Como alguém é capaz de fazer isso?
Cárcere e tortura de menina em Goiânia tiveram pelo menos dois precedentes
Juliana Linhares
Quando a agente policial de Goiânia Jussara Assis entrou no apartamento de Sílvia Calabresi Lima, de 41 anos, deparou com a menina L., de 12 anos, amarrada na área de serviço. A menina tinha os dois braços erguidos e acorrentados a uma escada de ferro. Seus pés mal tocavam o chão, a boca estava tampada por uma gaze embebida em pimenta e oito dos dedos das mãos estavam quebrados – a maioria havia tido as unhas arrancadas. “Comecei a tremer tanto que tive dificuldade em desamarrá-la”, disse a policial. Adotada informalmente por Sílvia, L. morava havia dois anos com ela numa cobertura dúplex de 200 metros quadrados, em um dos bairros mais caros da cidade. Nesse período, conforme relatou à polícia, foi sistematicamente torturada pela mulher: teve o corpo queimado a ferro quente, dedos esmagados em dobradiças de portas e dentes quebrados a marteladas, entre outros suplícios. Sílvia – ela própria adotada (teria ficado órfã quando criança) – foi presa em flagrante. Ela vivia com o marido, que é engenheiro, dois dos três filhos do casal (de 20 e 3 anos de idade), a mãe adotiva e a empregada Vanice Novais, de 23 anos. Vanice também foi presa sob acusação de participar das torturas. Os demais membros da família serão indiciados por crime de omissão em caso de tortura.
À sucessão de horrores que os investigadores descobriram a partir da prisão de Sílvia, seguiu-se uma revelação: L. não foi a única vítima da mulher. Sílvia, segundo testemunhas, torturou e manteve encarceradas pelo menos outras duas meninas – entre elas C., hoje com 11 anos, cuja família prestou queixa de maus-tratos contra Sílvia há seis anos, em um processo que não foi adiante por falta de provas.
Sílvia, diz a polícia, atuava com método. L. e as outras meninas que disseram ter sido torturadas por ela têm perfil parecido e contam histórias praticamente idênticas. Todas nasceram em famílias pobres e a conheceram por meio de pessoas que trabalhavam para ela: L. é sobrinha de uma ex-empregada de Sílvia. C. é filha de uma manicure de um salão de beleza que Sílvia freqüentava. Ambas dizem que, no começo, a mulher mostrava-se simpática e as convidava para ir à sua casa e visitar o sítio da família. Depois de ganhar a confiança das crianças, pedia a seus pais que as deixassem morar com ela, alegando que tinha três filhos homens e sentia falta de uma menina. Para L., cujo sonho é ser policial, Sílvia prometeu matrícula na Escola Militar de Goiânia (onde a menina estudou apenas por seis meses). Também comprou-lhe um par de patins (que a criança nunca foi autorizada a usar).
Uma vez na casa de Sílvia, as meninas passavam a ser submetidas a todo tipo de violência – que, no caso de L., incluía ser obrigada a ingerir fezes de animais. Os pretextos eram os mais diversos. “L. contou que o que mais despertava a ira de Sílvia era quando ela chorava, pedia comida ou dizia querer falar com os pais”, diz a delegada responsável pelo caso, Adriana Accorsi. A menina C. voltou para a casa da mãe depois que, na escola, professores notaram marcas de tortura em seu corpo e avisaram a polícia. L. foi libertada graças a uma denúncia anônima. Para a delegada, Sílvia apresenta sinais claros de psicopatia: “Ela é sádica, sente prazer em machucar meninas e em momento nenhum demonstrou arrependimento pelo que fez”, avalia a delegada. É da matéria de que são produzidos os monstros.
Matéria publicada em Veja.com , em 26 de março de 2008.
Claudia Cardamone comenta*
Li com muita atenção esta notícia, apesar de ter uma constante divulgação na imprensa brasileira, e o que mais me chamou a atenção, foi a última frase: “É da matéria de que são produzidos os monstros”. Kardec nos mostra qual seria esta matéria, em O Livro dos Espíritos, questão 23: “Que é espírito? - O princípio inteligente do Universo” . Na questão 77, podemos definir o que são os espíritos: “O Espíritos são seres distintos da Divindade, ou não seriam mais do que emanações ou porções da Divindade, por esta razão chamados filhos de Deus? - Meu Deus! São sua obra, precisamente como acontece com um homem que faz uma máquina; esta é obra do homem, e não ele mesmo. Sabes que o homem, quando faz uma coisa bela e útil, chama-a sua filha, sua criação. Pois bem: dá-se o mesmo com Deus; nós somos seus filhos, porque somos sua obra” .
Antes de qualquer coisa, devemos lembrar que Silvia é filha de Deus, é obra divina, sendo assim é nossa irmã. Digo isto porque, ao pesquisar o assunto em diversos sites e blogs, constatei uma imensa carga energética de ódio dirigida a esta pessoa e seus famíliares, pessoas incitando linchamento e divulgando os dados pessoais dos envolvidos; percebi naqueles que clamavam justiça o mesmo desejo de ver a dor e o sofrimento do outro. Claro que nós devemos ficar chocados e indignados com o ocorrido e que os culpados devem arcar com as consequências de seus atos, mas não devemos desejar a eles o que neles repudiamos. “O critério da verdadeira justiça é de fato o de se querer para outros aquilo que se quer para si mesmo”. (LE, questão 876)
Os Espíritos afirmam em O Livro dos Espíritos: “os Espíritos foram criados simples e ignorantes. Deus deixa ao homem a escolha do caminho; tanto pior para ele, se seguir o mau: sua peregrinação será mais longa. Se não existissem montanhas, não poderia o homem compreender que se pode subir e descer, e se não existissem rochas, não compreenderia que há corpos duros. É necessário que o Espírito adquira a experiência, e para isso é necessário que ele conheça o bem e o mal; eis porque existe a união do Espírito e do corpo”. (questão 634)
Nós estamos num constante processo de evolução, muitos dizem que o planeta Terra está evoluindo de um mundo de provas e expiações para um mundo de regeneração; mas não é o planeta que está evoluíndo, somos nós que ao realizar este processo de forma coletiva acabaremos por transformar o planeta. Dizem também que Espíritos ainda não tão evoluídos estão tendo a última chance de reencarnar neste planeta, mas acho que são aqueles que acreditam estar mais evoluídos, ou que desejam evoluir, que estão recebendo a oportunidade de provar seu mérito, pois estando mais evoluídos terão a responsabilidade de auxiliar aqueles que se encontram em setores mais abaixo da escala espiritual. Não disse Jesus: “Os sãos não têm necessidade de médico, mas sim os enfermos”. (Mateus, IX:10-12)
Ele nos ensina ainda: “Mas eu vos digo: Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeias, e orai pelos que vos perseguem e caluniam, para serdes filhos de vosso Pai, que está nos céus, o qual faz nascer o seu sol sobre bons e maus, e vir chuva sobre justos e injustos”… “E se vós amais somente aos que vos amam, que merecimento é o que vós tereis?”. O Espiritismo nos ensina que amar os inimigos é uma das maiores conquistas sobre o egoísmo e o orgulho, é desejar-lhes o bem em vez do mal, é não lhes ter ódio, ou desejo de vingança.
Não é uma coisa fácil de se alcançar, mas por isso que ao conseguirmos recebemos maior mérito. Lembremos também que cada um receberá segundo seus méritos, e a jovem não passou por esta terrível experiência por mero acaso, mas por que isto era necessário à sua evolução espiritual.