É bem provável que todo mundo, em algum momento da vida, teve a curiosidade de saber se é possível se comunicar com os mortos usando brincadeiras como a do compasso, do copo ou a tábua de Ouija.
A dinâmica deles é basicamente a mesma: os participantes fazem uma pergunta em voz alta ao “espírito”, que responde movendo o copo, o compasso ou qualquer outro indicador móvel usando as letras do alfabeto, números de 0 a 9 ou palavras “sim” ou “não” escritas a mão ou impressas em uma tábua de madeira (no caso da Ouija).
A explicação mais provável para as possíveis “respostas” está muito longe de ser um espírito tentando se comunicar: quem move o compasso, copo ou outro indicador é, na verdade, o efeito ideomotor.
O naturalista William Benjamin Carpenter foi quem falou pela primeira vez sobre o efeito ideomotor, em 1852. Segundo ele, nosso corpo, quando sugestionado, pode fazer movimentos involuntários e inconscientes. O termo vem da junção de “ideo” (ideia ou representação mental) e “motor” (que significa “ação muscular”).
Assim, quando colocamos o dedo indicador sobre o copo e ele começa a se mover, por exemplo, quem o direciona somos nós mesmos, mesmo sem saber. De acordo com alguns estudos, o efeito ideomotor é maximizado quando você passa a ter certeza que não é o responsável pelo movimento. É por isso que brincar disso em grupo é mais emocionante.
Para quem entende do assunto, o que mais “assusta” nos tabuleiros não são nem os fantasmas, mas a capacidade de nosso cérebro de nos enganar a todo momento. A nossa mente é tão poderosa que é capaz até de criar uma ilusão coletiva. É por isso que todos na mesa conseguem “ver” a mesma coisa.
“O cérebro não tem um esquema fixo de funcionamento. A mesma célula que participa do movimento, também participa do pensamento. Vamos usar como exemplo o ato de tocar na tela de um celular. Antes de fazer o movimento, seu cérebro já esquematizou tudo o que vai acontecer”, explica Arthur Oscar Schelp, neurologista e professor da Faculdade de Medicina da Unesp (Universidade Estadual Paulista).
Para ele, nesse tipo de jogo, o cérebro passa a definir qual será a estratégia futura (ou seja, a resposta no tabuleiro), levando em conta o ambiente em que a pessoa está e suas vivências. E nós mesmo executamos essa estratégia.
Gisele Calia, neuropsicóloga da Divisão de Neurocirurgia do IPq (Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas), acrescenta que a capacidade do cérebro de criar outras realidades também pode contribuir para a ilusão de que são espíritos que falam.
Quem acredita no poder do copo, compasso ou da tábua de Ouija de relevar o que os mortos têm a dizer tem como argumento que espíritos podem influenciar os tais movimentos involuntários feitos pelo participantes que for sensível a isso.
As primeiras versões da tábua de Ouija como se conhece hoje — que nada mais é do que a “prima rica” da brincadeira do copo e do compasso — apareceram na Europa há 1600 anos, apesar de uma variante dela ter sido encontrada em documentos históricos da China em 1.100 d.C.
Ninguém sabe ao certo o que significa o nome Ouija e como ele surgiu. Há quem diga que ele foi indicado pela própria tábua.
Pelo Ocidente, ela ficou famosa entre os anos de 1890 e 1920. A patente do novo jogo foi dada a Elijah J. Bond, em 1891, mas foi o empresário William Fuld que fabricou milhares de peças nos Estados Unidos, apostou no marketing e popularizou o tabuleiro.
A tábua Ouija passou a ser conhecida por sua capacidade de “responder a qualquer pergunta”. Resultado? A empresa lucrou mais de um milhão de dólares com o produto.
Há também várias histórias envolvendo supostas possessões demoníacas ou de espíritos maus ocorridas durante o uso do tabuleiro, um prato cheio para a cultura pop, que já produziu livros e filmes de terror baseados na brincadeira.
A ação do efeito ideomotor é tão intrigante que há vários estudos que usam esse fenômeno para explicar outras questões da natureza humana. No início da década passada, por exemplo, pesquisadores da University British Columbia, no Canadá, usaram o princípio de funcionamento da tábua Ouija para testar a inteligência humana.
No experimento, alguns indivíduos utilizam a tábua de Ouija para responder algumas perguntas, que nada têm a ver com o mundo dos mortos.
Segundo Docky Duncan, um dos pesquisadores do projeto, a maioria das pessoas consegue responder corretamente duas de cada três perguntas feitas quando estão no tabuleiro.
“Se perguntarmos aleatoriamente qual é a capital do Camboja, eles podem dizer que não têm nenhuma ideia. Mas quando fazemos a mesma pergunta e os jogadores utilizam a tábua para a resposta, eles podem acessar esse conhecimento de maneira inconsciente e encontrar a resposta que está escondida em algum lugar do seu cérebro”, diz.
