Luiz Felipe Pondé: Doenças nos ensinam a ser mais humildes
DE SÃO PAULO
O filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662) escreveu um texto sobre o bom uso das doenças. Para ele, ficar doente é bom, pois neste momento o homem consegue enxergar sua verdadeira condição.
Luiz Felipe Pondé , colunista da Ilustrada , concorda com o filósofo e relata uma situação recente em que reconhece ter ficado “um pouco mais humilde”.
Segundo ele, a sociedade vive a cultura do sucesso, em que é preciso estar sempre bem e com o discurso de que tudo dará certo. “Uma boa gripe pode te lembrar que você, na realidade, não passa de pó”, reconhece o colunista.
Notícia publicada em Folha.com , em 5 de março de 2011.
Gert Bolten Maizonave comenta*
Consequências do Orgulho
O sistema evolutivo divino é realmente perfeito. Até mesmo as imperfeições são instáveis e conduzem inexoravelmente à contínua melhora do ser.
A humildade, por exemplo, aumenta naturalmente à medida que a pessoa passa por experiências. Sócrates disse “Quanto mais aprendo, mas descubro o quanto não sei” ou “Tudo que sei é que nada sei.” Chico Xavier dizia-se “A pulga do leão”.
O expositor Paulo Cordeiro esclarece sobre o orgulho da seguinte forma: “Orgulho, definição segundo o Aurélio: Sentimento de dignidade pessoal, brio, altivez e conceito elevado ou exagerado de si mesmo. Definição da Doutrina Espírita: Imperfeição espiritual que demonstra ausência de humildade. O orgulho se contrapõe à humildade. Concluímos que o orgulho é um exagero de auto-valorização, como sendo uma opinião a nosso próprio respeito que não se iguala à nossa realidade interior.”
O artigo de Pondé nos oferece um exemplo vívido da dolorosa perplexidade que resulta de considerar a si mesmo um ser superior.
No capítulo 14, do Evangelho de Lucas, há o seguinte texto que ilustra bem o sentimento:
“Ao notar como os convidados escolhiam os primeiros lugares, propôs-lhes esta parábola: Quando por alguém fores convidado às bodas, não te reclines no primeiro lugar; não aconteça que esteja convidado outro mais digno do que tu; e vindo o que te convidou a ti e a ele, te diga: Dá o lugar a este; e então, com vergonha, tenhas de tomar o último lugar. Mas, quando fores convidado, vai e reclina-te no último lugar, para que, quando vier o que te convidou, te diga: Amigo, sobe mais para cima. Então terás honra diante de todos os que estiverem contigo à mesa.”
Estivera esta pessoa dedicando pequena fração da vida a cuidar dos necessitados, sentir-se-ia feliz com sua enfermidade, consciente dos males muito piores que afligem àqueles os seus próximos.
Outro verdugo que maltrata o colunista é o materialismo. Ao dizer que “não passamos de pó”, refere-se a todo seu ser como algo restrito ao seu corpo material, frágil casca que pode desintegrar-se a qualquer momento. Resulta deprimente saber que o fim da existência se aproxima a cada hora que passa. Nada como o sentimento resultante de saber-se um ser eterno, constantemente cuidado pelos irmãos mais velhos.