Redação Vida e Estilo
Deixar para trás uma carreira de sucesso na TV, construída ainda na infância, a fim de trilhar um novo caminho em busca de mais realização pessoal. Foi o dilema que viveu a ex-atriz e hoje psicóloga clínica, coach e palestrante Cecília Dassi. Ela começou a atuar ainda criança, em séries e comerciais, e conquistou o público ao interpretar a esperta Sandrinha na novela “Por Amor” (1997), quando tinha só 7 anos. Hoje, aos 27, Cecília tem no currículo mais de 10 atuações na TV, entre seriados e novelas de destaque – como “A Padroeira”, “Alma Gêmea” e “Viver a Vida” –, além de trabalhos em filmes e peças de teatro. Junto com a carreira de atriz, Cecília cursou psicologia e decidiu, em 2013, sair dos sets de filmagem para trabalhar no setting terapêutico, ajudando pessoas a terem uma vida mais satisfatória e feliz.
“Eu não me sentia infeliz como atriz. Mas sentia que faltava algo. É difícil explicar. Era como se eu estivesse meio fora do trilho. Eu gostava de atuar, e não sentia estar distante do que eu queria fazer, já trabalhava com o ser humano. Mas tinha uma questão de missão, sabe? Eu fazia algo que curtia, mas não estava fazendo a diferença e construindo algo que fizesse sentido para mim , não era meu propósito”, conta em entrevista ao Yahoo Brasil. “Quando eu pensava em qual seria a maior realização de uma atriz, por exemplo, ganhar um Oscar, eu não sentia que isso iria me preencher. Mesmo se tivesse o maior destaque dentro da carreira, eu continuaria achando que não era o meu propósito.”
Essa reviravolta toda começou quando Cecília terminou o Ensino Médio e decidiu cursar psicologia. Até então, a ideia ainda era conciliar as duas coisas, porque a outra área poderia ajudá-la como atriz. “Quando eu acabei ‘Viver a Vida’ (2010), a última novela que eu fiz, eu já estava cursando psicologia e estava muito encantada, mas não tinha planos de ser psicóloga. Meu contrato acabou sendo renovado com a Globo, e naquele momento eu ainda tinha interesse em continuar na profissão”, relembra Cecília.
No entanto, no período desse último contrato, ela não foi chamada para trabalhos. “Foi um momento em que eu pude ficar estudando e me aperfeiçoando sem precisar trabalhar. Mas não podia me comprometer em trabalhar em outra coisa porque como contratada da Globo eu teria que estar à disposição da empresa. Isso me deixou num limbo, e eu me sentia um pouco angustiada .”
Nesse período longe da TV e mergulhada no seu próprio processo de terapia e nos cursos de psicologia, Cecília se viu num momento de crise, em que precisava decidir. Não havia como ter uma clínica de psicologia e atuar em novelas. “Não só do ponto de vista de largar uma carreira pela estabilidade, mas pela ideia de que ‘caramba, eu construí a minha vida em cima disso, a minha mãe se mudou de cidade para realizar meu sonho’ [Cecília se mudou ainda criança de Esteio, no Rio Grande do Sul, para o Rio de Janeiro, onde vive ainda hoje.] . Então foi um processo difícil mas de muito amadurecimento. E sou muito grata por ter tido coragem”, afirma.
Quando o contrato acabou e a Globo decidiu não renovar foi que Cecília sentiu que estava tomando a decisão certa, ficando livre para decidir o rumo do próprio futuro. “Me deu um frio na barriga, foi assustador, mas foi bom. A gente precisa investigar o que a gente quer da vida e o que faz sentido. ” Ela conta ainda que recebeu apoio da família para mudar de área. “Minha mãe percebeu como a psicologia estava me encantando e como eu fui sendo engolida com o maior prazer.”
Trauma de infância
Cecília conta que ainda enfrenta reações surpresas de pessoas, que costumam achar que ela sofreu algum trauma ou frustração, e por isso decidiu largar a profissão de atriz. Mas não se incomoda. “Eu só digo que não faria uma novela ou uma peça pois são coisas que demandam muito tempo de envolvimento, dedicação. E não teria como conciliar com meu consultório que é hoje a minha prioridade. Mas se aparecesse um filme, em que o processo é mais possível de conciliar com a minha agenda, eu faria.”
