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Uma pesquisa da Universidade de Edimburgo, na Escócia, indica que a felicidade de uma pessoa pode ser controlada pelos genes. André Henrique de Siqueira comenta.

  • Data :12/03/2008
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Felicidade pode ser controlada em parte por genes, diz estudo

Uma pesquisa da Universidade de Edimburgo, na Escócia, indica que o nível de felicidade de uma pessoa durante sua vida pode ser, em parte, controlado pelos genes.

A pesquisa, realizada em conjunto com o Instituto para Pesquisa Médica de Queensland, na Austrália, analisou 900 pares de gêmeos idênticos (ou univitelinos) e gêmeos fraternos.

O estudo se concentrou em gêmeos porque os idênticos são geneticamente iguais, enquanto os fraternos têm diferenças. Por isso, é possível fazer uma comparação entre os dois grupos e calcular como certo traço de personalidade pode ser influenciado pela herança genética.

Durante o estudo, os pesquisadores analisaram pessoas que tinham tendência a não se preocupar, que eram sociáveis e escrupulosas.

Todas estas três características separadas foram ligadas, por outras pesquisas, a um sentido geral de felicidade e bem-estar.

As diferenças entre os resultados em gêmeos idênticos e fraternais sugeriram que estes traços de personalidade são influenciados em até 50% por fatores genéticos.

A outra metade seria influenciada pelo estilo de vida, pela carreira e por relacionamentos. A pesquisa foi publicada na revista especializada Psychological Science .

Influências externas

“Apesar de a felicidade estar sujeita a muitas influências externas, descobrimos um componente que é transmitido de forma hereditária, que pode ser explicado totalmente pela arquitetura genética da personalidade”, afirmou Alexander Weiss, do Colégio de Filosofia, Psicologia e Ciências Lingüísticas da Universidade de Edimburgo.

Para outros pesquisadores, mesmo com outros estudos analisando o papel da herança genética na felicidade, é errado pensar que a natureza é que determina os níveis de felicidade.

“O que (a pesquisa) significa é que, ao invés de um único ponto, as pessoas têm uma série de níveis de felicidade possíveis, e é perfeitamente possível influenciar com técnicas cujo funcionamento foi empiricamente provado”, avalia Alex Linley, do Centro de Psicologia Positiva Aplicada da Grã-Bretanha.

“Coisas simples como trabalhar seus pontos fortes, usá-los de novas maneiras todos os dias ou manter um diário onde cada um escreve, todas as noites, três coisas pelas quais pode agradecer mostraram que podem levar a melhoras”, acrescentou o médico.

Notícia publicada na BBC Brasil , em 5 de março de 2008.

André Henrique de Siqueira comenta*

Ainda Phineas Gage… Corpo, mente, felicidade e genes. ou de como o corpo define a personalidade…

Em 13 de setembro de 1949, o Boston Post, jornal norte-americano, noticiava o acidente em que Phineas P. Gage teve o cérebro transpassado por uma barra de ferro de 1,10 metros de comprimento e 1,5kg, devido a uma explosão na ferrovia  Free Soil Union, em Ludlow, Vermont. A barra de ferro causou um dano irreparável no cérebro do operário, mas ele sobreviveu após ser atendido pelo Dr. John Martyn Harlow. Além da seqüela física causada pela perda de uma parte do hemisfério esquerdo do cérebro, Gage apresentou um comportamento moral completamente diferente do que possuía antes do acidente, ao ponto de seus companheiros de trabalho afirmarem: “Este não é o Gage!…”

O empregador de Phineas o dispensou do emprego após o acidente, não por ele não ter capacidades – que estavam intactas –, mas por seu comportamento social agressivo, seus constantes impropérios e pelos modos deseducados com que tratava seus colegas de trabalho… Não era o mesmo Gage…

Os registros do Dr. Harlow indicam a interpretação dos fatos conforme segue: a mudança na constituição física do cérebro afeta a personalidade dos indivíduos, logo o cérebro interfere na personalidade. Seria sua sede?

