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  • Cientistas conseguem reativar cérebros de porcos quatro horas após morte

Luiz Antonio Paiva comenta notícia de como cientistas americanos ligados à Universidade Yale reativaram parcialmente cérebros de porcos quatro horas depois de os animais terem sido abatidos. As descobertas devem ampliar o debate sobre a barreira entre a vida e a morte, além de fornecer novas maneiras de pesquisar doenças como a de Alzheimer.

  • Data :25 May, 2020
  • Categoria :

James Gallagher

Repórter de saúde e ciência da BBC News

Cientistas americanos ligados à Universidade Yale reativaram parcialmente cérebros de porcos quatro horas depois de os animais terem sido abatidos.

As descobertas devem ampliar o debate sobre a barreira entre a vida e a morte, além de fornecer novas maneiras de pesquisar doenças como a de Alzheimer.

O estudo mostrou que a morte de células cerebrais poderia ser interrompida e que é possível até mesmo restabelecer algumas conexões no cérebro.

Mas não havia sinais do cérebro reativado que indicassem consciência.

As descobertas desafiam a ideia de que o cérebro entra em declínio irreversível poucos minutos depois de interrompido o fornecimento de sangue.

O que os cientistas fizeram?

Foram coletados 32 cérebros de porcos em um matadouro.

Quatro horas depois, os órgãos foram conectados a um sistema feito pela equipe da Universidade Yale, nos Estados Unidos.

Ele bombeava em ritmo pré-determinado, para imitar o pulso, um líquido especialmente projetado em torno do cérebro, que continha um sangue sintético para transportar oxigênio e drogas para retardar ou reverter a morte das células cerebrais.

Os cérebros de porco receberam o coquetel restaurador por seis horas.

O que o estudo mostrou?

O estudo, publicado na revista Nature, mostrou uma redução na morte das células cerebrais, a restauração dos vasos sanguíneos e alguma atividade cerebral.

Os pesquisadores descobriram sinapses em funcionamento - as conexões entre as células do cérebro que permitem a comunicação.

Os cérebros também mostraram uma resposta normal à medicação e consumiram a mesma quantidade de oxigênio que um cérebro normal.

Isso tudo dez horas depois de os porcos serem decapitados.

Um eletroencefalograma, no entanto, não detectou sinais de atividade elétrica, o que sinalizaria consciência ou percepção.

Eles ainda eram, fundamentalmente, cérebros mortos.

O que podemos entender a partir disso?

Essa pesquisa afeta ideias sobre como o cérebro morre, algo que muitos pensavam que acontecia rapidamente e irreversivelmente sem o suprimento de oxigênio.

“A morte celular no cérebro ocorre através de uma janela de tempo mais longa do que pensávamos anteriormente”, afirmou Nenad Sestan, professor de Neurociência de Yale.

“O que estamos mostrando é que o processo de morte celular é um processo gradual. E que alguns desses processos podem ser adiados, preservados ou mesmo revertidos.”

Esses experimentos são éticos?

Os cérebros dos porcos vieram da indústria de carne suína, logo, os animais não foram criados em laboratório para este experimento.

Mas os cientistas de Yale estavam tão preocupados que os cérebros porcos pudessem recobrar consciência que aplicaram drogas para reduzir qualquer atividade cerebral.

E a equipe monitorava constantemente os cérebros para ver se havia algum sinal de funções cerebrais superiores.

Nesse caso, eles teriam usado anestesia e encerrado o experimento.

Estudiosos de ética defenderam também na Nature que novas diretrizes são necessárias para este campo, porque os animais usados para pesquisa podem acabar em uma “área cinzenta - não viva, mas não completamente morta”.

Qual é o objetivo?

O trabalho terá um efeito positivo imediato para os cientistas que estudam o cérebro e doenças com a de Alzheimer.

O órgão é a estrutura mais complexa do universo conhecido, mas técnicas como o congelamento de fatias do cérebro ou o crescimento de colônias de células cerebrais em um prato não permitem que os pesquisadores explorem toda a fiação 3D do cérebro.

