“A ciência das harmonias celestes é como o pedestal grandioso sobre o qual se eleva a augusta figura, Beleza Soberana cujo brilho, muito ofuscante para nossos olhos fracos, permanece ainda velado, mas irradia suavemente através da escuridão que a envolve.” [1]
Léon Denis
Léon Denis é um grande mestre. Nele reconhecemos um amor e, ao mesmo tempo, perquiridor poético da natureza, da beleza e da vida. Isso não se deve ao acaso, pois, desde a infância, em Foug, teve contato com essa grande professora. Denis saia em grandes caminhadas com seu avozinho pelas florestas e, mais adiante, a montanha, o oceano e o céu estrelado serão grandes objetos da sua atenção, como um livro vivo em suas mãos.
Ler Léon Denis é uma experiência única, pois é um mergulho no infinito oceano da criação de Deus. É tentar decifrar os seus mistérios, os porquês, as causas e, por fim, se reconhecer parte do grande todo e, por outro lado, pequenina criatura de Deus. Daí se estabelece uma aparente contradição, pois ao emergir das profundezas do oceano do pensamento Denisiano, a relação grande e pequeno se fundem em um delicioso mistério. A nossa alma, de joelhos, se rende à grandeza da vida e reconhece a sua pequenez.
Para Léon Denis, os diversos elementos que compõem a Natureza são fonte de profundos ensinamentos, um verdadeiro livro onde a alma com silêncio e atenção consegue ler em caracteres sublimes os mistérios da criação. A Natureza, para o mestre de Tours, se assemelha a uma grande biblioteca onde as almas famintas da sabedoria imorredoura de Deus sorvem as alegrias do infinito.
O céu estrelado, manto sagrado e misterioso que se estende sob nossas cabeças, fala-nos da nossa destinação, dos cem mundos por onde vivemos e viveremos. Quem nunca, nas noites calmas e estreladas, não questionou a nossa destinação, o porquê da vida e se embriagou pelos mistérios das lâmpadas acesas pelo infinito? Fonte inspiradora dos poetas e pintores, místicos e filósofos.
E a floresta? Ah, que alegria a alma sente ao embrear por seus caminhos. Um silêncio profundo ao homem se impõe, como se estivesse entrando em um templo sagrado, morada de um grande sábio onde tudo é lição e aprendizado. As vozes e murmúrios lhe alcançam. Ao longe, um pássaro com sua deliciosa melodia; mais perto, o vento farfalha as árvores que sobe aos céus como uma nave de uma igreja. Quanto bem nos faz a natureza? Ao fim da jornada a alma está renovada, embriagada pelas forças misteriosas da natureza, da criação de Deus. O seu convívio é fonte para a saúde da alma.
Como diria Léon Denis, é na montanha que a prece se eleva com maior facilidade. Foi na montanha que o Cristo proferiu o seu mais belo sermão; no Tabor se entretém em diálogos com Moises e Elias em fenômeno de transcendente beleza; no monte das oliveiras, Ele escolheu para orar com seus discípulos uma última vez; e, por fim, no Monte da Caveira, Ele se entregou em holocausto como Cordeiro de Deus. A montanha é um refúgio para os corações doridos e saudosos de Deus.
Se a Natureza é um grande livro, a beleza é a tinta que Deus escolheu para grafá-la e imortalizá-la. Em Deus temos a fonte de toda a beleza e harmonia:
“É a ti, ó Potência Suprema! Qualquer que seja o nome que te deem e por mais imperfeitamente que sejas compreendida; é a ti, fonte eterna da vida, da beleza, da harmonia, que se elevam nossas aspirações, nossa confiança, nosso amor!" [2]
Saibamos, pois, encontrar, no grande livro da natureza, a beleza e a inspiração para a jornada das nossas vidas. E, sendo a vida uma grande jornada, temos em Léon Denis um guia seguro e amoroso. Sigamo-lo!
Referências:
1 - Léon Denis, O Grande Enigma, capítulo 4
2 - Léon Denis, O Grande Enigma, capítulo 1.