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  • Violência contra a mulher aumentou durante quarentena da Covid-19 na China

Segundo ONGs de proteção à mulher, denúncias de vítimas e testemunhas aumentaram três vezes desde o início da quarentena implantada por conta do novo coronavírus. Jorge Hessen comenta.

  • Data :09/04/2020
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Segundo ONGs de proteção à mulher, denúncias de vítimas e testemunhas aumentaram três vezes desde o início da quarentena implantada por conta do novo coronavírus

REDAÇÃO GALILEU

Uma das recomendações para impedir a propagação da Covid-19, infecção causada pelo novo coronvírus, é a quarentena. A medida já se mostrou eficaz em diversos lugares do mundo, pois evita o contato entre pessoas contaminadas e saudáveis, mas na China a medida teve como consequência um efeito muito negativo: o aumento dos casos de violência doméstica contra as mulheres.

De acordo com o que a ativista chinesa Guo Jing contou à BBC , desde que as pessoas começaram a passar mais tempo em casa para prevenir a infecção por coronavírus, mais mulheres estão noticiando casos de violência que sofreram ou presenciaram. Além disso, Feng Yuan, da ONG de defesa à mulher Weiping, disse que sua organização forneceu três vezes mais consultas às vítimas do que antes das quarentenas.

Um desses casos foi o de uma parente da ativista Xiao Li, que vive na província de Henan. Segundo ela, a familiar contou ter sido agredida pelo ex-marido em uma rede social chinesa. “Estávamos super preocupados com o quão fácil era para o agressor bater nela durante a quarentena”, disse a chinesa ao Sixth Tone . “Não há restaurantes abertos, nenhum transporte permitido. Eles [a mulher e seus filhos] não comem há muito tempo."

Felizmente, Xiao Li conseguiu uma permissão para retirar sua familiar da vila em que ela estava, distanciando-a de seu agressor. “Incialmente, achamos impossível obter uma permissão para [que ela pudesse] deixar sua vila”, contou à BBC . “Eventualmente, depois de muita persuasão, a polícia finalmente concedeu uma permissão de saída e entrada para que meu irmão pudesse dirigir e encontrar ela e os filhos.”

Mas a parente de Xiao Li não foi a única a denunciar o caso de violência pela internet. A hashtag #AntiDomesticViolenceDuringEpidemic (#ContraViolênciaDomésticaDuranteEpidemia) foi usada mais de 3 mil vezes na rede social chinesa Sina Weibo com relatos de vítimas ou testemunhas.

Como contou à BBC , Feng Yuan acredita que a polícia não pode “usar a pandemia como desculpa para não levar a violência doméstica a sério”. A situação preocupa também a Organização das Nações Unidas (ONU), principalmente quando o assunto é a verba direcionada pelo governo chinês ao combate à violência doméstica.

“Desviar recursos de serviços críticos nos quais as mulheres confiam, como exames de saúde de rotina ou serviços de violência com base no gênero, é algo com que estamos muito preocupados”, afirmou Maria Holtsberg, conselheira da ONU na Ásia e no Pacífico.

Notícia publicada na Revista Galileu , em 14 de março de 2020.

Jorge Hessen* comenta

Há muito tempo a família vem-se arruinando, acompanhando as mudanças econômicas, socioculturais e religiosas do contexto em que se encontram culturalmente inseridas. Hoje em dia paira grande ameaça sobre a estabilidade familiar, e quando a família é ameaçada, por qualquer razão, a sociedade inteira perde a direção da paz. O materialismo, a ambição econômica, os modernos conceitos e promoções sensualistas têm investido contra a organização familiar, dilacerando a estrutura da família tradicional. Não será um vírus avassalador que transformará essa realidade de imediato.

Emmanuel esclarece que “de todas as associações existentes na Terra, excetuando, naturalmente, a Humanidade – nenhuma delas, talvez, é mais importante, em sua função educadora e regenerativa, do que a constituição da família.”(1) Para o Mentor de Chico Xavier, “através do casal, estabelecido na família, funciona o princípio da reencarnação, consoante as Leis Divinas, possibilitando o trabalho executivo dos mais elevados programas de ação do Mundo Espiritual.”(2)

Independentemente da atual forçosa limitação da mobilidade social (quarentena), a rigor, as relações familiais deveriam ser, acima de tudo, de ordem ética. Mas, observa-se nelas uma deterioração emocional profunda e uma complexa malha de desestabilidades morais. A violência contra a mulher chinesa infelizmente não é caso avulso. Em realidade, a violência tem as suas raízes profundas e vigorosas na selva. O homo brutalis (de qualquer cultura) tem as suas atávicas leis: subjugar, humilhar, torturar e matar a mulher.

O pragmatismo das sociedades contemporâneas robotizou o homem, o que vale dizer que o esvaziou no plano moral. Vejamos: O mesmo indivíduo que se prostra diante das imagens frias dos altares, nos templos suntuosos, volta ao seu posto de autoridade doméstica para ordenar torturas canibalescas. O homem contemporâneo vive atormentado pelo medo, com o tal inóxio coronavírus que o assombra, uma vez submetido às contingências da vida atual, de insegurança e de incertezas, resultando em transtornos graves da mente, pela angústia dissolvente da própria individualidade.