No ar em “Por Amor”, no canal Viva, Cecília não tem tido tempo para assistir a reprise, mas fica feliz quando consegue, porque assim tenta se recordar de uma época da qual não tem muitas lembranças. “Eu adoro me assistir, é como se fosse a primeira vez que aquilo estivesse acontecendo. Mas eu lembro que sempre fui muito rígida comigo. Tinha uma preocupação muito grande em ser boa, fazer tudo direito, me sair bem. Se alguém me fazia um elogio, eu respondia dizendo que ela falava aquilo para me agradar. Mas quando falavam algo ruim, eu levava muito em consideração”, recorda.
Para Cecília, a curiosidade do público em saber sobre sua mudança de carreira pode ajudá-la a transmitir a mensagem de que “podemos nos transformar”, e que realização e sucesso “são questões muito particulares, que precisam estar além das aparências de uma carreira bem-sucedida”.
Novas realizações
Participar de uma conferência do TED, plataforma internacional com apresentações inspiradoras, era um grande sonho de Cecília, que ela acabou de realizar no mês passado.
“Eu fiquei muito ansiosa! As pessoas diziam ‘ah, mas você está acostumada a falar em público!’, mas ali era bem diferente. Eu falaria como Cecília, e não como uma atriz, uma personagem. Minha fala girou em torno da ganância. Eu acredito que ninguém é obrigado a ter um grande sonho, mas qualquer pessoa que tenha um, não pode ser obrigada a deixá-lo na gaveta. Quero mostrar que o ser humano pode realizar coisas incríveis e quantas delas não teriam acontecido se as pessoas não tivessem tido tanta gana, vontade.”
Apesar de estar distante da TV, Cecília pode ser assistida em vídeos de seu canal no YouTube. O objetivo da jovem é mostrar que terapia não é algo de quem perdeu o controle da própria vida, mas sim uma ferramenta para o autoconhecimento.
“Quero acabar com o preconceito de que terapia é chato, ou um atestado de que você estava tão no fundo do poço que precisou de um psicólogo. Ela não é só para quem está mal, ela pode te ajudar muito a se realizar. Você pode descobrir mais potenciais, ficar mais em paz na vida, criar seus filhos melhor, viver bem com a família. O desafio é como criar uma coisa interessante que as pessoas tenham curiosidade de assistir e de se transformarem também.”
Cecília tem muitos planos e hoje estabelece metas para curto e médio prazo para focar e ver como eles se desdobram. O próximo projeto, que deve começar ainda este ano, é é criar uma plataforma online para tornar o acesso ao autoconhecimento e autodesenvolvimento mais possível para um grande público.
“Sei que terapia não é algo barato, o que distancia muita gente de ter esse contato. Esse grupo online deve ter um valor bem acessível, que seja viável para mim e para o público. Claro, não é para substituir a terapia presencial, mas é para instigar as pessoas. E para quem não tem como pagar o valor de uma terapia convencional, seria melhor do que nada. Quero despertar nas pessoas a curiosidade. A grande magia do ser humano é vislumbrar uma realidade diferente do que está e conseguir viabilizar isso. É lindo.”
Notícia publicada no Portal Vida e Estilo , em 12 de junho de 2017.
Cristiano Carvalho Assis* comenta
Sempre que leio ou vejo algo que demonstra a vocação de uma pessoa ou a coragem dela de seguir seu coração, me lembro da questão 928 de O Livro dos Espíritos :
“Evidentemente, por meio da especialidade das aptidões naturais, Deus indica a nossa vocação neste mundo. Muitos dos nossos males não advirão de não seguirmos essa vocação? Assim é, de fato, e muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam seus filhos da senda que a Natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a felicidade, por efeito desse desvio. Responderão por ele. (…) se pode fazer outra coisa? Poderá sempre tornar-se útil na medida de suas faculdades, desde que não as aplique às avessas. Assim, por exemplo, em vez de mau advogado, talvez desse bom mecânico, etc. No afastarem-se os homens da sua esfera intelectual reside indubitavelmente uma das mais frequentes causas de decepção. A inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de reveses.”
