Se o nosso organismo físico apresenta alguma infecção, não questionamos a existência do vírus ou da bactéria, mesmo sem vê-los. Sabemos que os nossos sentidos não conseguem captar todas as informações do mundo que nos cerca. Existe um mundo invisível1 e se a nossa força visual não tivesse sido aumentada pelas descobertas da óptica, que saberíamos do Universo na hora presente ?2 A nossa racionalidade nos leva a depreender que ainda precisamos de sentidos ou equipamentos que consigam demonstrar a existência de outros seres ou matérias em nosso entorno, imperceptíveis hoje para nós. Provas são necessárias!
Nesse mundo que se agita em torno de nós, seres sobre-humanos, mas não sobrenaturais, vivem junto de nós […], só manifestando a sua existência em condições determinadas, sob a ação de leis naturais, exatas […]3 . Segundo Léon Denis, diversos cientistas comprovaram a existência e a comunicabilidade dos Espíritos, embora outros rejeitem ou neguem. O magnetismo estudado e praticado secretamente em todas as épocas da História, vulgarizou-se sobretudo nos fins do século XVIII4 , e os fenômenos espíritas foram observados rigorosamente por pesquisadores renomados tais quais William Crookes e Charles Richet.
Crookes, dentre suas pesquisas, com o auxílio da médium Florence Cook, observou durante muitos meses variados fenômenos mediúnicos, inclusive materializações, tais quais: movimentação de corpos pesados, execução de peças musicais sem contato humano, aparições de mãos em plena luz, aparições de formas e figuras, etc5 . Outros investigadores, juntamente a ele, presenciaram a aparição diária do Espírito Kate King, que mostrou por alguns instantes, as aparências de um corpo humano provido de órgão e de sentidos, conversando6 e submetendo-se às experiências como ausculta, fotografia e toque7 .
Os fenômenos mediúnicos são possíveis graças ao corpo espiritual, também chamado de períspirito ; um envoltório fluídico que liga a alma ao corpo físico. Ele é um verdadeiro reservatório de fluidos, que a alma põe em ação pela sua vontad e8 . No Espírito encarnado, esse corpo transmite à alma as impressões por meio dos sentidos e, igualmente, comunica ao corpo os sentimentos e pensamentos do Espírito. O períspirito se mantém junto à alma após a desencarnação, pois que é inseparável dela.
A elevação dos sentimentos, a pureza da vida, os nobres impulsos para o bem e para o ideal, as provações e os sofrimentos pacientemente suportados, depuram pouco a pouco as moléculas perispiríticas, desenvolvem e multiplicam as suas vibrações. Como uma ação química, eles consomem as partículas grosseiras e só deixam subsistir as mais sutis, as mais delicadas9 .
A nobreza e a dignidade da alma refletem-se sobre o períspirito, tornando-o mais harmonioso nas formas e mais etéreo 10 . Por isso, quanto mais elevados forem os sentimentos e pensamentos, mais leve será o corpo espiritual, e às esferas mais altas o Espírito irá após a sua desencarnação. Isso não significa que médiuns são as pessoas que apresentem o períspirito menos denso, mas, sim, aquelas que apresentam sensibilidade, que sentem, em maior ou menor grau, a influência dos Espíritos por meio de seus corpos espirituais.
Erradamente se consideraria a faculdade mediúnica como privilégio ou favor. Cada um de nós […] traz em si os rudimentos de uma mediunidade, que se pode desenvolver […]. As aptidões de certos médiuns célebres explicam-se pela natureza particularmente maleável […] de seu organismo fluídico, que, assim, se presta admiravelmente à ação dos Espíritos11 .
A imortalidade da alma, inicialmente provada por Nosso Senhor Jesus na ressurreição, trouxe consigo consequências filosóficas e morais. O Espiritismo, sob o tríplice aspecto da Ciência, Filosofia e Religião, comprovou-a cientificamente, demostrando que a morte é mera transformação 12 , como o aluno que deixa o uniforme ao se formar na escola. E sabemos que quando saímos da escola, ainda temos muito a aprender, e nova roupagem se faz necessária para continuar a caminhada de aprendizado. Desse fato e do ensino dos Espíritos deduz-se ainda a certeza da pluralidade de nossas existências terrestres 13 , isto é, da reencarnação.
O Espiritismo atende os anseios do coração e da razão, fazendo do progresso na caridade sábia o alvo da vida e mostrando na elevação dos seres o resultado de seus próprios esforços. Ensinando que uma igualdade absoluta e uma solidariedade íntima ligam os homens através das suas vidas coletivas […]14 . Assim sendo, o homem que vende tudo o que tem neste mundo (Mateus 19:2115 ), libertando-se do egoísmo e do orgulho, satisfazendo o bem, cria em torno de si uma atmosfera de paz, de calma e de serenidade moral pela eternidade16 .
REFERÊNCIAS
DENIS, Léon. Depois da Morte : exposição da Doutrina dos Espíritos: solução científica e racional dos problemas da vida e da morte: natureza e destino do ser humanos; as vidas sucessivas. 28. ed. – 7 imp. Brasília: FEB, 2019.
DIAS, Haroldo Dutra (Trad.). O Novo Testamento . 1.ed. – 11 imp. – Brasília: FEB, 2020.
1 Léon Denis aborda O mundo invisível na terceira parte da obra: Depois da morte , nos seguintes capítulos: XV) A Natureza e a Ciência, XVI) Matéria e força. Princípio único das coisas, XVII) Os fluidos. O magnetismo, XVIII) Fenômenos espíritas, XIX) Testemunhos científicos, XX) O Espiritismo na França, XXI) O períspirito ou corpo espiritual, XXII) Os médiuns, XXIII) A evolução perispiritual, XXIV) Consequências filosóficas e morais, XXV) O Espiritismo e a Ciência, XXVI) Perigos do Espiritismo, XXVII) Charlatanismo e venalidade, e XXVIII) Utilidade dos estudos psicológicos.
2 DENIS, 2019, p.130.
3 DENIS, 2019, p.133.
4 DENIS, 2019, p.134.
5 DENIS, 2019, p.142.
6 DENIS, 2019, p.142.
7 Segundo Léon Denis, a obra Researches in the Phenomena of Spiritualism relata tais experimentos de Willian Crookes.
8 DENIS, 2019, p.155.
9 DENIS, 2019, p.154.
10 DENIS, 2019, p.154.
11 DENIS, 2019, p.159.
12 DENIS, 2019, p.163.
13 DENIS, 2019, p.163.
14 DENIS, 2019, p.164.
15 “E disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus; vem e segue-me.” (DIAS, 2020, p.115)
16 DENIS, 2019, p.179.