Mulheres lutam para poder dirigir carros na Arábia Saudita
Crispin Thorold De Jeddah para a BBC
Uma escritora e ativista da Arábia Saudita iniciou uma campanha para que as mulheres do país consigam permissão para dirigir.
A Arábia Saudita é o único país do mundo onde as mulheres são proibidas de dirigir.
A escritora Wajeha Huwaider causou polêmica na imprensa do país no início do ano ao colocar no site de vídeos YouTube um filme que mostrava ela dirigindo pelas ruas do país.
Outras ativistas também estão usando a internet para tentar forçar a mudança da lei.
O filme de Huwaider no YouTube faz parte de uma campanha iniciada há um ano. Até o momento a ativista não obteve uma resposta formal do governo saudita.
“(A proibição) Não tem nada a ver com religião. Então não sabemos a razão deles não suspenderem a proibição”, disse Huwaider.
“Ainda esperamos que vá acontecer. Tenho certeza de que vai acontecer durante o reinado de Abdullah.”
“Eles eram contra a educação para mulheres na década de 60, mas o governo agiu e uma lei foi promulgada. Agora queremos o mesmo. Precisamos de decisões corajosas e rápidas.”
Apesar de não ter reagido ao vídeo, o governo saudita parece estar mais aberto do que no passado, pois nenhuma das ativistas foi presa.
Compra permitida
Apesar de não poderem dirigir, as mulheres sauditas podem comprar carros.
“Olhe estes carros, incrível”, disse Wajeha Huwaider entrando em um jipe dentro de uma concessionária em Jeddah. “É ótimo e triste ao mesmo tempo, pois sei que não posso dirigir.”
Enquanto os preços do petróleo aumentam, a riqueza saudita também. E, com isso, também aumentam as reivindicações por reformas sociais no reino.
Esta onda liberal está sendo liderada por mulheres e homens da elite urbana ocidentalizada.
Até a moda de carros customizados chegou ao país. Um grupo de jovens na casa dos 20 anos, os chamados Jeddah Boyz, gasta milhares de dólares transformando carros comuns no sonho de qualquer aficionado.
Nas ruas de Jeddah é até possível ver um Hummer rosa, incrustado com diamantes falsos, pertencente a uma mulher - que não pode dirigir o Hummer.
Trabalho
Se os boatos que correm na Arábia Saudita atualmente forem verdadeiros, as mudanças estão próximas. Integrantes da liderança do governo e clérigos já afirmaram que não há nada no Corão que proíba mulheres na direção.
O desafio é fazer com que a sociedade saudita aceite a mudança.
Mesmo assim, alguns empresários afirmam que uma campanha concentrada na suspensão da proibição de mulheres dirigindo está desviando a atenção de desafios maiores para mulheres do reino.
Para Saleh al-Turki, presidente da Câmara de Comércio Saudita, antes da suspensão da proibição, mais mulheres devem entrar no mercado de trabalho. Atualmente apenas uma em cada 20 está empregada.
“Uma vez que o resto da sociedade perceba que permitir o trabalho às mulheres não é um desafio a ninguém, é para o benefício da sociedade, dirigir não será um problema”, afirmou.
Notícia publicada na BBC Brasil , em 10 de julho de 2008.
Jorge Hessen comenta*
BREVE REFLEXÃO SOBRE O PAPEL DA MULHER NO MUNDO
A imprensa internacional noticiou recentemente que as mulheres reivindicam a possibilidade de dirigir veículos automotivos na Arábia Saudita. Destaca-se que ativistas iniciaram uma campanha para que consigam permissão a fim de dirigir nas avenidas e ruas sauditas. Esse tipo de comportamento nos remete para os obscuros cenários medievos. Que absurdo! Em pleno século XXI ainda temos que conviver com essa situação discriminatória contra a mulher.
