Pais ‘forçam’ crianças de 4 anos a lutarem boxe
Um documentário produzido por um canal de televisão britânico mostra o circuito das lutas organizadas onde os competidores são crianças com idade a partir de quatro anos.
Intitulado Strictly Baby Fight Club (Clube de Luta Estritamente para Bebês , em tradução livre), o documentário conta a história de cinco crianças que são incentivadas e, por vezes, forçadas pelos pais a competir nas lutas de boxe tailandês organizadas especialmente para crianças.
A prática do Muay Thai, ou boxe tailandês, está se tornando cada vez mais popular na Grã-Bretanha, com cerca de 500 academias registradas.
O filme mostra que o circuito infantil também está se popularizando – em uma das lutas, realizada em março, cerca de mil adultos pagaram ingressos de 35 libras (R$115) para assistir a duas crianças de 10 e 11 anos lutarem em uma espécie de gaiola de ferro.
Segundo o programa, a mentalidade dos organizadores das competições para crianças é a de que “se você é bom o suficiente para lutar, já está pronto, a idade não importa”.
Choro
Uma das crianças retratadas no documentário é a menina Miah, que participa das lutas ao lado do irmão gêmeo Kian, de cinco anos. O pai, Darren, matriculou os filhos em uma academia há sete meses e já transformou um cômodo da casa em uma sala de treinamento para as crianças, onde elas praticam pelo menos três vezes por semana.
Além disso, Darren também faz os filhos participarem de lutas organizadas, mesmo com a reação adversa da filha, que chora com freqüência antes dos combates.
“Cada vez que ela entra no ringue, sempre há uma preocupação de que irá chorar”, admite o pai. No entanto, ele acredita que a prática do Muay Thai pode incentivar a filha a “cuidar mais de si mesma quando crescer”.
Outra história destacada pelo documentário é a do menino Thai, de 10 anos, que foi batizado com o nome da luta. Ele já é considerado um “veterano” no circuito das lutas e sua irmã, de 14 anos, foi duas vezes campeã mundial da categoria.
O programa revela que uma semana normal para o menino envolve, além da tarefa de casa e da escola, corrida de 15 quilômetros, 400 abdominais e pelo menos dez horas de treinamento.
“O meu sonho e o sonho da mãe dele é que Thai ganhe um título de campeão”, diz o pai do menino no documentário. “Não sei qual é o sonho dele, provavelmente brincar com seus soldadinhos”, confessa o pai.
O documentário retrata ainda a história de Connor e Sohan, de nove anos. Connor já é o campeão da Região Sul e irá lutar pelo cinturão de ouro nacional contra Sohan.
Majhid, pai de Sohan, sonha que o nome do filho será escrito em luzes de neon. Já a mãe de Connor, Nikki, acompanha o filho em treinamentos de até 3 horas, quatro vezes por semana para garantir a performance do menino nas competições.
O documentário Strictly Baby Fight Club , dirigido por Kirsty Cunningham, será exibido nesta quinta-feira pelo canal de televisão britânico Channel 4 como parte da série de programas Cutting Edge .
Notícia publicada na BBC Brasil , em 21 de abril de 2008.
Jorge Hessen comenta*
PRESERVEMOS AS CRIANÇAS DOS ESPORTES VIOLENTOS
Há dois mil anos, o Mestre Maior ensinou: Bem-aventurados os mansos, porque eles possuirão a Terra.(1) Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus.(2) Por estas máximas, Jesus estabeleceu como lei a doçura, a moderação, a mansuetude, a afabilidade e a paciência. E, por consequência, condenou a violência, a cólera, e até mesmo toda expressão descortês para com os semelhantes.(3) A violência ensombrece as conquistas sociológicas de todos os séculos. Brota-se em todos os níveis da sociedade, consubstanciando-se em várias emplitudes e cores carregadas. A brutalidade humana tem esmaecido o caminho para Deus.
A mídia, de uma forma geral, tem noticiado que na Grã-Bretanha muitos pais estão impondo aos filhos, às vezes de apenas 4 anos de idade, a lutarem boxe tailandês. A materialidade dessa aberração está em documentário produzido por canal de televisão britânico, mostrando o circuito das lutas organizadas em que os lutadores são crianças com idade a partir de quatro anos (inacreditável!)… Nesse proscênio, incentiva-se a prática do Muay Thai (boxe tailandês), que está se tornando cada vez mais popular na Europa, atualmente com centenas de academias estabelecidas.
Milhares de adultos insanos pagam ingressos para assistir crianças menores de dez anos lutarem em uma espécie de gaiola de ferro. Muitos pais acreditam que essa prática pode incentivar os filhos a cuidar mais de si mesmas quando crescerem e crêem que seus filhinhos possam ter título de campeão, porém, esses pais desnaturados desrespeitam a liberdade dos filhos por não saberem quais são os reais sonhos deles.
Pediatras, psicólogos, professores e estudiosos consideram muito prejudicial para as crianças e jovens o estímulo para esportes agressivos pelo efeito da violência, pois os comportamentos violentos aprendem-se, principalmente quando são desempenhados por “heróis” de televisão.
