Um resiliente canguru-cinzento-oriental e a cria fitam a câmara de Jo-Anne McArthur, no meio de uma plantação de eucaliptos queimados. “A imagem de esperança”, um símbolo do regresso da vida selvagem depois dos fogos florestais que devastaram a Austrália em 2019 e 2020, valeu à fotojornalista e activista pelos direitos dos animais o grande prémio do BigPicture.
O concurso de fotografia de vida selvagem premeia há oito anos os fotógrafos amadores e profissionais que “celebram e ilustram a rica diversidade da vida na Terra e inspiram acções para a proteger e conservar através do poder das imagens”.
Estima-se que quase três mil milhões de animais nativos da Austrália pereceram ou foram deslocados nos incêndios florestais, uma das ameaças à vida selvagem entre as imagens em exposição na California Academy of Sciences. A poluição marinha, que ganha a forma de uma máscara descartável, as alterações climáticas e a caça também surgem representadas no concurso que distribui 12 mil euros pelos vencedores.
“Penso que esta imagem é emblemática desta época da História e das crises ecológicas que todos enfrentamos a nível mundial”, escreveu McArthur, no Instagram, depois de ser anunciada como grande vencedora. “Quando digo todos, refiro-me a cada uma das espécies, tanto selvagens como domésticas. Quando os animais que fotografo olham para mim, estão a olhar para todos nós através das minhas imagens. Desde os porcos na caixa de gestação, aos primatas utilizados para a investigação, e aos animais selvagens como esta mamã canguru, eles parecem estar a fazer-me, a todos nós, as mesmas perguntas: O que é que estás a fazer? O que é que fizeram? O que se segue?”
Notícia publicada no Publico.pt em 12 de junho de 2021
É no majestoso livro da natureza que lemos com maior plenitude as leis divinas e nos aproximamos de modo mais significativo da ideia de equilíbrio e de renovação, presente em todas as obras da Criação. Deus está ali exposto e nos convoca à Sua apreciação.
Mas como conciliar essa convicção com as dificuldades a todo o momento comentadas e vivenciadas, por exemplo, em torno da atual pandemia, das alterações climáticas, da esperança que parece tão frágil?
As respostas também ali estão, matizadas nos seres que nos servem de exemplo de superação constante e prosseguem a sua marcha, apesar dos percalços que lhe são impostos nas páginas da vida.
Através deles, que vivem, subordinados ao instinto que os guia, a mais pura versão de si mesmos, somos capazes de compreender a lei do destino no real sentido dos deveres que a ele nos ligam. Suas vidas são o resumo de tudo o que a Humanidade precisa compreender para se orientar no seu caminho, para ajuizar sobre o valor da própria vida que não deve ser avaliada de forma leviana, mas como um estágio do qual depende a sua ascensão evolutiva, uma grande e perene obra de edificação e progresso, dirigida por leis veneráveis de justiça e amor.
Assim nos fala Léon Denis, o Apóstolo do Espiritismo, em seu livro “O Grande Enigma”: “Não procures Deus nos templos de pedra e de mármore, ó homem que o queres conhecer, e sim no templo eterno da Natureza, no espetáculo dos mundos a percorrer o Infinito, nos esplendores da vida que se expande em sua superfície, na vista dos horizontes variados: planícies, vales, montanhas e mares que a tua morada terrestre te oferece. Por toda parte, à luz brilhante do dia ou sob o manto constelado das noites, à margem dos oceanos tumultuosos, e assim na solidão das florestas, se te sabes recolher, ouvirás as vozes da Natureza e os sutis ensinamentos que murmura ao ouvido daqueles que frequentam suas solidões e estudam seus mistérios.”
Se tal perfeição implica um Ser supremo, com atributos infinitamente perfeitos, somos levados a conceber o axioma que diz que todo efeito tem uma causa equivalente.
Partindo dessas concepções, e considerando Deus como “a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas ” (Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”), a Doutrina Espírita nos concita a profundas reflexões, acerca de quem somos e do papel que desempenhamos no mundo. Todas as consequências morais daí advindas acendem em nós o senso de responsabilidade, pois nos assumimos como artífices das nossas próprias ações e senhores dos nossos destinos, enquanto seres individuais e coletivos.
Percebemos, com a segurança de compreender e não apenas de acreditar, que a lei de solidariedade estende-se a todos os seres e a todos os mundos, demandando respeito mútuo. Essa mesma lei não nos deixa inertes diante do sofrimento alheio, gera afeto e piedade, chama-nos à ação no Bem.
Segundo o artigo, o objetivo do concurso fotográfico é inspirar “ações para a proteger e conservar através do poder das imagens” . Do mesmo modo atua a fé espírita, que une todos os seres no mesmo amplexo celeste, entre certezas de superação, fraternidade e igualdade universais.
*Mabel Perito Velez é formada em administração e colabora com o espiritismo.net.