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  • Coluna: Em dia com o mundo 02

A noção de tempo e espaço de quem está em mais amplo estado de lucidez espiritual, conduz à perspectiva do Universo como verdadeira pátria espiritual. As circunstâncias e compromissos culturais refletem a experiência pontual da jornada evolutiva do Espírito. Entretanto, Kardec destaca que as percepções espirituais variam conforme o grau de amadurecido dos Espíritos, tanto em aspectos intelectuais quanto morais.

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Brasil: patriotismo em questão**

Casimiro Cunha foi um poeta fluminense e espírita dedicado. Nascido em Vassouras (RJ), em 14 de abril de 1880, ficou cego em razão de um acidente ocorrido aos 14 anos. Primeiro ficou cego de um olho e dois anos depois perdeu a outra visão. Aos 34 anos, faleceu em 1914. Psicografando significativa obra literária pelo médium Francisco Cândido Xavier, Cunha registra uma poesia leve, de temas cotidianos, com simplicidade linguística e profunda expressividade de sentimentos.

Na década de 1940, Casimiro escreveria Cartas do Evangelho, uma coleção de reflexões à luz da conexão entre temas da vida e lições do evangelho do Cristo. Na obra mencionada, vemos destacado singular poesia sobre o BRASIL:

Plantou Ismael no Brasil

Uma bandeira de amor.

Feliz quem pode enxergar

O seu divino esplendor.

Estandarte do Evangelho,

Cor do luar da esperança,

Que vem trazer de Jesus

A doce e eterna aliança.

Bendito seja o operário

Das oficinas da luz

Que colabore na paz

Da Terra de Santa Cruz.

Porque do Brasil imenso

Que Ismael ama e conduz,

Renascerão para o mundo

As leis do amor de Jesus.

A singeleza poética de Casimiro nos leva a refletir sobre uma temática oportuna: o patriotismo, que não deve ser confundido com o governismo.

No item 317 de O Livro dos Espíritos, vemos Allan Kardec questionar os Espíritos sobre a temática:

  1. Após a morte, conservam os Espíritos o amor da pátria?

“O princípio é sempre o mesmo. Para os Espíritos elevados, a pátria é o Universo. Na Terra, a pátria, para eles, está onde se ache o maior número das pessoas que lhes são simpáticas.”

A noção de tempo e espaço de quem está em mais amplo estado de lucidez espiritual, conduz à perspectiva do Universo como verdadeira pátria espiritual. As circunstâncias e compromissos culturais refletem a experiência pontual da jornada evolutiva do Espírito. Entretanto, Kardec destaca que as percepções espirituais variam conforme o grau de amadurecido dos Espíritos, tanto em aspectos intelectuais quanto morais.

A noção do patriotismo - esse amor pela terra, pela cultura, e pelos hábitos de uma determinada nação, desenvolve-se pelos padrões educacionais que buscam estabelecer noções de civilidade em as quais os valores de uma nação são desenvolvidos como formas de convivência social e constituição da pertinência nacional. É um sentimento que inspira contribuições e críticas a benefício do progresso social de um povo.

Mas o sentimento patriótico não se deve confundir com visão ideológica particular, ou com filiações partidárias específicas - outros tipos de vinculações afetivas e intelectuais.

Cada povo tem sua herança cultural, seu modo de ser e de agir. E no concerto dos povos, o Brasil fulgura como ambiente de florescência do Evangelho Redivivo.

Seria um erro idealizar o trabalho como findo. Considerar os desafios sociais, as deficiências econômicas, os problemas políticos como atestados de impossibilidade da Pátria do Evangelho seria confundir o desafio com sua conclusão.

A ambiência brasileira com seus convites de fraternidade entre os seres humanos não pode ser simplificada às circunstâncias correntes de conflito e de inequidades. Mas se é preciso enfrentar os problemas sociais, é igualmente necessário compreender o momento espiritual em que os valores humanitários assentam no Brasil o desafio de transformar o Evangelho em ação.

Reconhecer a bandeira do amor, plantada por Ismael, como diretriz de convivência não implica olvidar o necessário debate em busca de melhoria e progresso. Mas para enxergar o convite divino é necessário agir para além de meramente criticar. Cada indivíduo é convidado a refletir sobre o contributo individual, para que a coletividade seja beneficiada. Um gesto de paz, um ato de solidariedade, uma ponderação justa, uma palavra assertiva - são todos modos de contribuição para o progresso geral. Mas deslindar o valor do patriotismo significa superar o egoísmo social e contribuir para o bem-estar da humanidade - vocação natural da pátria brasileira.

Com seus desafios e problemas o Brasil é oficina de aprimoramento. É do esforço individual e coletivo de promover o entendimento, de debater as melhorias, de vivênciar a justiça e de práticar a caridade, conforme a entendia Jesus, que emergirá um ambiente de cooperação em que as opiniões e os pontos de vistas encontrarão oportunidades de debater e criar, de discutir e aprimorar. Ordem - o valor do lábaro nacional, não significa estagnação. É coordenação de esforços, é dialética construtiva, é alteração de conceitos, práticas e hábitos que podem engendrar o Progresso - igualmente representado.

O amor à pátria não é concordância com o governo, nem discordância. O patriotismo é atitude que cria ação, é pensamento que transforma ideias, é esforço de melhoria que considerando a oportunidade da vida, reconhece a necessidade de progredir tanto individual quanto coletivamente.

Neste mês, que a convenção humana dedicou às reflexões sobre a pátria Brasil, saibamos compreender a realidade dos problemas, saibamos debater as necessidades de mudanças e de transformações. Mas que não deleguemos para os outros a urgência de fazer o que nos cabe na construção de uma nação de justiça, de amor e de caridade, recordando o convite do poeta Casimiro Cunha:

Bendito seja o operário

Das oficinas da luz

Que colabore na paz

Da Terra de Santa Cruz.

Porque do Brasil imenso

Que Ismael ama e conduz,

Renascerão para o mundo

As leis do amor de Jesus.

Referências:

XAVIER, Francisco Cândido. Cartas do Evangelho. Poesias Mediúnicas. Pelo Espírito Casimiro Cunha. São Paulo: Lake. 1947. p. 56

KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Tradução de Guillon Ribeiro. Brasília: FEB. 2013.