Em 5 de março de 2008, a BBC noticiou a publicação de um estudo no Psychological Science sobre uma pesquisa com 900 pares de gêmeos idênticos e fraternos, realizada pela Universidade de Edimburgo, na Escócia, para o Instituto para Pesquisa Médica de Queensland, na Austrália.

Durante o estudo, os pesquisadores analisaram pessoas que eram sociáveis e escrupulosas e tinham tendência a não se preocupar, características ligadas, por outras pesquisas, a um sentido geral de felicidade e bem-estar. Os resultados encontrados sugerem que tais traços de personalidade são influenciados por fatores genéticos. O índice de influência chegaria a até 50%.

Surge outra pergunta: seria a felicidade uma herança genética?

O estudo da Universidade de Edimburgo baseou-se na avaliação do Modelo de Cinco Fatores (FFM – Five Factor Model)1, o qual considera fatores genéticos e sociais como fatores de influência sobre a personalidade do indivíduo. Segundo o modelo FFM, os fatores determinantes na personalidade do indivíduo são: Extroversão, Compreensão, Consciência, Neurose e Abertura a novas experiências.

O Dr Alexander Weiss, membro da Escola de Filosofia, Psicologia e Ciências da Linguagem na Universidade de Edinburgh – responsável pela pesquisa – disse que:

“Juntamente com a vida e a liberdade, a posse da felicidade é um desejo central da humanidade. Apesar de a felicidade ser objeto de um amplo espectro de influências externas, nós identificamos que existe um componente de felicidade herdado e que pode ser completamente explicado por uma arquitetura genética da personalidade.”2

A perspectiva apresentada é uma busca de relacionar, tanto no caso de Phineas Gage, como na conclusão do Dr. Weiss, o modo como o cérebro interfere na vida moral do indivíduo.

A questão interessa à perspectiva do Espiritismo, igualmente.

Em O Livro dos Espíritos, encontramos uma seqüência de perguntas e respostas tratando do assunto:

  1. Após sua união com o corpo, exerce o Espírito, com liberdade plena, suas faculdades?

“O exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento. A grosseria da matéria as enfraquece.”

a) - Assim, o invólucro material é obstáculo à livre manifestação das faculdades do Espírito, como um vidro opaco o é à livre irradiação da luz?

“É, como vidro muito opaco.”

Pode-se comparar a ação que a matéria grosseira exerce sobre o Espírito à de um charco lodoso sobre um corpo nele mergulhado, ao qual tira a liberdade dos movimentos.

  1. O livre exercício das faculdades da alma está subordinado ao desenvolvimento dos órgãos?

“Os órgãos são os instrumentos da manifestação das faculdades da alma, manifestação que se acha subordinada ao desenvolvimento e ao grau de perfeição dos órgãos, como a excelência de um trabalho o está à da ferramenta própria à sua execução.”

  1. Da influência dos órgãos se pode inferir a existência de uma relação entre o desenvolvimento dos do cérebro e o das faculdades morais e intelectuais?

“Não confundais o efeito com a causa. O Espírito dispõe sempre das faculdades que lhe são próprias. Ora, não são os órgãos que dão as faculdades, e sim estas que impulsionam o desenvolvimento dos órgãos.”

a) - Dever-se-á deduzir daí que a diversidade das aptidões entre os homens deriva unicamente do estado do Espírito?

“O termo - unicamente - não exprime com toda a exatidão o que ocorre. O princípio dessa diversidade reside nas qualidades do Espírito, que pode ser mais ou menos adiantado. Cumpre, porém, se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.”