Notícia publicada no Tilt uol em 05 de junho de 2021
Segundo a notícia, as comunicações obtidas em tabuleiros ouija e “jogos do copo” seriam resultado do efeito ideomotor, isto é, de movimentos corporais involuntários produzidos pelo pensamento sugestionado da própria pessoa, de modo que a comunicação com os Espíritos não seria mais do que fruto do imaginário popular.
Embora possamos admitir o efeito ideomotor em algumas situações, não há como essa teoria representar uma explicação convincente para o fenômeno, principalmente quando consideramos todas as suas características.
E essa é uma discussão antiga… o efeito ideomotor começou a ser estudado no século XIX e foi utilizado para explicar o fenômeno das “mesas girantes” que na década de 1850 se tornara um modismo febril na Europa. Na época, as pessoas se reuniam para observar mesas comuns que, ao toque das mãos dos presentes, movimentavam-se como se ganhassem vida, produzindo respostas através de códigos criados para este fim – por exemplo, uma batida significava “sim”, duas batidas “não”.
Mas, para muitos cientistas que presenciavam o fenômeno, essa teoria mostrava-se incapaz de explicar os fatos; essa era a opinião, por exemplo, do ilustre Alfred Russel Wallace, cofundador da Teoria da Evolução, com Charles Darwin, que participou de várias sessões das mesas girantes, chegando a declarar que “há um poder obscuro revelado pelos corpos das pessoas, quando se coloca as mãos sobre uma mesa e nos conectamos através dela “.I
Na mesma época, Hippolyte Léon Denizard Rivail, influente educador francês, bacharel em Ciências e Letras pela Escola de Pestalozzi, na Suíça, de quem foi discípulo, ao assistir uma sessão das mesas girantes, observando os impressionantes movimentos e que as respostas não eram aleatórias, mas coerentes com as perguntas formuladas, decidiu investigar o fato, considerando a premissa de que se “Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente ”.
Sua cuidadosa pesquisa trouxe ao mundo revelações belíssimas e profundas que descortinavam os segredos da Vida e da existência humana, sendo publicadas, em 1857, na obra “O Livro dos Espíritos”, quando usou o pseudônimo de Allan Kardec.
Suas pesquisas prosseguiram e outras célebres obras foram publicadas, como “O livro dos médiuns”, onde Kardec trouxe um estudo profundo a respeito da ação dos Espíritos sobre a matéria, detalhando como o movimento das mesas – e de outros objetos – pode ser produzido por desencarnados.II
Através de Kardec e de seu método científico, os Espíritos Superiores apresentaram ideias muito além das possibilidades do conhecimento humano da época e que, ainda hoje, mesmo diante dos impressionantes avanços do último século e meio, a Ciência não conseguiu refutar, ao contrário: muitas revelações espíritas foram ratificadas e, certamente, muitas outras ainda serão.
Ainda assim, não foram poucos os opositores de Allan Kardec, como, ainda hoje, não são poucos os opositores do Espiritismo. Nesse contexto, voltemos ao efeito ideomotor: se os movimentos das mesas girantes ou dos objetos fossem provocados pelo pensamento sugestionado dos participantes, seria necessário que todos partilhassem da mesma sugestão, para produzir a* mesma* resposta… Mas, seria assim, tão simples, encontrar as mesmas *ideias, * instantaneamente, entre pessoas diferentes? E como seria possível que fossem sugestionadas por ideias cheias de elementos desconhecidos para elas?
Vejamos… algum tempo depois, os fenômenos com as mesas girantes caíram no esquecimento do grande público, mas Kardec prosseguiu suas pesquisas estudando as comunicações que recebia daqueles que passaram a ser chamados de médiuns.
A mensagens vinham de vários locais do mundo e que revelavam um conhecimento muito superior as possibilidades dos médiuns! Como poderiam, diferentes pessoas, que mal se conheciam, idealizar as mesmas respostas e se sugestionarem com ideias que tratavam de modo inédito e profundo de temas como Universo, leis naturais, Deus… Que falavam da dor, da felicidade, dos Destinos Humanos?
Mesmo diante desses fatos, Allan Kardec era confrontado por céticos que atribuíam ao poder da sugestão ou aos próprios médiuns a elaboração das comunicações. Assim, em O Livro dos Médiuns, apresentou a seguinte mensagem que recebera e que atestava, de modo irrefutável, a presença dos Espíritos por trás das manifestações:
“Num navio da marinha imperial francesa, estacionado nos mares da China, toda a equipagem, desde os marinheiros até o estado-maior, se ocupava em fazer que as mesas falassem. Tiveram a ideia de evocar o Espírito de um tenente que pertencera à guarnição do mesmo navio e que morrera havia dois anos. O Espírito veio e, depois de várias comunicações que a todos encheram de espanto, disse o que segue, por meio de pancadas: “Peço-vos instantemente que mandeis pagar ao capitão a soma de… (indicava a cifra), que lhe devo e que lamento não ter podido restituir-lhe antes de minha morte.” Ninguém conhecia o fato: o próprio capitão esquecera esse débito, aliás mínimo. Mas, procurando nas suas contas, encontrou uma nota da dívida do tenente, de importância exatamente idêntica à que o Espírito indicara. Perguntamos: do pensamento de quem podia essa indicação ser o reflexo?