Observando esta questão, concluímos que realmente todos temos nossas aptidões e certas vocações na vida que nos completa, onde o distanciamento poderá nos trazer grandes decepções. Com a ex-atriz não foi diferente, algo dentro dela gritava qual o caminho que o seu “eu” desejava percorrer.
Mas, mesmo assim, observando o caminho que almejava, não foi fácil. A atriz precisou de coragem para seguir seu coração, pois sabemos que todas as escolhas trazem renúncias e afetam quem está ao nosso redor. A escolha anterior fez a família mudar de cidade, a de se tornar psicóloga precisaria de novos sacrifícios.
Com certeza, os amigos, parentes ou pessoas em geral devem ter buscado convencê-la de continuar como atriz, pois já tinha conseguido o que poucos fizeram, adquirido destaque na sociedade e melhorado financeiramente. E muitos devem ter perguntado: “Mas por que deixar tudo isso?”
E a melhor resposta que posso imaginar é: Para ser feliz. Para cada um de nós a felicidade está em um ponto diferente. Algo que imaginamos ser o mais alto grau de felicidade para um pode ser um martírio para o outro. Algo que me completa não tem o menor sentido para os outros. Para a atriz, o que lhe completa é influenciar as pessoas de outra maneira. O que deixa seu coração repleto de felicidade é estar atuando como psicóloga, não como atriz.
A Doutrina Espírita ainda nos mostra que temos deveres trazidos de outras vidas, os quais estão gravados em nosso subconsciente. É provável que um dos deveres dela estava relacionado em assumir este papel perante a sociedade. E no momento que realizamos ou ao menos vamos nos aproximando de nossas missões, programadas na erraticidade, nosso Espírito se preenche de uma satisfação íntima de dever cumprido.
Cecília Dassi deve ter sentido essa satisfação íntima, não como artista, mas sim como psicóloga, pois como na resposta dos Espíritos acima: “em vez de mau advogado, talvez desse bom mecânico” . No caso em questão, em vez de uma atriz frustrada, uma psicóloga feliz e realizada.
Quem de nós não precisou ou precisará fazer escolhas difíceis, as quais mudarão o sentido de nossas vidas? Da mesma forma que ocorreu com ela, acontecerá conosco momentos como este. Será que o nosso progresso moral e intelectual será possível se não tivermos esses desafios? Vocês já devem ter passado por situações em que precisaram escolher entre ganhar mais ou ficar com a família, ir para festas ou para uma assistência social, escolher entre você ou a outra pessoa, ser bom ou ser indiferente e egoísta. Não importa se são pequenas ou grandes escolhas, todas nos trarão consequências boas ou más, dependendo do caminho que escolhermos.
É preciso muita coragem para enfrentar aqueles que dizem para continuar como está, os nossos pensamentos que ficarão martelando se foi a melhor escolha e o medo de trocar uma coisa estabilizada para outra que não sabemos o resultado. É complicado seguirmos nossa consciência; ela sempre buscará nos guiar pelo melhor caminho, mas nem sempre este é o mais fácil e o menos trabalhoso.
Não há dúvida, por vezes nossa consciência poderá nos dizer que não estamos seguindo o caminho que nosso coração desejava. Por vezes poderemos observar que estamos seguindo o que a sociedade, um familiar ou alguém determinou para mim, mas que lá no fundo não era o queria. E por vezes chegamos a observar um vazio na alma pelas escolhas feitas.
No entanto, nestes e em todos os “por vezes” que virão de nossas escolhas, tenhamos a certeza que SEMPRE poderemos escolher novos caminhos, com coragem, fé em Deus e em nós, paciência e amor à vida. Esta vida que se torna maleável a todos que acreditam que, mesmo sendo difícil e trabalhoso, é possível seguirmos nossos corações e sermos felizes.