Amor ‘blinda’ casais ao charme alheio, diz pesquisa
Uma pesquisa da Universidade da Califórnia indicou que pessoas apaixonadas se tornam mais indiferentes aos encantos de pessoas estranhas ao relacionamento.
A teoria de que emoções profundas são capazes de “cegar” os casais românticos sugere que o amor tem uma função distinta do desejo em um relacionamento, disseram os cientistas.
O experimento, feito em parceria com uma empresa de relacionamentos e divulgado na edição desta quarta-feira da revista New Scientist , envolveu 120 estudantes de ambos os sexos em relacionamentos longos.
Cada um recebeu uma foto de uma pessoa bonita, mas desconhecida. Depois os estudantes foram separados em grupos, cada um com uma “tarefa emocional”: escrever sobre seu envolvimento amoroso com o parceiro, escrever sobre desejo sexual em relação ao parceiro, ou escrever sobre qualquer tema.
Aqueles que escreveram sobre amor se lembraram de menos detalhes sobre as pessoas das fotos do que os que escreveram sobre os outros temas.
“Mostramos que sentir amor por um parceiro romântico facilita a supressão de pensamentos em parceiros atraentes”, escreveram os pesquisadores, em um artigo na revista científica Evolution and Human Behavior .
“O amor, mas não o desejo sexual, resultou em maior compromisso com o parceiro durante o estudo.”
“Os resultados sugerem que o amor tem uma função diferente da do desejo, podendo funcionar como um ‘mecanismo de compromisso’ em um relacionamento.”
Os cientistas especulam que este comportamento pode ter evoluído no ser humano para garantir às crias de um casal um cuidado maior.
Notícia publicada na BBC Brasil , em 19 de março de 2008.
Carlos Miguel Pereira comenta*
Esta notícia convida-nos a realizar uma profunda reflexão sobre o real significado do amor e as diferenças existentes em relação àquilo que é chamado de paixão ou desejo.
Em “O Livro dos Espíritos” , de Allan Kardec, na questão 939, os Espíritos esclarecem:
“Há duas espécies de afeição: a do corpo e da alma, e toma-se freqüentemente uma pela outra. A afeição da alma, quando é pura e simpática, é durável; a do corpo é passageira. Eis por que muitas vezes os que pensavam se amar com um amor eterno se odeiam quando acaba a ilusão.”
A paixão é a afeição do corpo que nos fala a citação de “O Livro dos Espíritos”. A paixão é desejo, instinto, sensação. É a necessidade possessiva de algo, tornando secundário o que não seja a conquista do objetivo traçado. É como se duas metades finalmente se estivessem a encontrar. Juntas, essas metades sentem-se uma só e separadas parece que lhes falta o essencial. Quando alguém se apaixona é como se encontrasse tomado por uma ilusão, parecendo ter atingido o pico do Everest quando ainda está a iniciar a árdua escalada. Julga-se completo e inteiramente feliz, mesmo que tudo à sua volta esteja desfeito, não conseguindo perceber carências de qualquer espécie, nem necessidades de evolução ou aperfeiçoamento.
Apaixonarmo-nos é uma experiência fantástica, mas tem um problema: Se a sensação e o prazer forem o seu único carburante e não for acompanhada de uma qualidade de sentimentos que a substancie, a paixão é efémera e temporária! Isto é problemático porque muita gente é viciada em paixão e, não compreendendo este fato, vive constantemente à procura de alimentar a fantasia e a ilusão.
Nós vivemos numa época que privilegia o simplismo. Tudo é bom se for simples, rápido e acessível. Neste contexto social, a paixão é ótima porque é fácil, fugaz e até descartável; Pelo contrário, o amor é péssimo pois é difícil, dá trabalho e exige comprometimento.
A paixão é preguiçosa, não requer um esforço extraordinário. Mas sem esse mesmo esforço e dedicação não é possível vivenciar o verdadeiro amor, porque o amar é trabalhoso, exige vontade, compromisso e construção contínua. Amar alguém não significa a existência de sacrifícios de qualquer espécie. Quem faz sacrifícios não ama porque a existência do sacrifício implica a idéia de que é um ato que não desejamos fazer e apenas o fazemos contrariados. Uma mãe que passa meses num hospital a acompanhar o seu filho doente não está a fazer qualquer sacrifício, mas antes a amar com todo o seu Espírito. Dadas as circunstâncias, não existe outro lugar do mundo onde essa mulher preferisse estar. Ignora as suas necessidades e interesses, não por sacrifício, mas porque é essa a sua vontade. Quem, por vontade própria e por dedicação, decide exceder os seus limites por alguém, está a vivenciar verdadeiro amor. Não temos de amar, mas nós escolhemos amar. Amar é sermos capazes de, por alguém, darmos um pouco mais de nós, expandir a nossa alma. O verdadeiro amor nos casais românticos, manifesta-se: Pelo desejo de união; pelo apreço pela companhia; pelo respeito pela individualidade do seu parceiro; na vontade de, pelo outro, exceder os próprios limites; no trabalho conjunto pela sua evolução intelectual, moral e espiritual; e no desejo de transformar essa união num laço de afinidade para toda a eternidade.
A conclusão da investigação em análise na notícia vem ao encontro desta nossa reflexão. O amor existente num casal romântico, pedra basilar num relacionamento que se pretende firme e duradouro, é fruto de incontáveis evoluções da espécie humana e do nosso Espírito, e está em permanente sublimação. Os instintos e as sensações, predominantes noutros tempos e épocas, dão agora lugar ao sentimento. Não significa isto que estas características tenham desaparecido, já que elas são naturais no ser humano, antes requerem controle e equilíbrio para que possam ser utilizadas em nosso proveito físico e da nossa evolução espiritual.