Vaticano aceita evolução, mas não se desculpa com Darwin
Livro do famoso naturalista nunca foi censurado pela Igreja. Desde 1950, com Pio 12, católicos aceitam idéia da evolução.
Da Reuters
O Vaticano disse nesta terça-feira (16) que a teoria da evolução é compatível com a Bíblia, mas não planeja um pedido de desculpas póstumo a Charles Darwin pela fria recepção dada a ele há 150 anos.
O arcebispo Gianfranco Ravasi, o ministro da Cultura do Vaticano, deu a declaração durante o anúncio de uma conferência de cientistas, teólogos e filósofos que acontecerá em Roma em março de 2009, marcando os 150 anos da publicação da obra “A Origem das Espécies”, de Darwin.
Igrejas cristãs foram por muito tempo hostis a Darwin, pois sua teoria conflitava com a acepção bíblica literal da criação.
Mais cedo nesta semana, um importante membro da Igreja anglicana, Malcom Brown, disse que a instituição devia desculpas a Darwin pela maneira na qual suas idéias foram recebidas na Inglaterra.
O papa Pio 12 descreveu a evolução como uma abordagem válida do desenvolvimento humano em 1950 e o papa João Paulo segundo reiterou o fato em 1996. Mas Ravasi disse que o Vaticano não tinha a intenção de se desculpar por sua visão negativa anterior.
“Talvez devêssemos abandonar a idéia de emitir pedidos de desculpas como se a história fosse um tribunal que está eternamente em sessão”, disse, acrescentando que as teorias de Darwin “nunca foram condenadas pela Igreja Católica e nem seu livro havia sido banido”.
O criacionismo é a crença de que Deus teria criado o mundo em seis dias, como é descrito na Bíblia. A Igreja Católica interpreta a acepção do Genesis literalmente, dizendo que ela é uma alegoria para a maneira na qual Deus criou o mundo.
Alguns outros cristãos, na maioria protestantes nos Estados Unidos, lêem o Genesis literalmente e protestam contra o fato de a evolução ser ensinada em aulas de biologia em colégios públicos.
Sarah Palin, a candidata à Vice-presidência pelo Partido Republicano, disse em 2006 que apoiava que o criacionismo e a teoria da evolução fossem ensinados nas escolas, mas afirmou subseqüentemente que o criacionismo não deveria necessariamente ser parte do curso.
Notícia publicada no Portal G1 , em 16 de setembro de 2008.
André Luiz Rodrigues dos Santos comenta**
Voltando no tempo e estudando a evolução do pensamento humano, não há como não se surpreender com a trajetória tomada pelo homem na tentativa de interpretar e racionalizar sua própria existência.
Inicia-se com a fantasia, desenvolve-se o mito, envolve-se pelo místico, apega-se à fé, abraça-se à razão, nega-se o transcendente. Em cada fase da história da humanidade foi apresentada uma proposta que vinha com o selo da verdade absoluta e definitiva. A pretensão de desvendar os mistérios do Universo é uma característica marcante do homem, e não poderia ser diferente, já que Deus inseriu esse ingrediente como força propulsora para impulsionar Suas criaturas no necessário desenvolvimento do próprio intelecto.
No debate entre a visão religiosa e a científica, procurando trazer respostas às tantas indagações que permeavam as mentes daqueles que se interessavam pelo tema, prevaleceu a que mais se destacava em seus julgamentos.
A história da Igreja Cristã está diretamente ligada à história do mundo ocidental. O processo de institucionalização da fé cristã se deu entre os séculos III e IV, e já passou a exercer grande influência sobre as sociedades que estavam sob sua tutela, tornando-se a guardiã dos valores morais e espirituais da Europa, que comungava a mesma fé. Desde então, tudo o que dizia respeito ao entendimento do homem a respeito de si mesmo, do mundo onde estava inserido, da filosofia, e até da ciência, estava restrito ao sagrado, e, por falta de melhor referência, era o que se tinha como mais palpável. Séculos se passaram com esse pensamento, mesmo com algumas (frustrantes) tentativas de apresentar uma visão mais racional para os eventos que se faziam presentes.
A partir do Renascimento, com a nova concepção – o antropocentrismo (o homem como o centro do Universo) – e os questionamentos sobre a ação das forças da natureza fora da alçada divina, a Igreja passou a fiscalizar e a punir as tentativas dos heréticos de violar a fé, tirando de Deus tal domínio.
Nesse contexto, e já iniciando um processo irreversível, surgem as idéias revolucionárias do geocentrismo (Terra esférica), heliocentrismo (Sol como centro do Universo) e, como conseqüência natural, as origens do homem.
Deste último, especificamente, surgiu o duelo entre duas idéias contraditórias que apresentavam suas verdades:
Darwin era anglicano, e foi dessa instituição que sofreu as maiores críticas. Recentemente, conforme a matéria, o reverendo Malcolm Brown, diretor de missão e assuntos públicos da Igreja Anglicana, se retrata, em nome da instituição, pela rejeição e pelo preconceito que afastaram seus fiéis do pensamento científico então apresentado, e que hoje é aceito como o mais racional. Disse: “Charles Darwin: 200 anos após seu nascimento, a Igreja da Inglaterra pede desculpas públicas por mal interpretar e por, equivocadamente, ter animado a outros a não compreender o seu legado. Tratamos de praticar a antiga virtude da ‘fé buscando o entendimento’ e confiamos que isto suponha um reparo ao grande erro.”
Inevitavelmente, a persistência da razão modificará, mais dia, menos dia, toda e qualquer estrutura dogmática, libertando o pensamento universal para encontrar as respostas de que necessita, seguindo através dos mais variados caminhos, até que encontre a teoria mais consistente para seu entendimento, sem os temores de outrora. Portanto, o que se pode, e mais se deve observar não é o erro do que está registrado nas Escrituras, mas a interpretação do que se lê.
Comparativamente, o Espiritismo mostra seus fundamentos progressistas com, não apenas frases de efeito*, mas com a aplicação máxima dessas idéias sinalizando o caminho a ser seguido na condução de seus fundamentos.
Assim, o Espiritismo, conforme Léon Denis, “não é a religião do futuro, mas o futuro das religiões” por se apoiar na razão, que deverá ser a destinação final de todas as crenças para que se sustentem.
** “Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” – O Evangelho segundo o Espiritismo.*
** “Caminhando de par com o progresso, o Espiritismo jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrassem estar em erro acerca de um ponto qualquer, ele se modificaria nesse ponto. Se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará.” – A Gênese.*
**André Luiz Rodrigues dos Santos é paulista, espírita desde 1991, militar e professor. É membro da Equipe Espiritismo.net, atuando nas áreas de Atendimento Fraterno, divulgação e estudos doutrinários no meio virtual.