** “Meu filho, meu amor. Não consigo ir dormir sem te dizer que o teu irmão já chegou. Estão bem. Queria tanto saber se tu estavas bem. Amo-vos tanto meus filhos”, escreveu a professora aposentada Assunção Fernandes no Twitter no domingo (06/2).**
A mensagem, assim como outras que ela escreve diariamente, foi direcionada a uma publicação feita no mesmo dia pelo perfil do filho mais velho dela, Pedro Gama.
O rapaz morreu em 2019. Assunção, porém, manteve uma rotina: responder a todas as mensagens compartilhadas diariamente no perfil de Pedro.
A história de mãe e filho ganhou repercussão na quinta-feira (10/2). Um post sobre o caso teve mais de 13 mil curtidas no Twitter e 500 compartilhamentos.
Nas redes, ela agradeceu o carinho que passou a receber. “Fico feliz em saber que há tanta gente solidária e que ainda podemos acreditar no amor”, escreveu a aposentada, de 69 anos, em seu perfil no Twitter.
Pedro era funcionário público em Braga, Portugal, costumava viajar o mundo e gostava de conhecer diferentes culturas. Os amigos o descreviam como uma pessoa alegre e muito solidária.
“Ele sonhava com um mundo sem barreiras. Nunca, desde bem pequeno, admitia as palavras normal ou anormal para classificar as pessoas. Ele dizia que cada indivíduo era diferente e era assim que devíamos aceitar e respeitar”, diz Assunção à BBC News Brasil.
O rapaz costumava ajudar a mãe a mexer em diferentes tecnologias. Ele ensinou, por exemplo, Assunção a usar o Twitter.
“Ele era muito ativo no Instagram, no Facebook e no Twitter. Ele até ia a encontros com pessoas que tinha conhecido no Twitter”, relembra o irmão caçula de Pedro.
Foi justamente nas redes sociais que Pedro viu a chance de continuar, de certa forma, ativo mesmo após morrer. No Twitter, ele recorreu a um bot (robô) para programar diariamente a publicação de emojis. “Acredito que ele fez isso sabendo que continuaria postando coisas mesmo após isso (a morte)”, diz o irmão.
Pedro morreu aos 43 anos, em decorrência de um câncer de cólon (na parte do intestino grosso). Ele havia sido diagnosticado com a doença em 2018. Cerca de um ano depois, o quadro se agravou cada vez mais.
Nas redes, o perfil dele continuou compartilhando publicações diárias com emojis de teleféricos.
A escolha das figuras para essas publicações pode ser explicada por um post de Pedro no Twitter em novembro de 2018. Na época, ele fez uma publicação com esses emojis para lamentar que um perfil mencionou que eram os menos usados na rede social. “Os emojis menos utilizados não podem ser meios de transporte! Lute pelo que é certo”, escreveu.
Enquanto convivia com a dor da saudade intensa do primogênito, Assunção viu as publicações programadas no perfil dele e começou a interagir com elas. Ali, começou a compartilhar as novidades, detalhes sobre o cotidiano da família e nunca deixou de demonstrar o amor pelo filho.
“Tu sabes que te amo e jamais deixarei de te amar. Posso ficar com a memória reduzida a zero, mas estarás sempre no meu coração. Ontem não houve novidades conosco. Amo-vos tanto meus filhos”, escreveu em uma das interações recentes com o perfil do filho.
Segundo Assunção, essas publicações se tornaram uma forma de “desabafar” com Pedro. “Para atenuar a minha dor, e não podendo falar nele em casa por causa do meu marido, aproveitei a página dele do Twitter onde ele tinha um tuíte automático”, explicou em uma publicação na rede social nesta sexta-feira (11/2).
Essa atitude, acredita a mãe, a ajuda a enfrentar a dor da saudade e faz com que ela sinta Pedro mais perto.
Algumas pessoas costumavam compartilhar ou interagir com as publicações dela nas postagens automáticas do perfil do filho. Ela admite que nunca pensou que “as conversas fossem descobertas, a não ser por amigos íntimos”.
Na quinta-feira, a interação da mãe com o perfil do filho foi compartilhada por um perfil com 2,9 mil seguidores no Twitter e alcançou repercussão inesperada, pois passou a ser compartilhada por diversas pessoas.
“Ontem alguém encontrou uma das minhas conversas , comoveu-se, retuitou e a onda solidária tem sido tão grande que ainda não acabou. Não consigo responder a toda a gente e alguns tuítes que vi mas não respondi ontem, já não os consigo encontrar”, escreveu a aposentada nesta sexta-feira em seu perfil na rede social.
