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  • Por que fazer elogio é bom para quem o faz – mesmo que ele não saiba

Só há relativamente pouco tempo é que os psicólogos passaram a prestar mais atenção aos elogios, com a maior parte das primeiras pesquisas analisando seu potencial persuasivo. Em um estudo memorável de 2010, Naomi Grant, professora associada de psicologia na Mount Royal University em Calgary, no Canadá, convidou os participantes a participar de um estudo sobre ‘formação de impressões’. Alessandra Belo comenta.

  • Data :10/01/2022
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“A feliz elaboração de um elogio”, observou certa vez o escritor americano Mark Twain, “é um dos mais raros dons humanos, e a feliz expressão deste, é outro.”

Twain estava descrevendo um encontro com o imperador da Alemanha, que havia elogiado seus livros.

Mas todos nós podemos, sem dúvida, nos identificar com este sentimento: receber elogios sinceros e bem elaborados pode ser tão bom quanto um golpe de sorte inesperado.

Infelizmente, nossa ansiedade em relação a como os outros podem perceber nossas próprias palavras pode nos impedir de fazer elogios.

Afinal, ninguém quer parecer desajeitado, paternalista ou puxa-saco.

“Elogios são a maneira mais fácil de fazer outras pessoas — e, como resultado, nós mesmos — se sentirem melhor”, diz Nicholas Epley, professor de ciência comportamental da Universidade de Chicago, nos EUA.

“Mas quando um pensamento apreciador vem à mente, as pessoas geralmente não expressam.”

Três novos estudos sobre a psicologia de fazer e receber elogios sugerem, no entanto, que nossos temores em relação à maneira como nossos elogios serão recebidos são completamente infundados.

E, ao nos livrarmos desse desconforto, todos nós poderíamos ter um relacionamento melhor com nossos amigos, familiares e colegas.

A regra da reciprocidade

Só há relativamente pouco tempo é que os psicólogos passaram a prestar mais atenção aos elogios, com a maior parte das primeiras pesquisas analisando seu potencial persuasivo.

Em um estudo memorável de 2010, Naomi Grant, professora associada de psicologia na Mount Royal University em Calgary, no Canadá, convidou os participantes a participar de um estudo sobre “formação de impressões”.

Enquanto os participantes preenchiam um questionário um tanto enfadonho, um ator — se passando por um estudante iniciante de psicologia — puxava um papo que envolvia elogiar casualmente as roupas do participante.

Depois de um pouco mais de conversa fiada, o ator mencionava que estavam distribuindo panfletos sobre um evento profissionalizante na universidade e perguntava ao participante se ele gostaria de pegar alguns para distribuir.

Os efeitos do elogio foram dramáticos: 79% dos participantes ofereceram ajuda para divulgar o evento, em comparação com apenas 46% dos participantes de um outro grupo de controle, que não receberam o elogio.

O estudo mais recente de Grant mostra que isso vem de um senso de reciprocidade.

Em geral, quanto mais as pessoas acreditam que uma boa ação merece outra, mais propensas são de acompanharem o elogio com uma ação prestativa.

Em inglês, costumamos dizer que estamos *“paying” someone a compliment * (“pagando” um elogio a alguém, em tradução literal) — e a pesquisa de Grant sugere que geralmente consideramos isso como parte de uma transação.

O senso de reciprocidade também pode explicar por que o feedback positivo pode ser uma ferramenta tão poderosa no ambiente de trabalho.

Um estudo realizado por pesquisadores da empresa de tecnologia Intel e da Duke University, nos EUA, mostrou que elogios verbais eram mais eficazes para aumentar a produtividade do que bônus em dinheiro.

“As pessoas geralmente não percebem que algo tão pequeno pode ter um impacto tão grande”, explica Vanessa Bohns, professora de psicologia social na Universidade Cornell, nos EUA, e autora de You Have More Influence Than You Think (" Você tem mais influência do que pensa", em tradução literal*).*

Benefícios esquecidos

Infelizmente, a própria pesquisa de Bohns mostra que raramente valorizamos o poder de nossas palavras.