Há atualmente uma ingente luta da mulher (cada mulher na sua atividade, no seu dia-a-dia) para a obtenção de um espaço para seu crescimento como pessoa. A busca de novos caminhos profissionais para a mulher hoje toma conta de quase todas as famílias, em função também das novas necessidades que a cada dia surgem na nossa civilização. Porém, nem sempre foi assim: segundo as Escrituras - a mulher é responsável pela proscrição do homem; ela perde Adão e, com ele, toda a Humanidade; atraiçoa Sansão. Uma passagem do Eclesiastes a declara “uma coisa mais amarga que a morte”. O casamento mesmo parece um mal: “(…) os que têm esposas sejam como se não as tivessem” – exclama Paulo aos Colossenses, aos Efésios.
Realmente, houve um período mais obscuro em que o cristianismo “oficial” não compreendeu a mulher. Seus representantes (monges e padres), vivendo no celibato, longe da família, não poderiam apreciar o poder e o encanto desse delicado ser, em quem enxergavam antes um perigo. Em contrapartida a esse cruel tratamento da igreja, a mulher era considerada sacerdotisa nos tempos védicos; ao altar doméstico, intimamente associada, no Egito, na Grécia, na Gália, às cerimônias do culto, por toda a parte era a mulher objeto de uma iniciação, de um ensino especial, que dela faziam um ser quase divino, a fada protetora, o gênio do lar, a custódia das fontes da vida.(1)
A situação da mulher, na civilização contemporânea, ainda é difícil e bastante sofrida. Como vimos no noticiário acima, nem sempre a mulher tem para si os direitos e as leis; muitos perigos a cercam. Se ela titubeia, se sucumbe, normalmente não se lhe estende mão amiga. E o pior: A corrupção dos valores morais faz da mulher a vítima do momento! Porém, a Doutrina Espírita restitui a ela seu verdadeiro lugar na família e na obra social, indicando-lhe a sublime função que lhe cabe desempenhar na educação e no adiantamento da Humanidade.
O Espiritismo a atrai e lhe satisfaz as aspirações do coração, as necessidades de ternura, que estendem para além do seu círculo de vida física. Daí a necessidade de desenvolver na mulher, ao mesmo tempo em que os poderes intuitivos, suas admiráveis qualidades morais, o esquecimento de si mesma, o júbilo do sacrifício, numa palavra, o sentimento dos deveres e das responsabilidades inerentes à sua missão sublime. A mulher tem que se fazer borboleta; ela tem que sair do seu casulo e reconquistar seus direitos, que são divinos; como a falena, lançar-se na atmosfera e reencontrar o clima de seu justo valor. Até porque se o agente educador por excelência for reduzido ao estado de nulidade, a sociedade vacilará. É o que deveis compreender no século dezenove.(2)
O Espiritismo defende a tese de que são iguais perante Deus o homem e a mulher e têm os mesmos direitos, pois ambos possuem a faculdade de progredir(3) e se em alguns países a mulher é considerada inferior, isso é resultante do predomínio injusto e cruel que sobre ela assumiu o homem. É resultado das instituições sociais e do abuso da força sobre a fraqueza. Entre homens moralmente pouco adiantados, a força faz o direito.(4) Mas, as funções a que a mulher é destinada pela Natureza terão importância tão grande quanto às destinadas ao homem e maior até. É ela quem lhe dá as primeiras noções da vida.(5) Assim sendo, uma legislação, para ser perfeitamente justa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher, embora com funções diversas. Pois preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. Ocupe-se do exterior o homem e do interior a mulher, cada um de acordo com a sua aptidão.(6)
Com muita razão, a lei humana, para ser eqüitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização. Sua escravização marcha de par com a barbaria. Os sexos, além disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos mesmos direitos.(7)
No passado recente, a mulher não tinha voz, não tinha vontades e acreditavam que sequer tinha alma. Este tema foi até discutido num concílio no ano 585. Não apenas discutiam se a mulher teria alma, mas também dizia que a natureza da mulher era má, era culpada de males, porque (como vimos mais acima) na Bíblia consta que ela é que aceitou a sugestão da serpente e desviou Adão da obediência a Deus. Como reação a essa milenar subjugação da mulher, atualmente ocorrem extremismos preocupantes em sua estrutura psicológica. A miséria, as lágrimas, a prostituição, o suicídio – tal é o destino de grande número de infelizes mulheres em nossas sociedades opulentas e materialistas. Muitas mulheres radicalizam. O seu corpo é considerado só dela, ela faz o que bem entende, não deve nada a ninguém. O desafio está posto. O desafio é encontrar o meio termo, o ponto certo, o equilíbrio momentâneo para a mulher moderna. Portanto, ser mulher e ser mãe se colocam como desafios cotidianos, a serem enfrentados.
