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Da luta contra a infertilidade à conquista da independência e da felicidade plena: Ana desafia preconceitos, supera traumas e constrói uma vida repleta de realizações pessoais, após retirada do útero, mostrando que a maternidade não define sua identidade. Alessandra, com colaboração de Renata, comenta

  • Data :18/02/2024
  • Categoria :

‘Não presta como mulher’: a superação de estigma após retirada do útero

• Priscila Carvalho
• Role,De Cartagena (Colômbia) para a BBC News Brasil
• 12 maio 2023

Quando a enfermeira Ana Regina do Espírito Santo tinha 29 anos, sentiu sintomas estranhos na barriga. “Parecia que tinha algo pulando dentro de mim, dentro do meu útero, mas eu não estava grávida”, relembra ela, hoje aposentada, à BBC News Brasil.
Ao consultar médicos, recebeu o diagnóstico de miomas no útero. Outras mulheres de sua família, incluindo tias e a mãe, já tinham sofrido com miomas, câncer e precisaram fazer cirurgia para retirada do órgão. Dessa forma, evitaram o surgimento de outras doenças ou agravamento do quadro de saúde.
“Tenho histórico familiar. Minhas tias já tiveram miomas e minha avó teve câncer no útero. Então, pensei na minha saúde em primeiro lugar”, diz.
Depois de alguns exames, a médica confirmou que seria necessário fazer um procedimento cirúrgico, que também é conhecido como histerectomia — remoção total ou parcial do útero, normalmente associada à retirada das trompas.

Útero pesava um quilo

Ana acabou realizando a cirurgia, mas o problema no órgão estava mais avançado do que os médicos imaginavam.
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A íntegra da matéria pode ser acessada em: https://www.bbc.com/portuguese/articles/ce7ggpx8zg9o

O comentário a seguir é de Alessandra com colaboração da Renata

A matéria publicada pela BBC News Brasil, apresenta uma gama de temas tão profundos e abrangentes que procuramos neste trabalho colaborativo, abordar e relacionar com um maior profundidade a preciosa lição de vida do relato de uma mulher que superou estigmas, preconceitos e, sobretudo, a si mesma para ir ao encontro da paz relativa que todos nós podemos ter neste planeta. A história descrita na reportagem nos traz reflexões filosóficas que podem ser aprofundadas sob a ótica da Doutrina Espírita.

Ler e reler esse exemplo de vida nos conecta com a superação, aceitação, compreensão, caridade, autoconhecimento e principalmente o Amor por si mesma.
Como mulher, é impossível não estabelecer uma visão empática do sofrimento que esse espírito passou, desencadeado por uma enfermidade que se repetia em muitas gerações de sua família, seguido do sofrimento, não só da dor física, mas da dor emocional associada ao prejuízo moral e preconceituoso.

Em um primeiro momento, é preciso nos perguntar quantos de nós somos afligidos pelos estigmas da sociedade? Em outras palavras, o quanto ainda somos afetados, de maneira negativa, pela expectativa do mundo sobre nós, no âmbito dos padrões materialistas definidores do que é a felicidade? As mulheres lançam-se, nessa corrida desenfreada, certamente em prejuízo, tendo em vista a desigualdade pertinaz entre os gêneros masculino e feminino, típicos da sociedade patriarcal. Porém, antes de nos adentrarmos sobre a questão da mulher em si, é preciso voltarmos à questão da felicidade, partindo de um postulado sublime do livro Eclesiastes, aprofundado por Jesus e que ainda é mal compreendido. Trata-se do ensinamento: “a felicidade não é deste mundo”. Mas o que isto significa? Será que esta afirmativa do Cristo evidencia que a Terra é um lugar no qual não se pode atingir uma felicidade real ou que as coisas que nos acontecem neste planeta são um convite para a entrega à tristeza profunda? Deveríamos, então, pensar que o que restaria à nossa irmã da reportagem acima, seria se entregar ao desânimo no momento em que se viu acometida pela doença uterina e pelo estigma de não ter mais o útero, órgão feminino responsável pela reprodução de outro ser?

