Assim como acontece por causa da morte de um ente querido, vivenciar os estágios do luto quando uma relação afetiva chega ao fim é fundamental para lidar melhor com a perda e seguir em frente.
“Algumas pessoas tendem a querer fugir do enfrentamento, procurando rapidamente um novo amor, trabalhando em excesso, distraindo-se de todas as formas para convencer a si mesmas e aos outros que estão bem, fortes, mas a conta chega em algum momento, como um rebote, aí pode ser mais difícil ainda superar”, comenta a psicóloga e terapeuta de casal Triana Portal, de São Paulo (SP)
É importante processar a dor, falar a respeito, compreender seus sentimentos e expressá-los e enfrentar o desconforto vivenciando-o. Trata-se de um processo árduo, mas que facilitará a superação. “Por isso, é importante que as pessoas conheçam como é cada etapa do processo de luto, para reconhecer qual delas está vivenciando e para que possa encontrar estratégias saudáveis para lidar com cada uma”, afirma Joselene L. Alvim, psicóloga especialista em neuropsicologia pelo setor de neurologia do HCFMUSP (Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e coordenadora do curso de especialização em neuropsicologia da Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).
Mas não há regras. Não necessariamente as etapas acontecem de modo sequencial, de acordo com a psicóloga Flávia Teixeira, mestre em saúde coletiva pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e docente da pós-graduação em psicologia hospitalar na mesma instituição. “E não é uma prerrogativa que o indivíduo precise passar por todas. Muitas vezes a pessoa vai e volta algumas vezes em uma mesma fase, até que esteja se sentido emocionalmente”, diz.
“É uma fase que envolve o choque e o impacto pelo término”, conta a psicóloga Gabriela Luxo, mestre e doutora em distúrbios do desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo (SP). É mais intensa para quem leva o “cartão vermelho” —por mais que o relacionamento já estivesse em ruínas, o ponto final sempre provoca um baque.
“Por isso é um estágio marcado por fantasias de que aquilo não pode estar acontecendo, que a outra pessoa está confusa, e ainda há esperanças de que vão reatar. A negação é um mecanismo de defesa do ser humano, pois diante da dificuldade de aceitar a dor, é melhor negá-la para não sofrer”, observa Alvim.
Fase em a pessoa pode ter raiva de si mesma, se estiver sofrendo, e concluir que a responsabilidade pela separação foi dela. “Nesse caso, pode acontecer uma idealização do ex e há uma tendência a procurá-lo com a justificativa de resolver situações práticas, pedir favores, mas na verdade o que tem é vontade de manter contato, afirmar o quanto são íntimos”, diz Portal.
Se foi a outra parte quem provocou ou pediu a separação, principalmente nos casos em que houve infidelidade, há até um desejo de vingança. A pessoa fica hostil, pode perder a confiança nos relacionamentos, sente-se injustiçada, vitimada, não merecedora de tanta dor. “Fala mal do ex para as pessoas, precisa provar para para o mundo o quanto o outro é ruim, liga para tirar satisfações, ofender, ameaçar, reclamar, acusar. É um período muito nocivo e por trás dessa agressividade há muita tristeza”, completa a terapeuta de casal.
Nesse momento do luto a pessoa muda o tom, faz promessas de mudança de comportamento ao outro, perdoa traições, pede chances para tentar novamente, apela para amigos, parentes, advogados, psicólogos, cartomantes. A pessoa faz o que for preciso para que as coisas voltem a ser como eram.
Além do medo de ficar sozinha, tende a existir uma supervalorização do ex, que passa de carrasco para santo de repente. A pessoa pensa que todo sofrimento é pelo amor que sente pelo outro, mas outras circunstâncias podem estar envolvidas: dor da solidão, do abandono, da perda de uma posição social, mágoa pelo fim de uma idealização de relação ou família, entre outras.
A pessoa admite a perda e aceita que não há volta. Entende, enfim, que terá que aprender a viver com o vazio, com as saudades, com a nova realidade. Há um sentimento de fracasso, apatia, falta de esperança e medo são frequentes, bem como pensamentos intrusivos constantes sobre o passado.
É uma fase em que se chora muito e tem a impressão que a dor nunca será aplacada. É importante que amigos e familiares prestem atenção, se a própria pessoa não o conseguir, no fato de a tristeza se mostrar exacerbada, pois pode desencadear uma depressão.
Depois de lágrimas, dor, isolamento, raiva, sofrimento, começa a brilhar uma luz no fim do túnel e é hora de seguir a vida e aceitar a nova realidade, colocar ordem em tudo que foi deixado de lado ou que foi bagunçado durante esse processo. É hora de retomar a atenção dedicada ao trabalho, à casa, às finanças, à saúde física e mental. A partir da assimilação da nova realidade, a pessoa estará pronta para preencher o vazio com outras amizades, planos, sonhos e até, quem sabe, um novo amor.
Para Flávia Teixeira, quando alguém sente dificuldade de viver as fases, ou a maioria delas, podemos pensar em luto complicado que atrapalha a reconstrução da vida. O luto passa a ser parte da vida da pessoa, como se fosse algo crônico que ocupa um espaço muito grande e impede que outras relações e vínculos possam fazer parte de seu contexto. “É como se não houvesse mais sentido para viver, como se a vida ficasse com um enorme vazio. Isso ocorre, em geral, quando a perda acontece de modo repentino e inesperado”, pontua a psicóloga.