Em parceria com Erica Boothby, da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, Bohns pediu aos participantes que fossem a um local designado no campus e fizessem um pequeno elogio a um estranho aleatório.

(Para reduzir possíveis mal-entendidos sobre sua motivação, os participantes foram orientados a abordar alguém do mesmo sexo.)

Para avaliar seus preconceitos, os participantes primeiro tiveram que estimar o quão satisfeita, lisonjeada ou desconfortável a pessoa se sentiria ao receber o elogio.

Depois de fazerem o comentário, eles entregaram ao destinatário do elogio um envelope lacrado contendo um pequeno questionário sobre como o estranho realmente se sentiu em relação à interação.

Após vários experimentos, os pesquisadores descobriram que os participantes subestimaram significativamente o quão feliz a outra pessoa ficaria ao ouvir o elogio, e superestimaram consideravelmente o quão constrangedora seria a situação.

“Eles sentiam que essa interação seria muito esquisita e que seriam meio desajeitados (ao fazer o elogio)”, diz Bohns.

Mas a troca real foi muito mais agradável.

Epley tem analisado ideias semelhantes com Xuan Zhao, psicóloga da Universidade de Stanford, nos EUA — mas, em vez de se concentrar em trocas entre estranhos, eles pediram aos participantes que elogiassem alguém que já conheciam.

Assim como Bohns e Boothby, Epley e Zhao descobriram que os participantes eram consistentemente pessimistas em suas previsões de como seria a interação.

Eles presumiram que seus conhecidos ficariam menos satisfeitos e mais constrangidos do que realmente se sentiram ao receber o elogio.

Investigando mais a fundo, Epley e Zhao descobriram que esses medos pareciam surgir das percepções dos participantes de sua própria “competência” social; eles temiam não articular o elogio corretamente.

“Acontece que o destinatário não dá a mínima para isso”, diz Epley.

“Eles só se importam com o quanto o elogio é bom ou amável.”

(O estudo está aguardando publicação no Journal of Personality and Social Psychology.)

“Trata-se de fazer com que a outra pessoa se sinta percebida”, diz Zhao.

Agenda de elogios

É claro que existe o perigo de você exagerar.

Se você elogiar excessivamente um amigo, parceiro ou colega, ele pode ficar cansado ou até mesmo começar a achar que é um pouco desagradável.

No entanto, pesquisas adicionais de Epley e Zhao sugerem que essa reação também é muito menos provável do que podemos acreditar.

Neste estudo, eles recrutaram novamente pares de participantes que já se conheciam.

Um membro de cada par foi convidado a escrever cinco elogios distintos para seu conhecido.

Os pesquisadores fizeram então estes elogios ao destinatário, aos poucos, ao longo da semana seguinte — um elogio por dia.

De uma maneira geral, o prazer dos destinatários em ouvir os elogios não diminuiu ao longo da semana.

“Eles se sentiam muito bem, todos os dias”, diz Epley.

Se você pretende aplicar esta pesquisa por conta própria, Bohns enfatiza a importância do contexto.

Obviamente, não é apropriado elogiar a aparência de alguém se houver algum risco de você estar objetivando essa pessoa.

“A etiqueta é se ater a elogios que realmente transmitam o valor social de alguém”, diz ela.

Isso pode incluir elogios a uma apresentação ou à maneira como alguém lidou com um cliente difícil.

Se você tem um pensamento que demonstra respeito genuíno por outra pessoa, a mensagem da pesquisa científica é clara: compartilhe.

Ao contrário do aforismo de Twain, você não precisa de nenhum dom raro para mostrar seu apreço pelas melhores qualidades de alguém.

“Não custa nada”, diz Zhao.

“É uma maneira muito eficiente de fazer outras pessoas se sentirem felizes.”