Como bem demonstram os espíritos em o Evangelho Segundo o Espiritismo, se as coisas do mundo, como riqueza, poder e juventude fossem critérios para a felicidade, por que “se ouvem, no seio das classes mais privilegiadas, pessoas de todas as idades se queixarem amargamente da situação em que se encontram”?

Isso demonstra, que o excerto “a felicidade não é deste mundo”, dá a entender que não encontraremos no materialismo e nos padrões deste mundo a felicidade que tanto almejamos. Tal assertiva faz sentido, em um primeiro momento, quando exercitamos a fé raciocinada, por meio da qual, compreendemos que somos em essência individualidades imortais, e antes de encarnarmos neste mundo, com um corpo material, somos Espíritos, isto é, de acordo com o Livro dos Espíritos, somos “os seres inteligentes da criação” e povoamos “o Universo, fora do mundo material”. Filosoficamente, podemos fazer uma analogia com um dizer muito sublime do escritor José Saramago, quando enunciou que “é preciso sair da ilha para ver a ilha. Não nos vemos se não saímos de nós”. Em outras palavras, a questão da dor e da felicidade está para além da nossa pequena ilha, chamada Terra, e só a compreenderemos se sairmos de nós mesmos, enquanto seres puramente materiais. Além disso, o Espiritismo nos convida à compreensão de que viemos a esse planeta, possivelmente, por diversas vezes (pelo fenômeno da reencarnação) e aqui pudemos contrair débitos e somar virtudes que serão “contabilizadas” nas nossas vivências futuras. A justiça divina funciona nesta equação, “a cada um segundo suas obras”, embora seja ela sempre misericordiosa e cheia de amor, pois é fonte direta daquele que nos criou e chamamos de Deus.

Dessa forma, ao exercitamos esta fé aliada à razão, vamos entender que podemos criar projetos maduros de felicidade que não acabarão com nosso corpo sob o túmulo e não serão consolidados à toque de mágica pelas alegrias fugazes do mundo em uma existência apenas. A despeito de ser importante somarmos alegrias com as pequenas ou grandes vitórias materiais e por meio dos momentos que partilhamos com aqueles que amamos em nossa presente encarnação, é fundamental entendermos, como nos indicou a benfeitora Joanna de Ângelis, que a felicidade é conquista íntima. “Todos os que se encontram na Terra, nascidos em berços de ouro ou de palha, homenageados ou desprezados, belos ou feios, são feitos do mesmo barro frágil de carne, e experimentam, de uma ou de outra forma, vicissitudes, decepções, doenças e desconforto. Ninguém, no mundo terreno, vive em regime especial. O que parece, não excede a imagem, a ilusão”.

A partir desse entendimento, a questão do enfrentamento de nossas dores no mundo e a conquista da paz e da felicidade fica mais nítida. A reportagem sobre a trajetória desta irmã nos ensina que, durante nossa jornada na Terra, a busca pelo autoconhecimento aliado à fé raciocinada traz como consequência aquilo que é imprescindível para a conquista da felicidade em nós: o encontro com o autoamor, isto é, quando efetivamente amamos a nós mesmos.

Como bem afirma o benfeitor Emmanuel, pela psicografia de Chico Xavier, “quem se aceita como é, doando de si à vida o melhor que tem, caminha mais facilmente para ser feliz como espera ser”. Emmanuel nos convida ao estudo de nós mesmos o que nos levará a observar “que o autoconhecimento traz humildade e sem humildade é impossível ser feliz”. No mesmo caminho, a benfeitora Joanna de Ângelis, pela psicografia de Divaldo Franco, afirma que a experiência do autodescobrimento faculta a nós mesmos “identificar os limites e as dependências, as aspirações verdadeiras e as falsas, os embustes do ego e as imposturas da ilusão”.

Com efeito, a felicidade na Terra, está na busca pelo bem-estar interior, cujo caminho requer alguns requisitos: “o desejo sincero de mudança; a persistência nessa tentativa; a disposição para aceitar-se e vencer-se e a capacidade para crescer emocionalmente”. Sem esta reflexão profunda ou apenas por comodidade, ainda segundo Joanna de Ângelis, “a maioria das pessoas aceita e submete-se ao que poderia mudar a benefício próprio, autopunindo-se, e acreditando merecer o sofrimento e a infelicidade com que se vê a braços, quando o propósito da Divindade para com as suas criaturas é a plenitude, é a perfeição.” De fato, a Terra é ainda um mundo de provas e expiações, o que nos leva a crer que ainda estamos suscetíveis a vivências de obstáculos variados, como doenças, o luto, as incompreensões de toda sorte nas nossas relações sociais e familiares, o abandono, entre outros. Por outro lado, a conquista do autoamor nos faculta a oportunidade de fazer escolhas conscientes como uma resposta madura a esses eventos, levando-nos a ressignificá-los, transformando-os em oportunidade de crescimento. Afinal, “as ocorrências de dor são experiências para as de saúde e de paz. A felicidade não são coisas: é um estado interno, uma emoção”.

Quando bem compreendidas essas noções mais amplas de felicidade, é possível entender que os estigmas associados às questões de gênero, por exemplo, são criações infelizes dos homens e que passarão, como passam as legislações mundanas que ficarão caducas com o progresso da humanidade e impedem a plena igualdade e liberdade dos indivíduos. Hoje, podemos atestar com entusiasmo, que as mulheres já conquistaram tal espaço de luta por direitos na sociedade que a redução da mulher às suas funções biológicas está ultrapassada, ao menos a nível de debate social e político, o que denota o progresso real da humanidade que tem se efetivado no âmbito da questão de gênero.

Embora ainda haja muito o que se conquistar nesse campo, o encontro com o autoamor e a fé raciocinada oferece às mulheres, por exemplo, instrumentos para que possam redirecionar esses ataques e preconceitos, sendo até mesmo possível sentir compaixão pela ignorância das leis humanas que não entenderam a sublimidade da existência dos gêneros e seus reais papeis nas reencarnações sucessivas. Ademais, o Espiritismo nos dá a chave para o enfrentamento definitivo dessa questão, nas questões 817 a 822 de “O Livro dos Espíritos”, ao demonstrar que para além da fundamental necessidade de se consagrar a igualdade entre homens e mulheres, os chamados “sexos feminino e masculino” só existem na organização física. Visto que os Espíritos podem encarnar num e noutro, sob esse aspecto nenhuma diferença há entre eles.

Chegando ao final da reportagem e de nossa narrativa, nos emocionamos com a capacidade de superação e evolução individual desta mulher que torna-se exemplo de coragem, de superação do medo, de estigmas sociais, da dor e transforma todos esses sentimentos em aprendizado. Joanna de Ângelis , espírito, define a coragem como: “Coragem é mais que destemor ante perigos, é a conquista da autoconsciência que faculta a segurança nas possibilidades e nos meios valiosos de prosseguir na conquista de si mesmo” . (o livro:“Conflitos espirituais” por psicografia de Divaldo Franco pelo espírito de Joanna de Ângelis.). Para valorizarmos a vida, as dificuldades que nos apresentam, se necessita coragem, não para recebermos prêmios ou condecorações, mas para nos superarmos e nos conhecermos, e além de tudo nos aceitarmos como seres finitos, imperfeitos e em constante aprendizado, capazes de ver no outro essa mesma condição.

“Quem avança monte acima, pisa pedregulhos que ferem os pés, mas também flores miúdas e verdejante relva, que teimam em nascer ali colocando beleza no chão. Reúne essas florezinhas em um ramalhete, toma das pedras pequeninas fazendo colares, e descobrirás que, para a criatura ser feliz, basta amar e saber discernir, nas coisas e nos sucessos da marcha, a vontade de Deus e as necessidades para a evolução”. (Joanna de Ângelis- Psicografia de Divaldo Franco- Livro “Momentos enriquecedores” – Capítulo 16).

  • Alessandra e Renata, são espírtas e colaboradoras do Espiritiso.net