A pergunta ainda permanece sem resposta. E, a essa comunicação, soma-se diversas outras recebidas por médiuns como Chico Xavier que atestam a existência dos Espíritos e a possibilidade de se comunicarem, contando fatos que eram apenas de seu conhecimento, provando a continuidade da Vida após a morte do corpo físico, com as mesmas lembranças, conhecimentos e suas conquistas morais – aqueles tesouros que “nem a traça, nem a ferrugem consomem” como Jesus ensinou III .
Assim, esclarecida a possibilidade de os Espíritos se comunicarem e de produzirem movimento em mesas e objetos como copos e compassos de tabuleiros ouija, é preciso advertir quanto aos riscos que estas práticas expõem quem as realiza.
Isso porque, se o Espírito continua vivo com a mesma bagagem mental que tinha enquanto encarnado, é justo considerar que aqueles que cultivaram o bem, continuam fazendo o bem, mas o inverso também é verdadeiro: aqueles que alimentaram ideias infelizes, que foram ociosos ou se compraziam na maldade, prosseguirão, assim, após o seu desencarne, até que lhes soe o momento da mudança.
E esses Espíritos infelizes podem comparecer nessas brincadeiras, sendo, aliás, lógico considerar que a sua presença é mais provável do que a de Espíritos Superiores, que não se dão a jogos ou práticas sem objetivos elevados.
As manifestações espíritas, ocorridas na época de Kardec, foram conduzidas por Benfeitores Espirituais elevadíssimos com o objetivo de chamar a atenção da Humanidade para a Vida Espiritual. Uma vez conhecida essa realidade, os Espíritos Superiores passaram a trabalhar, incessantemente, em comunicações que visam o aprimoramento moral do ser humano.
Nesse sentido, Allan Kardec escreveu no primeiro número da Revista da Sociedade Espírita de Paris, em 1858 IV : “Poucos anos se passaram desde o surgimento dos primeiros fenômenos, e já estamos longe da época das mesas girantes e falantes, que foram suas manifestações iniciais. Hoje, é uma ciência que revela todo um mundo de mistérios, tornando patentes as verdades eternas que apenas pelo nosso espírito eram pressentidas; é uma doutrina sublime, que mostra ao homem o caminho do dever, abrindo o mais vasto campo até então jamais apresentado à observação filosófica. ”
Por isso, reforçamos: não realizem essas brincadeiras e jogos, que expõem seus praticantes ao risco de estabelecer vínculos com Espíritos infelizes e, pior: se o encarnado for médium, podem provocar sérios desequilíbrios em face do exercício da faculdade mediúnica sem conhecimento e sem a proteção que somente tem as reuniões sérias.
Vale esclarecer que a mediunidade exercida com propósitos elevados, sem a busca da satisfação de interesses pessoais, mas, com o objetivo de auxiliar, gratuitamente, ao próximo, de acordo com o Amor que Jesus ensinou, atrai a proteção e a orientação dos Espíritos Superiores e torna-se um meio de grande aprendizado e alegria, mas que requer estudo, disciplina e dedicação do médium.
Relembremos a lição de Kardec, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no item 9, do capítulo Coletânea de preces espíritas, “Para os Médiuns”:
“Os Espíritos vêm instruir o homem sobre seus destinos, a fim de o reconduzirem à senda do bem, e não para o pouparem ao trabalho material que lhe cumpre executar neste mundo, tendo por meta o seu adiantamento, nem para lhe favorecerem a ambição e a cupidez. Aí têm os médiuns o de que devem compenetrar-se bem, para não fazer mau uso de suas faculdades. Aquele que, médium, compreende a gravidade do mandato de que se acha investido, religiosamente o desempenha. Sua consciência lhe profligaria, como ato sacrílego, utilizar por divertimento e distração, para si ou para os outros, faculdades que lhe são concedidas para fins sobremaneira sérios e que o põem em comunicação com os seres de além-túmulo.”
Então, não nos esqueçamos: nas obras de Kardec e na literatura espírita idônea, produzida por médiuns como Chico Xavier, Yovonne do Amaral Pereira, Divaldo Franco e outros, encontraremos respostas para todas as nossas dúvidas e todas as nossas dores – e essas respostas são aquelas que, realmente, precisamos para caminhar com coragem, fé, caridade e amor, e conquistarmos a Felicidade que almejamos.
*Fabiana Shcaira Zoboli é espírita e colaboradora do Espiritismo.net
Fonte:
I
https://pt.wikipedia.org/wiki/Efeito_ideomotor#Experimentos_envolvendo_o_efeito_ideomotor
II Você pode conferir as obras de Allan Kardec, no link https://www.espiritismo.net/literatura-espirita
III Mateus 6:20.
IV Revista Espírita, ano I, Janeiro de 1858, nº 1/Introdução.