Notícia publicada na BBC News Brasil ,em 27 de Agosto de 2021.

Alessandra Belo* comenta

A reportagem da BBC apresenta resultados científicos acerca das consequências sócio emocionais positivas para as pessoas que recebem um ou mais elogios. A palavra elogio, vem do grego “el” (boa, bela) “logos” (linguagem), isto é quando se produz um discurso positivo/bom a favor de alguém. Se nosso ponto de partida é o significado etimológico da palavra, chegaríamos à conclusão natural de que elogiar alguém só pode ser um ato muito positivo e salutar. No entanto, a questão do elogio, no mundo hodierno, produziu certa confusão sobre seu sentido, uma vez que alguns acreditam que elogiar pode ser constrangedor e inoportuno para quem recebe, ou então, em uma visão voltada para as questões religiosas e morais, o ato de elogiar pode enaltecer egos e alimentar o apreço pelas glórias efêmeras do mundo materialista.

Todavia, o que a reportagem evidenciou por meio de pesquisa científica, é que o elogio se bem compreendido (sem exageros ou motivações deturpadas) tem um valor social considerável, uma vez que produz bem-estar em quem o recebe e o leva a comportamentos de “reciprocidade”, por meio dos quais aquele que recebeu o afago oferece ajuda, produz mais no trabalho, ou cria formas de compensação naturais no meio social, além de simplesmente se sentir mais confortável e feliz. Talvez, para que possamos compreender melhor a positividade do ato de elogiar, seja preciso tentar entender o significado mais profundo desse ato e trabalharmos a compreensão da diferença entre elogiar como estímulo e lisonjear com os aplausos e interesses do mundo.

Possivelmente, o simples ato de elogiar alguém pode ser positivamente compreendido no âmbito da ideia de caridade moral, como vemos em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no capítulo 13, quando os Espíritos nos dizem que a caridade moral “sabe encontrar palavras brandas e afáveis que colocam o beneficiado à vontade em presença do benfeitor”. No mesmo caminho, Joanna de Ângelis, no livro “As Leis Morais da Vida”, conecta o conceito de elogiar a um “estímulo” do qual todos necessitam. Segundo a autora espiritual, é importante “incutir no teu amigo o estímulo de que ele precisa. Um gesto de ternura numa expressão da face em júbilo edificante, mediante a palavra bem dosada com expressões de equilíbrio, […] no amanho do solo dos corações com o arado da caridade, são atestados inequívocos de aplauso nobre”. Chico Xavier, certa feita, também fez comentários alusivos à importância do elogio como um impulso à evolução espiritual. De acordo com médium, “sempre recebi os elogios como incentivos dos amigos para que eu venha a ser o que tenho consciência de que ainda não sou.”

No entanto, a benfeitora Joanna de Ângelis adverte que entre o estímulo sadio e a palavra enganosa medeia uma grande distância. Acredita-se que ela faça referência ao que entendemos por lisonjas com base em interesses escusos, materialistas e sem um propósito edificante de estimular e trazer bem-estar ao ouvinte com palavras que consistem em reconhecimentos reais de suas potencialidades. Fazendo referência a esse tipo de elogio efêmero, o Espírito Emmanuel nos orienta no livro “Pão Nosso”: “se admiras algum companheiro que se categoriza a teus olhos por trabalhador fiel do bem, não o perturbes com palavras, das quais o mundo tem abusado muitas vezes, construindo frases superficiais, no perigoso festim da

lisonja. Ajuda-o, com boa-vontade e entendimento, na execução do ministério que lhe compete, sem te esqueceres de que, acima de todas as bem-aventuranças, brilham os divinos dons daqueles que ouvem a Palavra do Senhor, colocando-a em prática”.

*Alessandra Belo é colaboradora do Espiritismo.net, pós-graduada e professora de História da Rede Municipal de Praia Grande, em SP.