A longo prazo, os cientistas esperam encontrar melhores formas de proteger o cérebro após traumas como um AVC.

Mas os pesquisadores dizem que ainda é muito cedo.

“Nós ainda não sabemos se seríamos capazes de restaurar a função cerebral normal”, disse Sestan, professor de Neurociência de Yale.

O estudo muda o significado da morte?

Por ora, não, mas alguns especialistas em ética médica dizem que devemos debater o tema agora, pois as pessoas que têm morte cerebral são uma importante fonte de órgãos para transplante.

Dominic Wilkinson, professor de ética médica e consultor neonatologista em Oxford, disse: “Uma vez que alguém tenha sido diagnosticado como morte cerebral, não há como a pessoa se recuperar. A pessoa se foi para sempre.”

“Se, no futuro, fosse possível restaurar a função do cérebro após a morte, para trazer de volta a mente e a personalidade de alguém, isso teria, é claro, implicações importantes para nossas definições de morte.”

Mas esse não é o caso atualmente.

A professora Tara Spiers-Jones, vice-diretora do Center for Discovery Brain Sciences da Universidade de Edimburgo, disse que o estudo está longe de preservar a função do cérebro humano após a morte.

“É, em vez disso, uma preservação temporária de algumas das funções celulares mais básicas no cérebro dos porcos, e não a preservação do pensamento e da personalidade.”

Os cérebros dos porcos poderiam estar conscientes?

Neste experimento, a resposta é claramente não. Os cérebros estavam efetivamente silenciosos.

Notícia publicada na BBC News Brasil, em 17 de Abril de 2019

Luiz Antônio Paiva, comenta*

Conquanto, de uma maneira geral, a notícia seja um tanto sensacionalista, fazendo inferências que o experimento não contempla, ela de certa forma, reabre uma controvérsia antiga sobre os sinais definitivos da morte. Até agora, a ausência da atividade cerebral, manifestada por ausência de ondas no E.E.G.(eletroencefalograma) era e continua sendo, a prova final de morte, a permitir inclusive a retirada de órgãos do corpo para transplante.

A Doutrina Espírita afirma, por outro lado, que a morte acontece pelo desligamento definitivo do Espírito do corpo, após o rompimento dos laços fluídicos que o vinculavam a este. A ausência de atividade cerebral como indicativo de morte tem pregado peças, em um outro caso, quando mais de um morto declarado recobra a vida. Também o tempo considerado máximo para o cérebro ficar sem oxigênio, sem morrer ou lesionar, tem sido rompido por muitos casos que, inobstante, insistem em recobrar a vida é a consciência.

Este experimento levanta novamente a questão da fronteira definitiva entre a vida e a morte, que por enquanto, a rigor, permanece numa zona indefinida.

Como explicar os casos de extensa e extremada hipóxia cerebral que se recuperam indenes? Como explicar as aparentes mortes cerebrais que são revertidas? Parece que a explicação espírita do rompimento dos laços fluídicos é, de fato, a última fronteira, e tudo que fica aquém disso será, embora raro, passível de reversão.

Voltando ao artigo que comenta o experimento, como toda abordagem materialista da personalidade humana, coloca esta como função de um órgão, o cérebro, que embora seja de fato complexo, não ostenta anatômica e fisiologicamente nada que lhe faculte produzir o milagre do espírito humano. Como poderia o efeito ser maior que a causa e de natureza tão diversa desta?

O título da reportagem, enfim, não faz jus aos resultados do experimento: Cientistas conseguem reativar… Não conseguiram reativar nada e nem foi este o objetivo do experimento.

Para finalizar, o último parágrafo da notícia explica tudo, quando transcrevem a observação de outra experimentadora, Tara Spiers-Jones, do Center for Discovery Brain Sciences da Universidade de Edimburgo, que disse que o estudo está longe de preservar a função do cérebro humano após a morte.

“É, em vez disso, uma preservação temporária de algumas das funções celulares mais básicas no cérebro dos porcos, e não a preservação do pensamento e da personalidade.”

  • Luiz Antonio Paiva é espírita, médico psiquiatra e ex-presidente da Ame Goiânia.