Estudantes americanos lutam pela liberação do porte de armas dentro das universidades
Ângela Góes, O Globo Online
RIO - À primeira vista, Weston Zentner, de 23 anos, não é muito diferente de qualquer outro universitário. Tênis, calça jeans e camiseta, este futuro administrador de empresas não vai para a faculdade sem caderno, lápis, caneta e uma porção de livros. O celular e o MP3 (quem vive sem eles?) também são itens indispensáveis na mochila do estudante, que só se destaca da multidão por um detalhe: a Springfield XT que acomoda cuidadosamente na cintura.
Desde 2006, quando a Corte de Utah aprovou a lei que garante a estudantes, professores e funcionários de todas as universidades públicas do estado o direito de portar armas de fogo no campus, o revólver de calibre 45 que ganhou do pai passou a fazer parte do material escolar do jovem.
Atualmente, nos EUA, é legal andar armado em locais públicos, como cinemas, teatros, igrejas e shoppings, de 48 estados. Desse total, há 16 estados que proíbem explicita e terminantemente o uso de armas em instituições de ensino, enquanto os demais deixam a decisão a cargo das próprias universidades - que, em sua grande maioria, optam pelo veto. Utah é o único estado em que o porte é liberado nos campi de todas as suas universidades públicas - nove, no total.
O movimento - criado no dia seguinte ao ataque mais letal a instituições de ensino dos EUA, que deixou um total de 32 mortos - conta hoje com mais de 30 mil simpatizantes, espalhados por 44 estados americanos. São estudantes que, assim como Katie e Weston, temem ser “a próxima vítima” e não acreditam que aumentar o efetivo policial, aprimorar os serviços de aconselhamento e acompanhamento terapêutico e psiquiátrico nos campi e apertar o cerco contra quem vende armas a pessoas incapacitadas seja suficiente para evitar novos episódios de violência.
O discurso contundente, aliado ao maciço apoio dos estudantes e de organizações de peso, como a poderosa Associação Nacional de Rifles (NRA), parece ter surtido efeito. No último ano, 15 estados americanos deram início a discussões sobre possíveis alterações na legislação que rege o controle de armas em seus territórios. A polêmica que cerca o tema, entretanto, impediu que a maioria dos projetos avançasse. Atualmente, apenas a Louisiana a o Arizona ainda consideram a possibilidade de liberar o porte de armas nas universidades.
Isso porque, nem todos concordam com a idéia de que basta um cidadão alerta, armado e bem-intencionado para evitar um banho de sangue, como o que aconteceu na Virgina e, mais recentemente, no Illinois, onde cinco pessoas morreram. Muito pelo contrário. Para os críticos da lei, armar professores, estudantes e funcionários pode, sim, levar a um aumento dos episódios violentos.
João Marcelo Pinho, carioca de 25 anos que estuda na Universidade de Toledo, em Ohio, é da mesma opinião.
Em Utah, o porte de armas só é concedido a maiores de 21 anos considerados ‘mentalmente competentes’ e com ficha limpa na polícia. Os interessados também são submetidos a um treinamento - 4 horas de aula - para garantir que estejam aptos a usar suas armas com segurança. Já a lei que está para ser votada na Louisiana exige apenas a maioridade e a avaliação do histórico policial dos postulantes a John Wayne (ator de filmes de faroeste americano).
Para a International Action Network on Small Arms (Rede de Ação Internacional para o Uso de Armas de Pequeno Porte, na tradução livre para o português), é muito pouco.
Para os críticos da lei, os métodos usados se mostram falhos, principalmente, no que diz respeito à avaliação do equilíbrio emocional dos candidatos a uma permissão. Louise cita o caso de Cho Seung-hui, autor do massacre de Virginia Tech que, apesar do histórico de assédio a uma aluna, em 2005, e depressão seguida de internação em uma clínica psiquiátrica, em 2006, estaria apto a receber uma licença para porte de armas antes de 16 de abril de 2007.
Nos Estados Unidos há 18 anos, o sociólogo carioca Marcus Martins acha que a lei americana, de certa forma, protege possíveis futuros atiradores.
Notícia publicada em O Globo Online , em 10 de junho de 2008.
Jorge Hessen comenta*
ARMAS DE FOGO E EVANGELHO NÃO COMBINAM ENTRE SI (22/06/08)
A imprensa tem noticiado que estudantes dos EUA lutam pela liberação do porte de armas dentro das universidades americanas. Desde 2006, quando a Corte de Utah aprovou a lei que garante a estudantes, professores e funcionários de todas as universidades públicas do estado o direito de portar armas de fogo no campus , o revólver passou a fazer parte do material escolar do estudante. Parece trecho de um texto de ficção, mas infelizmente não o é. Atualmente, em 48 estados americanos, é legal andar armado em locais públicos, como cinemas, teatros, igrejas e shoppings . Desse total, há 16 estados que proíbem explicita e terminantemente o uso de armas em instituições de ensino, enquanto os demais deixam a decisão a cargo das próprias universidades - que, em sua grande maioria, optam pelo veto, graças a Deus! Utah é o único estado em que o porte é liberado nos campus de todas as suas universidades públicas - nove, no total.
O movimento (criado no dia seguinte ao ataque mais letal a instituições de ensino dos EUA, que deixou um total de 32 mortos) conta hoje com mais de 30 mil simpatizantes, espalhados por 44 estados nos EUA. A rigor, fazer das universidades zonas livres para porte de armas de fogo não as torna lugares mais seguros. Recentemente, 15 estados americanos deram início a discussões sobre possíveis alterações na legislação que rege o controle de armas em seus territórios.