Muitas crianças e jovens não têm capacidade crítica, não têm conhecimento de todas as possibilidades de comportamento moralmente aceitável, razoável ou absolutamente criticável e a eliminar. O que identificamos no fato, generalizando, é o total distanciamento dos pais modernos em nível de educação dos filhos, para os quais deixam sempre essas responsabilidades para a televisão, escolas ou estado, enquanto que tinham que ser eles a dizer aos filhos que isso ou aquilo é perigoso para os menores.
Uma legítima educação precisa ser aquela em que os poderes espirituais devem reger a vida social. Todavia, o “homem civilizado” se envaidece com a sua capacidade de subjugar os outros, de mandar, de impor medo, respeito, submissão aos demais. A degradação moral do homem contemporâneo abriu as comportas da violência represada debilmente pelas barreiras artificiais da civilização. Essa deformação da mente e o aviltamento da consciência desumanizaram o homem artificializado pela violência no seu método de ação, justificado pelo seu valor pessoal, para o reconhecimento do seu poder que imperiosamente embriaga e o tem levado a excessos perigosos.
A violência do “homem civilizado” tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. Um pai que expoõe seu filho para esmurrar e ser esmurrado ou chutado é bem o homo brutalis que tem as suas leis: subjugar, humilhar, torturar, matar. O seu valor está sempre acima do valor dos outros. Além disso, mister é recordarmos que a cumplicidade com as práticas de violência, por parte de consciências esclarecidas, retarda a evolução coletiva e rebaixa o cúmplice a posições indignas.
Os guantes da brutalidade continuam a fermentar competições hediondas nas novas estruturas sócio-culturais. A prova histórica de que a carga de animalidade está hoje aos nossos olhos, na eclosão de violências em todos os níveis do mundo contemporâneo, sobretudo contra as crianças.
Nossa esperança é a de que essa explosão seja a catarse final para que o homem bruto desapareça e possa ceder lugar ao homem de bem.
Estamos numa conjuntura de nova antropofagia, superestimada e requintada pelas técnicas de lutas de arenas como se fossem esportes de modernas concepções. Hoje, na era cibernética, os instrumentos de opressão, tortura e aniquilamento do homem atingiram o clímax em face de seu máximo aperfeiçoamento.
E nesse marasmo da vida moderna, educar é em si mesma uma tarefa intrincada; educar no momento atual é problema de solução nada fácil, em face das modificações que a condição infantil vem sofrendo nas últimas décadas. Antigamente a pureza das crianças era uma realidade mensurável. Sua perspectiva não ultrapassava os humildes cadernos e livros didáticos e os brinquedos baratos. Para repreendê-las e educá-las, às vezes bastava um olhar firme dos pais. Porém, aquele imaginário infantil de quietude e sonho desmoronou sob o impacto da era da robótica.
Em nosso diagnóstico, concebemos que a televisão e a internet, ao invadirem os lares, potencializaram nas crianças o despertar antecipado para a nua realidade. O que equivale afirmar que as mesmas foram arrancadas do seu universo de fantasia, estimuladas pela violência.
Destarte, o período de inocência e tranqüilidade infantil foi diminuindo. Cada vez mais cedo e com maior intensidade, as inquietações da adolescência brotam, acrescidas pelos múltiplos e desencontrados apelos das revistas pornográficas, da mídia eletrônica, das drogas, do consumismo, do mau gosto e da vulgaridade, das técnicas de lutas marciais e outras tantas extravagências, como reflexos óbvios de pais que vivem alienados, estagnados e desatualizados, enclausurados em seus afazeres diários e que nunca poderão permanecer à frente da Educação dos próprios filhos.
Seria possível uma viagem através do “túnel do tempo” a uma volta aos padrões comportamentais de 60 anos atrás? Seria desejável - e essa é uma meta a ser atingida a longo prazo - que as crianças só recebessem do mundo que as cerca, mensagens boas e construtivas. Ao invés de serem bombardeadas dia e noite pela violência e pela sensualidade desenfreada. Para esse mister, só pode caber aos pais a tarefa de amortizar essa deseducação constante por que a infância passa.
A regra áurea do amor prevalecerá num mundo regido pela lógica da violência. E no conjunto de providências dos Espíritos Elevados, o Espiritismo asumirá seu espaço definitivamente. Isso equivale afirmar que essa posição sui generis do Espiritismo lhe permitirá preparar a criança atual para uma existência normal e digna no futuro, desde que os espíritas permaneçamos atentos. Jesus prossegue o modelo.
A tarefa que nos cumpre realizar é a da educação das gerações jovens pelo exemplo de total dignificação humana sob as bênçãos de Deus.
Nesse sentido, os postulados espíritas são antídotos para a violência, posto que quem o conhece tem consciência que não poderá eximir das suas responsabilidades sociais, sabendo que o seu futuro será uma decorrência do presente.
Referências: