a fábula de um planeta dominado por macacos é usada como uma metáfora inteligente para criticar os valores, crenças e contradições da cultura humana, que são mais bem enxergados quando projetados para fora de nós mesmos e representados em outra espécie. É uma pena que esta característica tenha sido preterida diante do apelo dos efeitos especiais das últimas versões do filme.

    Deixando o meu lado cinéfilo de crítico de segunda categoria, reflitamos sobre esta impressionante notícia, que nos remete inevitavelmente à mais ousada ficção. Pierre Boulle jamais poderia imaginar que em algumas décadas as suas ideias poderiam tornar-se realidade. A notícia é muito perturbadora, sobretudo quando temos a ideia de que somos os únicos seres na Terra providos de espírito. Se apenas os seres humanos possuem um espírito e os animais são apenas criaturas de Deus, inferiores, o que dizer de um macaco que fala e age como um ser humano? Teria ele um espírito? Ou este fato seria usado para embasar a hipótese materialista de que ter consciência, linguagem e características que consideramos humanas é apenas um acaso biológico e evolutivo sem que isso tenha qualquer relação com a ideia da existência de um espírito imortal.

    Sem dúvida que nesta reflexão devem ser envolvidas questões éticas fundamentais, não apenas por chocar com as convicções da maioria, mas também pelo respeito à própria vida. Manipular a vida pelo nosso capricho e curiosidade pode causar sofrimentos físicos e psicológicos nos animais. Na versão mais recente de “O Planeta dos Macacos”, o símio que é o protagonista, provido de características humanóides e inteligência desenvolvida, sofre um dilema psicológico por não saber “o que é”, na ficção ele sofre por não ser humano e tão pouco ser um animal, tem dificuldades de aceitar-se e sofre por sentir-se um animal de estimação. Todos estes dilemas vividos na ficção devem ser considerados antes de manipularmos a vida e gerar seres humanóides que poderão estar submetidos a estes e outros dilemas.

    Mas, uma outra questão ainda fica no ar. Sendo criado um ser desta natureza, ele teria um espírito? E de que natureza seria este espírito? Humano? Neste ponto é surpreendente como o Espiritismo supera sem nenhuma dificuldade este dilema, basta recorrermos ao que está estabelecido em suas bases, mais especificamente em “O Livro dos Espíritos”.

    Dizem-nos os espíritos: “tudo em a Natureza é transição, por isso mesmo que uma coisa não se assemelha a outra e, no entanto, todas se prendem umas as outras” (questão 589), o que quer dizer que na trajetória evolutiva do princípio espiritual, que se dá através da matéria pelas vidas sucessivas, há um encadeamento contínuo desde a célula mais elementar até o organismo mais complexo como o ser humano. A natureza não dá saltos (q. 609). Até chegarmos à condição humana de espíritos individuais, trilhamos uma longa caminhada pelos diversos reinos da natureza. Assim, os animais, possuem um princípio espiritual que caminha para tornar-se humano (questões 597, 601, 604, 606 e 607). Na questão 607b, está escrito que nesta caminhada evolutiva que precede a condição humana, temos muitas encarnações fora da Terra. Nestes mundos certamente haverá seres intermediários a caminho de se humanizarem. Sabendo que um homem não pode encarnar em um animal, pois isto seria retrogradar na marcha evolutiva (questão 612), então, no exemplo em questão, teríamos a encarnação de um espírito a caminho de se humanizar. Ou seja, que se encontra em estágio evolutivo compatível com o corpo que deve habitar.

    Certamente que esta seria uma condição nova na Terra, mas não no universo. Existem espíritos em todos os níveis evolutivos que precisam apenas de um corpo que atenda as suas possibilidades evolutivas para encarnar. Não estamos isentos da responsabilidade e consequências por manipular a vida, mas, se tal possibilidade existe, é porque está nas leis da natureza. À medida que avançamos, Deus permite novos avanços científicos, mas isto não é um aval para conduzir a ciência de maneira inconsequente. Precisamos dignificar o uso dos recursos que alcançamos, pois seremos chamados a prestar contas de seu mau uso.

    • Breno Henrique de Sousa é paraibano de João Pessoa, graduado em Ciências Agrárias e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal da Paraíba. Ambientalista e militante do movimento espírita paraibano há mais de 10 anos, sendo articulista e expositor.