Sem medo de assombração
Caça-fantasmas cariocas saem a campo para investigar fenômenos sobrenaturais
Laura Antunes
Os fantasmas se divertem, mas não assustam um grupo corajoso que se reuniu para tirar a limpo espisódios de poltergeist que circulam, no boca a boca, pela cidade e que, há tempos, passaram à categoria de lenda urbana. A turma, que se autodenomina Projeto Neblina, estuda, coleciona relatos de testemunhas e, agora, sai a campo - com máquinas fotográficas, filmadoras e gravadores - para comprovar (ou não) fenômenos paranormais. No momento, os intrépidos caça-fantasmas cariocas sonham em transpor os portões do Castelinho do Flamengo, onde figuras de outro mundo estariam assombrando, à noite, os cômodos da propriedade, hoje transformada em centro cultural.
Ele dá mais molho à história fantasmagórica:
Enquanto negocia com a direção do Castelinho a autorização para entrar no imóvel após o horário de expediente, o quarteto vai a campo averiguar outros fenômenos. Segundo Ibrovic, o fato de a maioria dos locais ser propriedade particular dificulta o trabalho de investigação. Mas, em novembro, os caça-fantasmas tiveram acesso a um terreno de encosta na Rua General Glicério, em Laranjeiras, onde um forte temporal, no fim da década de 60, destruiu um conjunto de casas provocando 170 mortes. Segundo Ibrovic, moradores contam ouvir até hoje gritos de socorro à noite. Para tirar a prova dos nove, o grupo levou máquina fotográfica, gravador e filmadora:
A foto está publicada no blog do grupo (projetoneblina.blogspot.com), criado em 1999 por um grupo de escoteiros do Largo do Machado, do qual Ibrovic fazia parte. Na época, os garotos apenas documentavam fenômenos inexplicáveis:
Do grupo original, restou apenas Ibrovic que, este ano, conheceu outros cariocas com os mesmos interesses científicos. Eles, então, entraram em contato com um grupo de São Paulo e, hoje, o Projeto Neblina reúne 40 pessoas no Brasil, incluindo o casal de cariocas Adriano Rodrigues e Valdineia da Silva. O objetivo das pesquisas de campo, garantem os caça-fantasmas, é encontrar uma explicação lógica para os fenômenos ou confirmar que não passam de lendas. Foi o que eles concluíram, por exemplo, em relação a um imóvel em São Paulo, que pegou fogo cinco vezes.
Além do Castelinho e do terreno em Laranjeiras, a turma de caça-fantasmas reuniu episódios sobrenaturais que gostaria de desvendar. Um deles é o casarão da família Modesto Leal, em Laranjeiras, atualmente fechado. Circulam boatos de que um casal de fantasmas já teria sido visto, mais de uma vez, dançando no salão de festas da casa. Eles seriam antepassados da família.
O prédio da antiga TV Manchete é cenário de outra história sobrenatural. Há relatos de vigilantes de que, à noite, são ouvidos barulhos no andar onde ficava a sala do falecido empresário Adolpho Bloch. A Pedra da Gávea Ibrovic conta ser cenário de outro fenômeno que interessa ao grupo. No local, onde existe uma formação rochosa em forma de portal, várias pessoas teriam desaparecido inexplicavelmente.
Notícia publicada no Jornal O Globo, em 24 de janeiro de 2010.
Pedro Vieira comenta*
‘No que concerne às manifestações atuais, daremos conta de todos os fenômenos patentes, dos quais formos testemunhas ou que vierem ao nosso conhecimento, quando parecerem merecer a atenção dos nossos leitores. Faremos o mesmo com os efeitos espontâneos que se produzem, frequentemente, entre as pessoas, mesmo as mais estranhas às práticas das manifestações espíritas, e que revelem seja a ação oculta, seja a independência da alma; tais são os fatos de visões, aparições, dupla vista, pressentimentos, advertências íntimas, vozes secretas, etc. À relação dos fatos acrescentaremos a explicação, tal como ela ressalta do conjunto dos princípios.’ - esse um dos objetivos, segundo Allan Kardec, da então recém-lançada Revista Espírita, em 1858 (Introdução).
Por algum motivo, o Espiritismo, no Brasil, ao assumir fortíssima característica religiosa, afastou-se de sua metodologia científico-filosófica, abandonando práticas saudáveis a seu próprio progresso, como as reuniões instrutivas, as reuniões experimentais, a evocação dos Espíritos, as conversas com Espíritos familiares, o Controle Universal dos Ensinos dos Espíritos e, também, a análise dos fenômenos espíritas tal qual priorizou o Codificador na Revista Espírita.
A Doutrina Espírita tem fortíssimo apelo dinâmico, oferecendo não só possibilidades de estudo dos fenômenos atuais, mas principalmente explicações fundamentadas sobre esses mesmos fenômenos. Ao contrário do que se imagina, o Espiritismo é uma Doutrina de vida, e nunca de morte. Como tal, deve ser capaz de interagir de forma natural com os acontecimentos da vida, incluídos aí os ditos psíquicos.
Por conta disso, temos visto essas lacunas preenchidas pelas diversas iniciativas como essa descrita da matéria, sérias, em vários locais do mundo.
Serve de convite a todos os espíritas para que nos engajemos verdadeiramente em, como pensou Kardec, voltar a colocar o Espiritismo, em todos os seus aspectos, a serviço de todos, doando-se em teoria e prática na construção de um mundo melhor - mais consciente e mais bom.