A liberalização do porte de armas nos campus , evidentemente, não resolverá o problema da violência que ocorre em todos os segmentos sociais, até porque sempre haverá uma combinação de eventos que pode consubstanciar-se numa carnificina. A solução obviamente terá de nascer de um esforço concentrado de Estado, psicólogos, estudantes e suas famílias.
Apesar de a sociedade estadunidense ter erigido parte de seus valores sob a mira de espingardas, metralhadoras e pistolas, a despeito dessas armas simbolizarem a “autonomia” do cidadão e de suas “liberdade individuais” perante o Estado, as armas nos EUA projetaram essa nação ao ranking de mais violenta do mundo, pelo aspecto dos índices de criminalidade…
Alguns definem o homem como um autômato, uma máquina, composto de engrenagens complexas, dinâmicas, harmoniosas e que pode ao mesmo tempo ser contraditório. Essa contradição pode remeter o homem a fugir dos padrões sociais e arrojá-lo numa alienação.(1) André Luiz, em “Conduta Espírita” admoesta: Esquivar-se do uso de armas homicidas, bem como do hábito de menosprezar o tempo com defesas pessoais, seja qual for o processo em que se exprimam. Pois o servidor fiel da Doutrina possui, na consciência tranqüila, a fortaleza inatacável. (2)
Os espíritas cônscios acreditam, obviamente, que uma das soluções para a criminalidade seria a proibição da venda de armas de fogo em todo o território nacional, ressalvada a aquisição pelos órgãos de segurança pública federal e estadual, municipal e pelas empresas de segurança privada regularmente constituída, na forma prevista em Lei. A Pátria do Evangelho é grande produtora de armas (contrastando com o compromisso espiritual) por isso cremos que a sua comercialização no mercado interno é prática abominável.
Temos outra preocupação: Estatísticas demonstram que armas armazenadas em casas ou locais de trabalho, por civis, acabam sendo furtadas e/ou utilizadas por malfeitores, até mesmo contra seus proprietários, em ações criminosas. Outro número significativo é o dos acidentes domésticos com armas de fogo, envolvendo, principalmente, crianças e adolescentes, que, ao manejarem tais instrumentos, acabam disparando-as acidentalmente, provocando lesões ou homicídios. Há estudos internacionais que apontam as armas de fogo como responsáveis por 65% dos homicídios nos fins de semana, sendo que, aproximadamente 28% dessas armas provêm de “homens de bem”. Há dois mil anos Jesus ensinou: Haveis aprendido o que foi dito aos Antigos: Vós não matareis, e todo aquele que matar merecerá ser condenado pelo julgamento. Mas eu vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão merecerá ser condenado pelo julgamento; que aquele que disser a seu irmão Racca, merecerá ser condenado pelo conselho; e que aquele que lhe disser: Vós sois louco, merecerá ser condenado ao fogo do inferno. (3)
No Brasil, cremos que a criminalidade tem seus fulcros na desigualdade social, no elevado índice de desemprego, na urbanização desordenada e, de modo destacado, na difusão incontrolada da arma de fogo, sobretudo clandestina, situações essas que contribuem de forma decisiva para o aumento do crime. Consterna-nos saber que, ao lado dos EUA, a “Pátria do Evangelho” é um dos líderes mundiais em casos de mortes produzidas com a utilização de armas de fogo, destarte, a sociedade brasileira precisa buscar soluções efetivas para o problema da violência urbana. E, por sólidas razões, cremos ser falsa ou perfunctória a “proteção” oferecida pelas armas dentro de casa, especialmente considerando o potencial de alto risco do uso da arma por familiares inabilitados, que podem causar efeitos danosos irreparáveis na vida doméstica de familiares.
A cada dia sucumbem muitos jovens e adolescentes, que são comercializados para o mercado do tráfico de armas, algemados nos ambientes regados por alucinógenos e profunda violência, onde são perpertrados crimes inconcebíveis sob o estímulo da miséria moral e da obsessão. Acreditamos que quaisquer investimentos de recursos em armamentos é inútil e desnecessário. Evidentemente não somos tão ingênuos de pensarmos que a restrição (proibição) do uso de armas de fogo equacione definitiva e imediatamente o problema da violência social. Sabemos, porém, que as armas podem ser substituída por outras, talvez não tão “eficientes” no sentido de eliminar o próximo.
Na ausência de estrutura da aparelhagem repressora e preventiva do Estado, as armas de fogo continuarão chegando às mãos dos indivíduos descompromissados com o bem e fazendo suas vítimas. Por isso, urge meditar que devemos aprender a desarmar, antes de tudo, nossos espíritos e isto só se consegue pela prática do amor e da fraternidade para se alcançar a paz. Quando falamos em paz, a personificação deste conceito tem em Mahtma Gandhi sua melhor identificação. O Iluminado da Índia conseguiu libertar os hindus do tacão do império inglês, sem permitir o disparo de um tiro de arma de fogo, em face da sua magna filosofia de não-violência.
Referências:
(1) Fuga da própria realidade. Pode ser definida como uma vivência no imaginário. O imaginário se torna uma realidade para o alienado, porém esta é distorcida da verdadeira realidade;
(2) Vieira, Waldo. Conduta Espírita, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2003, cap. 18;
(3) Mateus, 21 e 22.