Grupo também pede participação feminina em negociações
POR O GLOBO
CISJORDÂNIA — Milhares de mulheres palestinas e israelenses realizaram neste domingo um protesto exigindo que os líderes dos dois países cheguem a um acordo de paz. A manifestação começou na Cisjordânia, durante a manhã, e foi encerrada em Jerusalém.
De acordo com a Associated Press, 8 mil mulheres se reuniram durante a manhã numa região ao norte do Mar Morto, na Cisjordânia, sob a “tenda da reconciliação”. Mulheres e crianças árabes e judias ficaram lado a lado, com cartazes que diziam “A paz depende de você”, em árabe e hebraico.
O protesto deste domingo é o antepenúltimo ato do projeto “Jornada para a paz”, promovido pela ONG Women Wage Peace, que teve início no último dia 24.
Além da paz entre os dois países, a ONG luta para garantir que mulheres tenham representação nas negociações. O presidente dos EUA, Donald Trump, está tentando reiniciar as conversas entre os dois lados desde que as negociações foram encerradas, em 2014.
Notícia publicada no Jornal O Globo , em 8 de outubro de 2017.
Márcia Rodrigues* comenta
Nesse mundo em ebulição, com ameaças de conflitos em diversos pontos do planeta, onde a religião ainda é usada como desculpa para a conquista de territórios e opressão de povos, um grupo de mulheres de culturas antagônicas se une em defesa da paz.
A ONG Women Wage é uma organização formada por mulheres da Palestina e Israel, que se movimenta para contribuir nas discussões que objetivam atingir a paz entre os dois povos. Para isso ela propõe que mulheres sejam inseridas nos centros de decisão e estão mobilizando a opinião pública, utilizando as mídias digitais, ou seja, elas estão se colocando em um lugar que as mulheres não costumam ocupar nessas culturas.
Durante muitos séculos, observamos o domínio e a opressão das mulheres. Sofrendo preconceitos e violências. Sendo negado o acesso à educação, à cultura e a diversos direitos básicos. “A situação da mulher, na civilização contemporânea, é difícil, não raro dolorosa. Nem sempre a mulher tem por si os usos e as leis; mil perigos a cercam, se ela fraqueja, se sucumbe, raramente se lhe estende mão amiga. A corrupção dos costumes fez da mulher a vítima do século.”(1)
Temos convivido com a ideia de que as mulheres são seres inferiores, quando, na verdade, homens e mulheres têm os mesmos direitos, embora com papéis diferentes, “preciso é que cada um esteja no lugar que lhe compete. (…) A lei humana, para ser equitativa, deve consagrar a igualdade dos direitos do homem e da mulher. Todo privilégio a um ou a outro concedido é contrário à justiça. A emancipação da mulher acompanha o progresso da civilização. Sua escravização marcha de par com a barbaria. Os sexos, além disso, só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles. Devem, por conseguinte, gozar dos mesmos direitos.”(2)
Como estamos vivendo um período de transição, os papéis estabelecidos no passado na sociedade estão se modificando e a mulher vem buscando encontrar seu espaço nesse novo contexto. Na busca por novas possibilidades, as mulheres vêm exercendo o direito de se posicionar, de manifestar sua vontade e de contribuir com a sociedade de maneira mais ativa.
Vemos esse grupo de mulheres se unindo para combater um mal que impacta a vida de todas elas, independente de que grupo ou religião que pertençam, já que a preocupação, a insegurança e o medo é comum a todas. Os riscos de terem suas famílias destruídas está sempre presente.
Essa sociedade, mesmo com acesso à tecnologia dos dias de hoje, é combativa e vem se envolvendo em guerras durante séculos, esse comportamento é recorrente.
Não é tão simples entender o que motiva essa atração, precisamos refletir que abandonar o uso da força para conquistar o que lhe parece importante é um processo de depuração da sociedade, já que o que impele o homem a guerra é a “predominância da natureza animal sobre a natureza espiritual e o transbordamento das paixões. No estado de barbaria, os povos um só direito conhecem: o do mais forte. Por isso é que, para tais povos, o de guerra é um estado normal. À medida que o homem progride, menos frequente se torna a guerra, porque ele lhe evita as causas. E, quando se torna necessária, sabe fazê-la com humanidade.”(3)
Essas mulheres se uniram pelo mesmo objetivo; estão exercendo um dos tantos aspectos possíveis do papel da mulher, além daqueles tradicionais, e que contribuem para a sustentação da nossa sociedade. “O papel da mulher é imenso na vida dos povos. Irmã, esposa ou mãe, é a grande consoladora e a carinhosa conselheira. Pelo filho é seu o porvir e prepara o homem futuro. Por isso, as sociedades que a deprimem, deprimem-se a si mesmas. A mulher respeitada, honrada, de entendimento esclarecido, é que faz a família forte e a sociedade grande, moral, unida!”(4)
Elas estão propondo uma discussão mais abrangente sobre como pode ser alcançado um acordo entre esses povos, através desse movimento organizado e planejado. Estão se encaminhando em direção da paz tão necessária, quebrando paradigmas, achando novas alternativas, e através dessas novas reflexões estão contribuindo para o progresso desses indivíduos.
O progresso moral é inevitável, e ainda que tomemos caminhos equivocados, até levaremos mais tempo e teremos aprendizados mais ou menos dolorosos; no entanto, o ponto de chegada, da pura e eterna felicidade, está esperando por todos nós, devemos apenas nos esforçar.
Precisamos sempre refletir se estamos nos esforçando o suficiente. A sociedade só irá se modificar se cada um de nós nos modificarmos também. Elas já começaram.
Fontes de Referência:
(1) “No Invisível” – Léon Denis – Primeira Parte - Cap. VII – O Espiritismo e a mulher;
(2) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec – questão 822;
(3) “O Livro dos Espíritos” – Allan Kardec – questão 742;
(4) “O Problema do Ser, do Destino e da Dor” – Léon Denis – Segunda parte – Cap. XIII – As vidas sucessivas. A reencarnação e suas leis.