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Alcoolismo

Diabólico Elixir

Diz o abstêmio:

- Não sabe que beber é uma morte lenta?

Responde o beberrão:

- Tudo bem… não tenho pressa.

Ambos estão equivocados.

Todos morremos lentamente.

Programados biologicamente para uma existência aproximada de um século, sofremos lento, progressivo, inexorável desgaste celular que culminará com o colapso orgânico, transferindo-nos para o Além.

Por outro lado, o vício sobrecarrega e compromete o funcionamento de órgãos vitais, o que acelera o processo.

O alcoólatra, portanto, morre mais depressa.

Situando o corpo como uma máquina que nos é emprestada para a viagem terrestre, imaginemos nosso constrangimento ao sermos informados por mentores espirituais de que arrebentamos com ela, indiferentes à sua preservação…

- Meu filho, lamento dizer que você regressou extemporaneamente. Está incurso no suicídio indireto! *

- Não é possível: Há algum engano!… Adorava a existência humana!

- Adorava beber! Nunca se conscientizou de que estava prejudicando seu corpo, embora ele o avisasse, freqüentemente, sinalizando com males variados. Eram doridos e ignorados pedidos de socorro de um servo que você está afogando em álcool.

- E agora?

- É esperar pela reencarnação. Alguns decênios com um fígado sensível, um aparelho digestivo complicado e você esquecerá a bebida, como irrealizável paixão que se esvai com o tempo. Uma úlcera gástrica obstinada, talvez um câncer depois, o ajudarão a recompor o perispírito ferido pelo vício…

Não é fácil vencer o condicionamento.

Dentre os padecimentos que a morte reserva ao alcoólatra, um surpreendente:

Continua sequioso da “água que passarinho não bebe”, porquanto o álcool, além dos estragos no corpo, provoca um condicionamento no corpo espiritual que lhe impõe a mesma premência de beber.

Com satisfazer-se se lhe falta o corpo?

Um único meio, não menos espantoso, que ele logo dominará: ligar-se ao psiquismo de um viciado “vivo”, o que lhe permitirá experimentar as sensações da bebida.

Um transe mediúnico invertido.

Ao invés de o encarnado colher as impressões do Espírito, este colhe suas sensações ao fazer uso da bebida, satisfazendo-se.

Pessoas sensíveis a essa influência são facilmente dominadas, transformando-se em canecos humanos.

Bebem descontroladamente, agindo como instrumentos para a satisfação dos parceiros invisíveis.

- É um sem-vergonha! Devia curtir sua bebedeira na prisão dizem as pessoas, referindo-se ao bebum.

- É um obsidiado. Precisa de tratamento médico e assistência espiritual – ensina a Doutrina Espírita.

Nos bares, onde o consumo de alcoólicos é expressivo, o ambiente espiritual assustaria o médium vidente.

Turbas de Espíritos viciados a envolver os habitués, sustentando neles a compulsão alcoólica.

Reuniões sociais regadas a álcool são muito freqüentadas por penetras desencarnados, viciados do Além.

Aproveitam o alto consumo de bebidas nesses ambientes, porquanto o álcool é reconhecido como recurso desinibidor. Algumas doses são suficientes para superar a timidez, favorecendo a comunicação, sem o que muitos convidados sentem-se marginalizados.

O que nem todos sabem é que o álcool nada faz senão anestesiar centros de controle do comportamento. E como ali estão também as bases físicas da reflexão e do senso de avaliação, o beberrão passa a oscilar entre a expansividade e a agressividade, a comunicabilidade e o ridículo, a descontração e a inconveniência, algo como sugere velha lenda judaica:

Conta-se que quando Noé deixou a arca, após o dilúvio, plantou uma vinha. Veio o diabo, matou um leão, um macaco e um porco. Em seguida regou a plantinha tenra com o sangue desses animais.

A partir daí, os que fazem uso da bebida produzida com a fermentação da uva revelam três tipos de comportamento animal:

Violentos como o leão.

Inconvenientes como o macaco.

Pachorrentos como o porco.

E fazem pior, porquanto o irracional é contido pelo instinto, enquanto que o Homem não tem limites quando transita pela irracionalidade.

Não raro, sobrepondo-se aos viciados desencarnados, que buscam os “canecos humanos”, há obsessores cruéis que se aproveitam das brechas psíquicas abertas pelo álcool.

Acidentes, brigas, agressões, crimes, desentendimentos, desuniões, desequilíbrios surgem a partir da insidiosa ação de entidades das sombras que se infiltram na mente indefesa do alcoolizado, levando-o a um comportamento anti-social.

O problema fundamental do viciado é a incapacidade de ajustar-se às realidades existenciais.

Alimentando uma visão distorcida, empolga-se pela busca de sensações, perseguindo uma euforia artificial, um céu efêmero sempre sucedido por um inferno de desequilíbrios.

Impermeável aos conselhos e orientações de amigos e familiares, insiste no vício, perdendo as melhores oportunidades de edificação da jornada humana. Depois, situa-se em longos estágios de sofrimento depurador na Espiritualidade, qual o lavrador desavisado que colhe espinhos semeados em campo fértil.