O Espiritismo não pretende ser um substituto para a pesquisa científica. Pelo contrário, ele se interessa pelas suas conquistas e procura relacioná-las com os fenômenos relacionados ao Espírito, que é o seu objeto de pesquisa. A perspectiva espírita é suficientemente aberta para consideração a revisão de seus conceitos, desde que demonstrados em erro – consoante a afirmativa de Kardec. Mas é sobre os postulados que deveremos nos deter. A pesquisa científica é baseada em postulados filosóficos, que constituem a base de uma ciência. A perspectiva materialista da ciência assume como postulado a impossibilidade da existência do Espírito. A perspectiva espírita não.

A base epistemológica do pensamento espírita assenta-se nos seguintes fundamentos:

  1. Deus – inteligência suprema e causa primária de tudo o que existe.
  2. Espírito – princípio inteligente do Universo.
  3. Matéria – é o instrumento de que o Espírito se serve e sobre o qual, ao mesmo tempo, exerce sua ação.
  4. Evolução – O progresso é uma lei natural.
  5. Comunicação – o princípio inteligente partilha experiência e desenvolve-se através do contato com outros e pela experiência.

Os princípios filosóficos do Espiritismo são articulações destes postulados.

É importante notar que a concepção espírita não ignora a influência da matéria. Ele a considera como um fator determinante para o próprio progresso do Espírito, que a utiliza como instrumento de suas experiências. Não é de admirar, portanto, que na reposta à questão 370, apresentada acima, tenhamos a ênfase de que “(…) se leve em conta a influência da matéria, que mais ou menos lhe cerceia o exercício de suas faculdades.”

A influência genética sobre o corpo certamente lhe definirá condições propícias para esta ou aquela percepção, este ou aquele modo de relacionar-se com o mundo. Mas não a determinará, porque outros fatores concorrem para a diversificação das possibilidades. Mas é justo considerar que “o exercício das faculdades depende dos órgãos que lhes servem de instrumento.”

A felicidade e a conduta moral do indivíduo são conquistas espirituais que ele realiza em si mesmo. O corpo serve-lhe de instrumento de manifestação, diz a filosofia espírita.

O argumento de que o cérebro interfere na conduta do indivíduo, como sugerido pelo caso Gage, encontra respaldo na concepção espírita, somente do ponto de vista de ser UM dos fatores que influencia nesta conduta, não o único fator.

A pesquisa científica deve ser incentivada, mas o viés materialista que alguns pretendem imprimir a ela é tão danoso quanto a postura dogmática das religiões absolutistas. Daí ter Allan Kardec, adequadamente refletido:

  1. Por que é que os anatomistas, os fisiologistas e, em geral, os que aprofundam a ciência da Natureza, são, com tanta freqüência, levados ao materialismo?

“O fisiologista refere tudo ao que vê. Orgulho dos homens, que julgam saber tudo e não admitem haja coisa alguma que lhes esteja acima do entendimento. A própria ciência que cultivam os enche de presunção. Pensam que a Natureza nada lhes pode conservar oculto.”

  1. Não é de lastimar que o materialismo seja uma conseqüência de estudos que deveriam, contrariamente, mostrar ao homem a superioridade da inteligência que governa o mundo? Deve-se daí concluir que são perigosos?

“Não é exato que o materialismo seja uma conseqüência desses estudos. O homem é que deles tira uma conseqüência falsa, pela razão de lhe ser dado abusar de tudo, mesmo das melhores coisas. Acresce que o nada os amedronta mais do que eles quereriam que parecesse, e os espíritos fortes, quase sempre, são antes fanfarrões do que bravos. Na sua maioria, só são materialistas porque não têm com que encher o vazio do abismo que diante deles se abre. Mostrai-lhes uma âncora da salvação e a ela se agarrarão pressurosamente.”

1 Mais informações podem ser encontradas em http://personalityresearch.org/papers/popkins.html . 2 “Together with life and liberty, the pursuit of happiness is a core human desire. Although happiness is subject to a wide range of external influences we have found that there is a heritable component of happiness which can be entirely explained by genetic architecture of personality.” – extraído de http://medicalnewstoday.com/articles/99448.php .

  • André Henrique de Siqueira é bacharel em ciência da computação, professor e espírita.