Pior que o COVID-19 a selvajaria familiar tem eclipsado, assombrosamente, o logradouro para Deus. Há os que condenam a violência alheia, mas, no entanto, no dia-a-dia, ao invés de agirem de forma pacífica e fraterna, são quais fantoches, revidando com a mesma moeda as agressividades sofridas. Existem aqueles casais que dizem viver um amor recíproco e, no entanto, quando há qualquer improviso e/ou desentendimento entre eles, são extremamente agressivos um com o outro.

Há os que veem no cônjuge um verdadeiro teste de paciência, pois os seus “santos” não se “cruzam”. Mais ainda, quando o assunto são os filhos, há pais que dizem adorar todos eles, mas os consideram espíritos imaturos, que dão muito trabalho e, não raro, desgostos. A vida em família para muitos, nessas condições de quarentena, transforma-se em verdadeiro tormento.

Na verdade, se não nos tolerarmos hoje em plena quarentena, como será o amanhã? As leis da vida exigem, segundo nos ensinou Jesus, que nos entendamos com os nossos irmãos de penosa convivência enquanto estivermos a caminho com eles. A fuga aos deveres atuais será amortizada mais tarde com os juros devidos.

Há um tipo de violência que muitos não damos atenção: é a que está fincada dentro de cada um de nós. Violência íntima, que alguns alimentam, diariamente, concedendo que ela se torne animal voraz. É o ato de indiferença que um elege para apunhalar o outro no relacionamento doméstico, estabelecendo silêncios macabros às interrogações afetuosas. São os cônjuges que, entre si, pactuam com a mudez, como símbolo do desconforto por viverem, um ao lado do outro, como algemados sem remissão.

A violência de fora pode nos alcançar, ferir-nos e, até mesmo, magoar-nos profundamente, mas, a violência do coração (interna), silenciosa, que certas pessoas aplicam todos os dias, em seus relacionamentos, é muito mais perniciosa e destruidora. A paz do mundo começa sob o teto a que nos albergamos. “Se não aprendemos a viver em paz, entre quatro paredes, como aguardar a harmonia das nações?"(3)

O Espiritismo explica que “os que encarnam numa família, podem ser Espíritos simpáticos, ligados por anteriores relações, que se expressam por uma afeição recíproca na vida terrena. Mas, também pode acontecer sejam completamente estranhos uns aos outros esses Espíritos, afastados entre si por antipatias igualmente anteriores, que se traduzem na Terra por um mútuo antagonismo, que aí lhes serve de provação."(4)

A família, para determinadas religiões e sociedades, é algo indissolúvel. Tempos atrás, a manutenção dessas famílias era, somente, para manter aparências de respeito e felicidade. Hoje, observam-se famílias se desfazendo por trivialidades. O que é o ideal? A família de “porta-retratos” ou a família que se dissolve na primeira “tempestade moral”?

Cremos que o Centro Espírita pode dimensionar os serviços de suporte à família atual, mas não de forma isolada. Precisa a Casa Espírita integrar suas ações com outras instituições, tanto de caráter religioso como social, na busca da melhor qualidade do atendimento individual e coletivo, naturalmente, sem perder sua identidade doutrinária, mas, objetivando o resgate da ordem moral, que deve alicerçar a família como espaço de convivência.

Notemos que “o estudo do Evangelho no lar” é uma forma de reunir a família em torno de um objetivo comum. “A comunhão familiar, onde todos conversam, trocam ideias, falam de seus problemas, comentam suas atividades à luz dos ensinamentos de Jesus, representa o mais eficiente estímulo para o estreitamento das ligações afetivas, transformando o lar em porto de segurança e paz, com garantia de equilíbrio e alegria para todos."(5)

É imprescindível praticarmos os Ensinos de Jesus no lar, contribuindo com a parcela de mansidão para pacificá-lo. O homem moderno ainda não percebeu que somente a experiência do Evangelho pode estabelecer as bases da concórdia, da fraternidade e constituir os antídotos eficazes para minimizar a violência que, ainda, avassala o ninho doméstico e deságua na sociedade.

Portanto, mesmo num ambiente familiar momentaneamente conturbado pelo confinamento, onde existe a evidente reunião de Espíritos não afinados, se for instituído o estudo de Evangelho nesse lar, esse “(…) produzirá sinais evidentes de paz, e aqueles que antes experimentavam repulsa pelo ajuntamento doméstico descobrem sintomas de identificação, necessidade de auxílio mútuo."(6)

Pensemos nisso.

Referências bibliográficas:

(1) XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1972;

(2) XAVIER, Francisco Cândido. Vida e Sexo, ditado pelo espírito Emmanuel, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 1972;

(3) XAVIER, Francisco Cândido. Jesus No Lar, ditado pelo Espírito Néio Lucio, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001;

(4) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo, Rio de Janeiro: Ed. FEB, 2001, cap. XIV;

(5) SIMONETTI, Richard. Temas de Hoje, Problemas de Sempre, São Paulo: Ed. Correio Fraterno, 1990;

(6) FRANCO, Divaldo Pereira. Florações Evangélicas, ditado pelo Espírito Joanna de Ângelis, Salvador: Ed. LEAL, 1987, cap.3.

  • Jorge Hessen é natural do Rio de Janeiro, nascido em 18/08/1951. Servidor público federal aposentado do INMETRO. Licenciado em Estudos Sociais e Bacharel em História. Escritor (vinte e seis livros “eletrônicos” publicados). Jornalista e Articulista com vários artigos publicados.