Os inúmeros compartilhamentos surpreenderam Assunção e o filho caçula, que atualmente tem 44 anos. A aposentada passou a receber diversas mensagens de apoio.
“Assunção, que lindo o amor de vocês. Isso é eterno. Mandando muitas energias boas aqui do Brasil”, digitou uma pessoa. “Fico sempre de coração partido quando a leio. Vejo nas suas palavras o amor que sente pelos seus e pelos outros. Ninguém neste mundo está preparado para a perda de um filho”, escreveu outra pessoa.
Para Assunção, as suas mensagens para o perfil do filho ajudaram a “despertar o coração de muitos filhos para o grande amor de mãe”.
Notícia publicada no BBC News Brasil , em 11 de Fevereiro de 2022
A importância da compreensão da imortalidade da alma nos favorece melhor compreender que a vida é uma continuidade, e o que morre é o corpo físico. O espírito continua a ser o “Ser” em toda a sua individualidade.
A falta dessa compreensão causa dificuldade de aceitação desta realidade, e ficamos presos a atitudes e sentimentos que são prejudiciais para aquele que partiu para a Pátria Espiritual.
Mantemos pelo pensamento o espírito preso às vibrações de nossos sofrimentos por sua partida, e por mais que consideremos um ato de amor, essas lembranças e ações, na realidade, são extremamente prejudiciais, pois o espírito após ao seu desencarne passa, naturalmente, por um momento de “perturbação”, que é a transição de um estado para outro, até seu despertamento. E as vibrações que os encarnados devem emitir, em especial os pais, aqui no caso, a mãe, é o amor libertador, trabalhando o entendimento de que não existe idade para desencarnar. Cada um de nós somos seres à parte, que por um período convivemos juntos no plano terreno por uma série de motivos, que só os espíritos que são responsáveis pelo Laboratório Divino da Reencarnação são capazes de entender. Vidas passadas versus comprometimentos individual e coletivo.
A questão é que ainda estamos treinando o verdadeiro amor. O amor desprendido da posse do “meu” pelo egoísmo inconsciente. Ficar alimentando pensamento de inconformação, tristeza e de não aceitação, como também ficar apegado às coisas materiais que nosso ente querido tinha ou gostava de fazer, como uma forma de compensação de senti-lo mais próximo de nós, não é o melhor recurso.
O ideal é a lembrança saudosa, natural e compreensível, mas pautada na prece, com objetivo de ajudar ao nosso ente querido que desencarnou a sentir-se mais aliviado, confortável e fortalecido, para que possa seguir…
O apego é como “provocar a ferida aberta” no espírito, causando sofrimento e prisão.
Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, no Cap. V, item 21, o tema em destaque é sobre a perda de pessoas amadas e morte prematura. Vamos a um trecho bem importante, que nos diz assim:
“Quando a morte vem até vossas famílias, levando, alguns jovens antes dos mais velhos, muitas vezes dizeis: “Deus não é justo, por quanto
sacrifica o que é forte e cheio de vida, para conservar aqueles que viveram muitos anos (…)”
Precisamos compreender que não existe idade para retorno à vida espiritual. O que define o desencarne, dentro de um contexto natural, é a programação pré-estabelecida.
Continuemos a refletir, na mesma obra, Cap. V, Item 21:
“(…) A morte prematura muitas vezes é um benefício que Deus concede àquele que desencarna e que assim fica resguardado das misérias que a vida apresenta, ou das tentações que poderiam causar a sua perdição. Aquele que morre na flor da idade não é vítima da fatalidade, Deus simplesmente julga que lhe é útil não permanecer mais tempo sobre a Terra. (…)”
Mediante a beleza desse capítulo tão consolador, Fénelon, o Espírito que trouxe esta mensagem, deixa uma reflexão para as mães, em especial, dizendo:
“(…) mães, vós sabeis que vossos filhos bem-amados estão perto de vós, sim, eles estão bem perto; seus corpos fluídicos vos cercam, seus pensamentos vos protegem, vossa lembrança os enche de alegrias, mas as vossas dores sem razão os afligem, porque elas denotam falta de fé e porque são uma revolta contra a vontade de Deus. (…)”
As lágrimas da saudade são naturais aos olhos de uma mãe, pedindo a Deus e à Espiritualidade luzes abençoadas em benefício do filho que “desceu na estação da vida” antes dela. Só assim o seu coração pulsará em frequência de amor livre de apego e o filho sentirá ecoar em si o amor verdadeiro de sua mãe como recurso medicamentoso, para sua recuperação.
**Bibliografia: **
KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo – 1ª ed. - Rio de Janeiro: CELD, 2012.