Quantos males seriam evitados! Quantas dores não aconteceriam! Quantos problemas seriam resolvidos se o alcoolismo das conversas vazias de fim de expediente, de fúteis reuniões sociais, de preguiçosos fins de semana fosse substituído pela visita ao enfermo, pelo atendimento do necessitado, pelo estudo edificante, pela participação na atividade religiosa…

Os que assim fazem não precisam de drinques para experimentar alguma descontração ou fugaz euforia, porquanto há neles aquela vida abundante a que se referia Jesus. Aquela força divina que vibra em nossas veias quando nossa mente se povoa de ideais e nosso coração vibra ao ritmo abençoado de serviço no campo do Bem.

Richard Simonetti

* Ver, em “O Livro dos Espíritos”, a Q. 952, sobre suicídio moral. (N.R.)

Veneno livre

Pede você que os Espíritos desencarnados se manifestem sobre o álcool, sobre os arrasamentos do álcool.

Muito difícil, entretanto, enfileirar palavras e definir-lhe a influência. Basta lembrar que a cobra, nossa velha conhecida, cujo bote comumente não alcança mais que uma só pessoa, é combatida a vara de ferro, porrete, pedra, armadilha, borralho, água fervente e boca de fogo, vigiada de perto pela gritaria dos meninos, pela cautela das donas de casa e pela defesa do serviço municipal, mas o álcool, que destrói milhares de criaturas, é veneno livre, onde quer que vá, e, em muitos casos, quando se fantasia de champanha ou de uísque, chega a ser convidado de honra, consagrando eventos sociais. Escorrega na goela de ministros com a mesma sem-cerimônia com que desliza na garganta dos malandros encarapitados na rua. Endoidece artistas notáveis, desfibra o caráter de abnegados pais de família, favorece doenças e engrossa a estatística dos manicômios; no entanto, diga isso num banquete de luxo e tudo indica que você, a conselho dos amigos mais generosos, será conduzido ao psiquiatra, se não for parar no hospício.

Ninguém precisa escrever sobre a aguardente, tenha ela o nome de vodca ou suco de cana, rum ou conhaque, de vez que as crônicas vivas, escritas por ela mesma, estão nos próprios consumidores, largados à bebedeira, nos crimes que a imprensa recama de sensacionalismo, nos ataques da violência e nos lares destruídos. E se comentaristas de semelhantes demolições devem ser chamados à mesa redonda da opinião pública, é indispensável sejam trazidos à fala as vítimas de espancamento no recinto doméstico, os homens e as mulheres de vida respeitável que viram a loucura aparecer de chofre no ânimo de familiares queridos, as crianças transidas de horror ante o desvario de tutores inconscientes e, sobretudo, os médicos encanecidos no duro oficio de aliviar os sofrimentos humanos.

Qual! Não acredite que nós, pobres inteligências desencarnadas, possamos grafar com mais vigor os efeitos da calamidade terrível que escorre, de copinho a copinho.

É por isso talvez que as tragédias do alcoolismo são, quase sempre, tratadas a estilete de sarcasmo. E creia você que a ironia vem de longe. Consta do folclore israelita, numa história popular, fartamente anotada em vários países por diversos autores, que Noé, o patriarca, depois do grande dilúvio, rematava aprestos para lançar à terra ainda molhada a primeira vinha, quando lhe apareceu o Espírito das Trevas, perguntando, insolente:

- Que desejas levantar, agora?

- Uma vinha - respondeu o ancião, sereno.

O sinistro visitante indagou quanto aos frutos esperados da plantação.

- Sim - esclareceu o bondoso velho -, serão frutos doces e capitosos. As criaturas poderão deliciar-se com eles, em qualquer tempo, depois de colhidos. Além disso, fornecerão milagroso caldo que se transformará facilmente em vinho, saboroso elixir capaz de adormecê-las em suaves delírios de felicidade e respouso…

- Exijo sociedade nessa lavoura! - gritou Satanás, arrogante.

Noé, submisso, concordou sem restrições e o Gênio do Mal encarregou-se de regar a terra e adubá-la, para o justo cultivo. Logo após, com a intenção de exaltar a crueldade, o parceiro maligno retirou quatro animais da arca enorme e passou a fazer adubagem e a rega com a saliva do bode, com o sangue do leão, com a gordura do porco e com excremento do macaco.

À vista disso, quantos se entregam ao vício da embriaguez apresentam os trejeitos e os berros sádicos do bode ou a agressividade do leão, quando não caem na estupidez do porco ou na momice dos macacos.

Esta é a lenda; entretanto, nós, meu amigo, integrados no conhecimento da reencarnação, estamos cientes de que o álcool, intoxicando temporariamente o corpo espiritual, arroja a mente humana em primitivos estados vibratórios, detendo-a, de maneira anormal, na condição de qualquer bicho.


Xavier, Francisco Cândido. Ditado pelo Espírito Irmão X.

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