Em alguns casos, a pessoa fica fixada em umas das etapas, inconformada, vivendo no passado e incapaz de superar a dor e seguir adiante. “Por isso, é importante uma rede de apoio durante o processo da separação e do luto. A ajuda profissional, de amigos, parentes, colegas de trabalho vai contribuir para o alívio da dor e na reestruturação da vida”, destaca Portal.
Vale lembrar que muita gente aparenta ter refeito a vida em pouco tempo, mas ainda há muitas pendências, mágoas, ciúmes. Uma boa dica para aferir se o luto foi concluído satisfatoriamente é a ausência de sentimentos extremos, como raiva ou carinho. Ou seja, se a pessoa está bem e feliz e nem se lembra direito do ex, é indicativo de que superou a ruptura.
O luto é um processo natural em nossas vidas quando perdemos alguém ou algo importante. Precisamos respeitar esse processo, dar espaço para sentir a dor da perda, não se cobrar ou achar que é preciso acabar logo com nossos sentimentos. O luto tem começo, meio e fim. Não existem regras nem maneiras certas quando se trata de lidar com a tristeza, a raiva, a dor, ansiedade e tantas outras formas de expressar a falta que o outro faz em nossas vidas. “As perdas fazem parte de nossas vidas, aceitá-las é o início do processo em busca de novas experiências, relações e possibilidades. Se sentir dificuldades, não hesite, procure ajuda”, sugere Teixeira.
Notícia publicada no Viver Bem , em 06 de agosto de 2022
Na visão da Doutrina Espírita, no que concerne aos relacionamentos afetivos, podemos afirmar que cada um de nós vivencia as experiências que mais se adequam às suas necessidades de aprendizado, ou seja, todas as pessoas que entram nas nossas vidas trazem um pouco de si e levam um pouco de nós.
Podemos afirmar também que o tempo de permanência é igualmente adequado, pois estamos todos vinculados ainda a necessidades diferentes e o percurso de cada um se renova em termos de vontade sincera e demais requisitos sociais.
Tenhamos em mente que a qualidade do tempo e da atenção que partilhamos com o outro será sempre proporcional àquilo que oferecermos a nós mesmos, lembremos da célebre oração de Francisco de Assis, “é dando que se recebe”.
É uma atenção que precisamos considerar quando estamos numa relação, a de cuidar do outro, naturalmente, mas sobretudo de nós próprios, para que sejamos íntegros e capazes de oferecer o melhor de nós mesmos em todas as ocasiões.
Quanto maior for o nosso empenho em cuidarmos da nossa própria personalidade, entre ajustes e conscientização dos limites que podem ser trabalhados e melhorados, mais perto estaremos de conquistar a harmonia de um relacionamento saudável. Afinal, “a Natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores prazeres que lhe seja concedido sobre a Terra é o de reencontrar corações que simpatizam com o seu.” (Allan Kardec, em “O Livro dos Espíritos”)
Assim, quando este intercâmbio acaba, e uma série de emoções nos invade, estaremos seguros nos vínculos de amor que criamos com responsabilidade e a Espiritualidade Amiga nos sustentará com força e esperança renovadas, para que a nossa dor não assuma proporções inquietantes, mas incentive outras e novas oportunidades de amar e sermos amados.
É importante lembrarmos que a tendência natural do ser humano é buscar a felicidade e que podemos percorrer diversos caminhos até atingirmos esse objetivo, mas somente através da compreensão mais profunda do verdadeiro conceito de amar é que poderemos nos elevar interiormente.
Nesse sentido, Joanna de Ângelis esclarece:
“O ser humano necessita do calor afetivo de outrem, mediante cuja conquista amplia o seu campo de emotividade superior, desenvolvendo sentimentos que dormem e são aquecidos pelo relacionamento mútuo, que enseja amadurecimento e amor.
Concomitantemente, espraia-se esse desejo de manter contato com as expressões mais variadas da vida, nas quais haure alegria e renovação de objetivos, por ampliar a capacidade de amar e de experienciar novas realizações.
O fluxo da vida humana se manifesta através dos relacionamentos das criaturas umas com as outras, contribuindo para uma melhor e mais eficiente convivência social. Nas expressões mais primárias do comportamento, o instinto gregário aproxima os seres, a fim de os preservar mediante a união de energia que permutam, mesmo que sem se darem conta.
O desafio do relacionamento é um gigantesco convite ao amor, a fim de alcançar a plenitude existencial.” (Divaldo Pereira Franco, em “O despertar do Espírito”)
Em conclusão, o artigo em questão levanta as principais etapas emocionais desencadeadas num processo de perda afetiva, e salientamos a importância de acompanhar a evolução desses processos internos com carinho.
Diremos ainda que é sempre tempo de recomeçar. Ame-se! Valorize-se! Dê-se a chance de continuar e ser feliz! Acredite e confie sempre no Alto! Lance mão de todos os recursos possíveis, pois somos a nossa maior construção, muito amados por Aquele que nos criou perfectíveis e irremediavelmente voltados à evolução.
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*Mabel Perito Velez é formada em administração e colabora com o espiritismo.net.