Há dois mil anos, Jesus propôs dar à mulher uma condição de “status” social igual a do homem. Em verdade dela provém a vida; é ela a própria fonte desta, a regeneradora da raça humana, que não subsiste e se renova senão por seu amor e seus ternos cuidados.(8) Todo inócuo argumento machista de a mulher ser apenas a sombra do marido, procriadora por excelência, objeto de prazer ou apenas alguém que tome conta da casa, é evidente que precisa ser aclarado e desfeito, por ser fenômeno extemporâneo.(9) Concebemos até que a mulher deva reduzir, o quanto lhe for possível, o tempo gasto no trabalho profissional e se esforce mais na tarefa da educação de seus filhos, preferindo ganhar um pouco menos em valores materiais e potencializando seus tesouros espirituais. Sabemos que atualmente não está fácil essa tarefa, pois a sociedade se curvou ante o consumismo materialista, seqüestrando a mulher do lar para enclausurá-la nas funções hodiernas às vezes subalternas a sua grandeza e quase sempre estranhas à sua natureza.(10)
A administração de uma família, atualmente, é tarefa extremamente importante. Dentro dessa pequena república, há o fator econômico, as regras, a disciplina, o zelo, as tradições e a responsabilidade da formação moral e intelectual dos filhos. A mulher deve conciliar o papel de mãe e esposa, por vezes deixado um pouco de lado. Por isso, é importante não permitir que a competição do casal, as pressões do status, do dinheiro e do destaque social roubem o equilíbrio que a felicidade da família requer.(11)
Nada mais justo que a luta pela causa de maior liberdade e direito para ela. Afinal, na Ordem Divina não há distinção entre os dois seres. Porém, urge muita cautela. Os movimentos feministas, embora tenham seu valor, costumam cair no radicalismo, querendo fazer da participação natural uma imposição. Muitas vezes, em seus intuitos, ao lado de compreensíveis pleitos, enuncia propósitos que fariam da mulher, não mais mulher, mas arremedo do homem.
Em sintonia com os pleitos femininos, atualmente, nas hostes espíritas, observa-se a mulher não apenas trabalhando como médium no campo da mediunidade, mas também encontramo-la dialogando com os espíritos, dirigindo reuniões mediúnicas, instruindo e preparando novos trabalhadores no campo da mediunidade, escrevendo para esclarecer e orientar a prática mediúnica. É o espiritismo, esta abençoada doutrina, que nos permite isso. Ela não apenas nos ilumina individualmente, nos consola e nos alenta, ela também enseja que estejamos encarnados como homens ou como mulheres, nos somemos os nossos esforços e juntos continuemos a realizar o sublime intercâmbio espiritual.
Fontes:
DENIS, Léon. Cristianismo e Espiritismo, RJ: Ed. Feb, 2008;
Kardec, Allan. Revista Espírita, ano III, número 12, dezembro de 1860, Comunicação do Espírito de Alfred de Musset (1810-1857; poeta e romancista francês);
Kardec, Allan. O Livro dos Espíritos, RJ: Ed. FEB, 2001, questão 817;
idem, questão 818;
idem, questão 821;
idem, questão 822;
idem, questão 825;
Hessen, Jorge. DEUS ABENÇOE TODAS AS MULHERES DO MUNDO, artigo publicado em 21/01/07, disponível no site http://jorgehessen.net >;
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